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Homens transmitem mais covid que as mulheres, diz geneticista da USP

Colaboração para o UOL

01/10/2021 10h20

Um estudo realizado pela USP (Universidade de São Paulo) observou que os homens têm uma maior tendência de transmitir o vírus causador da covid-19 em comparação com as mulheres. A revelação foi feita pela geneticista Mayana Zatz em entrevista ao UOL News.

Segundo Zatz, a pesquisadora Maria Rita Passos-Bueno comparou a carga viral entre ambos os sexos de amostras colhidas via nasofaringe — que é o teste em que se insere um cotonete no orifício nasal — e o outro tipo de testagem através da coleta da saliva. Ela explica que, no primeiro caso, não houve diferença na carga viral entre os dois gêneros, mas, ao analisar as amostras salivares, constatou-se que os homens "têm cerca de 10 vezes mais carga viral que as mulheres".

O resultado é parte de um estudo genético com casais em que um foi infectado pelo coronavírus e o outro não, para compreender como funciona a resposta imunológica ao vírus. No específico a maior transmissividade da doença por pessoas do sexo masculino, a geneticista diz que dos casos analisados em 943 deles o vírus foi transmitido pelo homem e 660 pela mulher.

Sobre o porquê dessa disparidade, ela diz que "os homens têm tendência de usar menos máscaras e de não manter distanciamento social". Ainda, a pesquisadora da USP aponta alguns estudos internacionais que revelam o fato de os homens se vacinarem menos que as mulheres, e conclui que eles representam "um risco maior para a população e precisam se cuidar mais".

Por que algumas pessoas são 'imunes' à covid-19?

No UOL News de hoje, a geneticista Mayana Zatz falou sobre o estudo realizado pela USP com casais em que um deles contraiu o coronavírus e o outro não. De acordo com a pesquisadora, foram estudados alguns genes que têm relação com o sistema imune e, ao comparar os casais em que apenas um deles foi infectado, foram encontradas diferenças nas células chamadas de "natural killers" — "assassinos naturais" em tradução livre —, que são as primeiras células acionadas pelo organismo ao entrar em contato com algum tipo de infecção.

"Quando comparamos casais onde um teve e outro não, achamos dois genes que interagem com as células que a gente chama de 'natural killers', primeiras células acionadas quando temos infecção. Observamos que as diferenças nesses genes explicaria que pessoas suscetíveis [ao coronavírus] têm respostas mais atrasadas, menos eficiente, enquanto naqueles que não se infectaram, essas células são mais eficientes", explicou.

A geneticista salienta, no entanto, que esse estudo foi conduzido em 2020, antes do surgimento da variante delta do coronavírus e, portanto, "a gente não sabe se essa resposta seria igual hoje".

Ela explica que o estudo terá continuidade e o próximo passo é analisar amostras sanguíneas de pessoas que tiveram covid-19 de forma leve ou não tiveram, pessoas naturalmente resistentes à doença. Nos laboratórios de segurança, eles irão infectar essas linhagens com covid para tentar avançar nos conhecimentos e compreender por que algumas pessoas infectadas apresentam problemas diferentes, como no sistema muscular ou perda de memória, por exemplo.

"Vamos continuar esse estudo, que é algo de a longo prazo, com a seguinte ideia: Nós conseguimos coletar amostras de 15 pessoas de 100 a 114 anos que ou tiveram formas leve de coronavírus ou não tiveram, pessoas que são naturalmente resistentes. A partir do sangue [coletado] a gente consegue reprogramar as células sanguíneas. Nós coletamos essas células e vamos no laboratório identificar diferentes tipos de células e, no laboratório, vamos infectar essas linhagens com coronavírus. Com isso a gente pretende avançar nos conhecimentos do por que algumas pessoas são infectadas e têm perda de memória, outros têm problemas muscular, outros têm problemas cardíacos, então isso pode nos trazer respostas importantes".

Por fim, Mayana Zatz disse haver uma "tendência familiar" naqueles que possuem uma maior resistência natural ao coronavírus, mas não se trata de uma herança hereditária. Segundo a profissional, é algo mais relacionado a uma "herança complexa", como o risco para ter hipertensão, por exemplo, em que o fato de um familiar ser hipertensivo não é certeza de que você também será, embora exista uma maior possibilidade de ser.