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Saúde demite diretora de hospital que revelou pressão para manter contrato

Fachada do Hospital Federal Cardoso Fontes, na zona oeste do Rio de Janeiro - Fernando Frazão/ Agência Brasil
Fachada do Hospital Federal Cardoso Fontes, na zona oeste do Rio de Janeiro Imagem: Fernando Frazão/ Agência Brasil

Igor Mello

Do UOL, no Rio

16/11/2021 16h19

O Ministério da Saúde oficializou hoje (16) a demissão da diretora do Hospital Federal Cardoso Fontes, na zona oeste do Rio. Ana Paula Fernandes da Silva denunciou ter recebido pressões da Superintendência da pasta no Rio de Janeiro para manter um contrato suspeito com uma empreiteira.

A exoneração foi publicada no DOU (Diário Oficial da União). Em seu lugar, foi nomeada a médica Zenilde Fernandes Mendes, que já havia comandado a unidade.

Em outubro, Ana Paula Fernandes relatou ter sofrido pressões vindas da Superintendência do Ministério da Saúde no Rio de Janeiro para manter o contrato com a Plano Construções, empresa responsável por uma obra na unidade de saúde. Há suspeita de que o contrato tenha irregularidades, e o assunto chegou a ser investigado pela CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Pandemia no Senado.

"Na verdade, algumas ligações, enfim. Mas é um assunto bastante complicado pra gente falar, né? Eu fico muito exposta", disse ela à TV Globo, ao ser questionada sobre as pressões.

O UOL apurou que Ana Paula relatou a pessoas próximas ter recebido uma ligação do próprio superintendente do Ministério da Saúde no Rio de Janeiro, coronel Pedro Geraldo Pinheiro dos Santos. Segundo fontes, Pinheiro disse que manter a empreiteira era uma ordem superior.

A CPI da Covid apontou indícios de que contratos firmados pelos hospitais federais do Rio de Janeiro têm irregularidades. O contrato com a Plano foi citado pelo senador Humberto Costa (PT-PE), responsável pela apuração sobre as unidades fluminenses, como um dos que se destacam.

A cúpula da CPI entregou o material apurado durante os trabalhos no Senado para o MPF (Ministério Público Federal) na última sexta-feira (12). Os procuradores devem utilizar as provas para aprofundar investigações já existentes sobre os hospitais federais.

O UOL perguntou ao Ministério da Saúde se a demissão de Ana Paula tem relação com as denúncias que ela fez. Também questionou se a afinidade política com o presidente foi o motivo para a nomeação de Zenilde. A pasta ainda não respondeu.

Substituta apoiou "Capitã Cloroquina"

Em maio de 2021, Zenilde Fernandes Mendes foi uma dos 1.136 médicos que assinaram uma carta à CPI em apoio a Mayra Pinheiro, secretária de e Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde do Ministério da Saúde.

Conhecida como "Capitã Cloroquina", a médica foi uma das principais responsáveis no âmbito do governo federal por propagar o uso do chamado "kit covid" —um coquetel de medicamentos ineficazes defendido pelo presidente Jair Bolsonaro no tratamento contra o novo coronavírus. Entre eles estão a cloroquina, a hidroxicloroquina e a ivermectina.

Em suas redes sociais, Zenilde também apoia pautas do bolsonarismo e critica o PT e a esquerda. Em 2 de agosto —auge da campanha conduzida por Bolsonaro para atacar o sistema eleitoral brasileiro— ela adicionou à sua foto de perfil um banner com os dizeres "Pela nossa liberdade, eu quero voto auditável".