Falhas no processo de vacinação na fronteira são preocupantes, diz Fiocruz
Um levantamento feito por pesquisadores da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) aponta que as desigualdades sociais também interferem negativamente na evolução da campanha de vacinação contra a covid-19. Essas falhas, mais evidentes em municípios de menor IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), também são preocupantes em área de fronteira — hoje vulneráveis à entrada de novas variantes do coronavírus.
O estudo da Fiocruz analisou o comportamento da pandemia nos últimos dois anos, além de indicadores sociais e aqueles relativos ao avanço da aplicação das vacinas contra a covid-19 ao longe de 2021. Considerando apenas o aspecto geográfico, os pesquisadores identificaram que algumas regiões têm uma parte expressiva de seu território abaixo dos índices ideais de vacinação.
"Enquanto as regiões Sul e Sudeste apresentam elevado percentual da população imunizada, áreas da região Norte, Nordeste e Centro-Oeste ainda apresentam bolsões com baixa imunização para covid-19. Se considerarmos como um cenário de segurança a vacinação com esquema completo acima de 80%, temos no Brasil apenas 16% dos municípios nessa situação", aponta o documento.
Entre as áreas consideradas "preocupantes" pela Fiocruz, estão o limite entre Rondônia e Bolívia, as tríplices fronteiras entre Brasil, Peru e Colômbia — onde se localizam as cidades de Tabatinga e Letícia — e entre Roraima, Venezuela e Guiana, além de todo o estado do Amapá, com fronteira com a Guiana Francesa.
Esses territórios [de fronteira] são hoje vulneráveis para a entrada de novas variantes e espalhamento do vírus da covid-19 para todo o país. (...) Nesse sentido, a exigência de passaporte vacinal deve ser estendida para fronteiras terrestres, que se encontram extremamente vulneráveis às novas fases da pandemia.
Fiocruz, em nota técnica
Segunda a Fiocruz, o IDH ajuda a qualificar a desigualdade da vacinação no país, uma vez que locais com baixo índice de desenvolvimento também têm taxas de cobertura mais baixas. Quanto à primeira dose, por exemplo, o grupo de municípios com IDH muito alto apresentava percentual de imunização de cerca de 80%, enquanto o grupo com IDH baixo registrava 60%.
Já com relação à segunda dose, as cidades com IDH muito alto tinham cerca de 70% da população com esquema vacinal completo, enquanto aquelas com IDH baixo chegava a apenas 50%. Na terceira dose, a diferença se mantém: municípios mais desenvolvidos tinham 10% da população com esquema reforçado; entre os menos desenvolvidos, o percentual era de 2,5%.
"Apesar do componente longevidade considerado no IDH poder ter inflacionado o percentual de população coberta, passados quase um ano do início da campanha de imunização e o avanço da vacinação para as demais faixas etárias, é pouco provável que este fator tenha influência sobre a cobertura vacinal", emplica Diego Xavier, pesquisador do MonitoraCovid-19.
Os especialistas reforçaram ainda que, além da aceleração da aplicação de segundas doses e doses de reforço, é importante manter medidas de prevenção do contágio, como uso de máscaras — preferencialmente dos modelos PFF2 e N95 — e cancelamento de eventos de grande porte que possam gerar aglomerações.
"O uso de máscaras adequadas, a não realização de eventos que causem aglomeração e os cuidados para evitar situações de risco de infecção devem ser adotados pela população para evitar aumento de casos graves em locais com baixa cobertura vacinal", recomenda a Fiocruz.
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