Bolsonaro questiona vacinas e sugere que Queiroga fez tratamento ineficaz
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) voltou a questionar hoje a eficácia das vacinas — a melhor forma de conter a pandemia —, sugerindo, sem provas, que farmacêuticas teriam algum "interesse comercial" por trás da aplicação da dose de reforço. Ele também insinuou que o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, que cumpre quarentena nos Estados Unidos, fez uso de medicamentos ineficazes contra a covid-19.
"Por que essa pressão por vacina? Há interesse comercial? Não era suficiente uma ou duas doses? Se tem terceira, tem que ser de graça. Não é direito do consumidor?", disse Bolsonaro durante sua live semanal, pondo em xeque a importância da vacinação.
Ao falar de uma suposta "pressão" pela terceira dose, o presidente trata de forma enganosa o real quadro da aplicação da dose de reforço.
Até agora, a dose de reforço está sendo aplicada em idosos — o que, inclusive, passou a ser uma política do próprio Ministério da Saúde, divulgada na terça-feira (28). O governo já havia anunciado, em agosto, a terceira dose para idosos acima de 70 anos e imunossuprimidos, como pessoas com câncer ou que passaram por transplantes. O estado de São Paulo está aplicando o reforço também em profissionais de saúde.
A indicação de uma dose de reforço para toda a população ainda precisa de mais estudos.
Caso Queiroga
O presidente ainda sugeriu que o ministro Marcelo Queiroga, infectado pela covid-19, teria feito "tratamento inicial" — ou "precoce", como costumava chamar — nos EUA, onde está cumprindo quarentena.
Na live da semana passada, o presidente já havia usado o caso de Queiroga para lançar desconfiança de forma infundada sobre as vacinas contra a covid-19. Todos os imunizantes que estão sendo aplicados no Brasil são seguros, eficazes e aprovados pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).
Quero que a imprensa, quando Queiroga voltar ao Brasil... Vocês não vão ter coragem de perguntar, mas vai ter repórter que vai. Senhor Marcelo Queiroga, o senhor está vacinado com as duas doses, é um homem que nunca foi visto sem máscara no Brasil e contraiu o vírus. Ninguém quer dizer que a vacina não serve para nada. Pergunte para ele, se ele fez algum tratamento inicial nos EUA.
Jair Bolsonaro, durante live
Procurado pelo UOL, o Ministério da Saúde informou apenas que Queiroga "tomou as medicações prescritas pelo médico", sem especificar quais. Também afirmou que o ministro passa bem e está há mais de uma semana sem apresentar sintomas da covid-19, tendo realizado hoje um novo teste. O resultado deve sair "nos próximos dias", ainda de acordo com a pasta.
Ainda não existe tratamento comprovadamente eficaz para a fase inicial da covid-19. A mentira é recorrente em declarações de Bolsonaro.
A melhor forma de combater o vírus é por meio da vacinação — que, embora não impeça o indivíduo de contrair e transmitir a doença, reduz as chances de hospitalização e morte. Por isso, é necessário manter medidas de isolamento social, o uso de máscaras e a higienização constante das mãos.
Desinformação
Ao questionar a importância da vacinação, Bolsonaro ainda disse que a vacina "não é recomendável" para quem já foi infectado porque, segundo ele, quem contraiu o coronavírus "tem mais anticorpos do que qualquer vacina" — o que não está provado no caso da covid-19. O presidente costuma usar esse argumento para justificar o fato de não ter se imunizado ainda.
Ao contrário do que diz Bolsonaro, mesmo quem já foi infectado pela covid-19 precisa se vacinar, já que ainda não se sabe quanto tempo dura a imunidade gerada pelo contágio, nem qual a amplitude da proteção contra novas variantes — estes temas ainda estão sendo estudados.
Além disso, é possível pegar covid-19 mais de uma vez. Um estudo recente do CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças, na sigla em inglês), órgão de saúde pública dos EUA, diz que não vacinados têm o dobro do risco de reinfecção.
Para justificar suas declarações, o presidente citou uma reportagem do jornal El País sobre infectados gerarem anticorpos para o resto da vida, feita com base em um artigo científico publicado na revista Nature. No entanto, Bolsonaro omitiu que a publicação afirma que a presença de anticorpos no organismo nem sempre significa que a pessoa esteja imune a uma reinfecção e que o estudo não identificou se eles conseguem neutralizar as variantes do coronavírus.
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