'Médico tem autonomia, mas não para fazer o que quer', afirma Dourado
O médico e advogado Daniel Dourado disse hoje que o princípio da autonomia médica tem sido usado para justificar que os médicos podem fazer o que querem, ou seja, serve como escudo para receitar o tratamento precoce.
"Esse princípio de autonomia tem sido usado como uma forma de escudo para situações que vão além da autonomia, para que os médicos pudessem usar o tal do tratamento precoce, com drogas que não funcionam contra a covid. O médico está lançando mão da autonomia dele para prescrever o que ele quer. É bom deixar isso claro, o médico tem autonomia, mas não tem autonomia para fazer o que quer, ele não pode simplesmente fazer um experimento no paciente, sobretudo sem o paciente saber", afirmou durante o UOL Debate sobre a Prevent Senior, na manhã desta quinta-feira (30).
O médico sanitarista e ex-presidente da Anvisa, Gonzalo Vecina, corroborou com a opinião de Dourado. Para ele, "não existe autonomia para matar". "Existe autonomia para curar e ela está cingida por primeiro não fazer o mal. Esses medicamentos não têm comprovação científica e têm efeitos colaterais", afirmou também durante o UOL Debate.
Segundo Dourado, houve influência do governo federal para que os médicos usassem o tratamento precoce. "Houve uma influência danosa do Ministério da Saúde incentivando e influenciando os médicos a tomarem essas condutas".
O médico e professor da FGV Walter Cintra lembrou que a profissão médica é regulamentada, e isso significa que existe limites para a atuação. "Ele não faz o que bem entende [..] a responsabilidade do médico quando ele prescreve um medicamente é única e exclusivamente dele, ele não pode dizer 'olha, eu prescrevi esse medicamento, porque eu fui obrigado'. Em última análise, ele pede demissão e não prescreve, afirma. " A medicina precisa ter referências e bases científicas. Por isso que é importante que órgãos como Anvisa, Ministério da Saúde e os conselhos de classe deem informações baseadas na ciência para que os médicos possam tomar a melhor decisão", completa.
Para Vecina, o SUS é a saída. "Eu acho que temos que aprimorar o SUS. O SUS é a saída [..] Há uma discussão muito grande hoje sobre planos meia-boca de saúde. Uma coisa que nós temos que aprender com essa crise da Prevent Senior é que [..] quando você deixa o mercado fazer o que ele quer fazer, o mercado mata as pessoas. Então, plano meia-boca nem pensar, pelo contrário, nós teríamos que colocar mais exigências para garantir que essa assimetria de informação não fizesse que as pessoas que querem ganhar dinheiro, ganhar dinheiro e que se ralhe a população. Responsabilidade do estado nisso é fundamental", afirma,
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