Cientista da Fiocruz diz que Prevent Senior atendeu a 'governante maluco'
Líder do primeiro estudo que mostrou que a cloroquina não é eficaz no tratamento da covid-19, o infectologista da Fiocruz Amazônia Marcus Lacerda relatou, em entrevista ao jornal O Globo neste domingo (3), pressões sofridas pela operadora de plano de saúde Prevent Senior.
"Eu poderia escrever uma crônica sobre a Prevent Senior, mostrando como um serviço privado de saúde se presta ao interesse de atender um governante maluco, mas eu procurei nunca nominar pessoas e evitei algumas situações", afirmou o cientista, que está lançando nesta segunda (4) o livro de crônicas "Quarentena do Rio Negro".
A operadora entrou no foco da CPI da Covid após denúncias de um grupo de médicos de que a empresa ocultou a morte de pacientes com a doença durante um estudo com o uso de medicamentos ineficazes. O dossiê também relata que a Prevent Senior induziu uma competição entre médicos para impulsionar a prescrição do "kit covid".
O pesquisador contou na entrevista ter recebido ataques pessoais por parte da Prevent Senior:
"Na época teve uma pessoa da Prevent Senior que foi a um debate pouco depois que eu publiquei meu artigo (sobre a cloroquina), e ela afirmou textualmente que nosso estudo publicado não tinha aprovação ética. Fizeram isso para semear a discórdia e a dúvida. Quando eles viram em uma revista séria alguém publicando um estudo que desacreditava o que eles tinham feito, resolveram atacar pessoalmente".
Lacerda mencionou ainda ao jornal o Globo uma suposta relação da Prevent Senior com o chamado "gabinete do ódio", formado por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), responsável por ataques em redes sociais.
"Eles se relacionavam um pouco com o 'gabinete do ódio'. Aparentemente tinha uma interlocução muito fluida ali. Mas eu não tenho muito dinheiro para pagar advogados e poder falar de todo mundo abertamente. Então, nas minhas crônicas, eu não tenho ataques muito nominais e frontais".
Lacerda precisou andar com escolta armada depois que ele e outros pesquisadores receberam ameaças de morte porque o estudo que realizaram indicava que a cloroquina não apenas era ineficaz, como poderia apresentar riscos aos pacientes infectados pelo coronavírus.
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