Varíola: doença que hoje causa preocupação já gerou rebelião no século 20
Mortes, revoltas e fake news. A pandemia da covid-19 e o surto da varíola dos macacos trouxeram à tona um cenário que o Brasil já vivenciou no século 20, conhecido como a Revolta da Vacina.
O episódio aconteceu no século 20 quando diversas doenças assolavam o país, entre elas febre amarela, peste bubônica, tuberculose e varíola. Só em 1904, em torno de 3.500 mil pessoas morreram vítimas da varíola no Rio de Janeiro e a cidade teve cerca de 1.800 internações no Hospital São Sebastião.
Na tentativa de controle da doença, o então presidente Rodrigues Alves, juntamente com o médico sanitarista Oswaldo Cruz, viram ser necessária a vacinação em massa da população. Para isso, o governo aprovou uma lei que tornava a vacina obrigatória.
Desenvolvida no século 18, em 1796, pelo médico britânico Edward Jenner, a vacina contra a varíola chegou ao Brasil em meados do século 19.
Segundo o Código de Posturas do Município do Rio de Janeiro, a vacina contra a doença era obrigatória para crianças desde 1837 e para adultos desde 1846. No entanto, a medida não se popularizou devido à baixa produção do imunizante, que alcançou escala comercial somente em 1884.
A lei nº 1.261, de 31 de outubro de 1904, estabelecia a obrigatoriedade da vacinação contra a varíola e exigia um atestado de vacinação para matrículas em escolas, vagas de emprego, viagens e até casamentos. Além disso, as autoridades sanitárias podiam aplicar multas aos que se recusassem a tomar o imunizante.
A obrigatoriedade da vacinação contra a varíola foi a gota d'água para uma população insatisfeita e um pretexto usado por políticos opositores contra o presidente Rodrigues Alves.
Uma série de notícias falsas foram divulgadas por políticos para a população, que acabava acreditando pela falta de informação. Entre elas, o fato de a invasão às casas se tornar corriqueira, uma vez que os agentes de saúde tinham autorização para entrar nas moradias para vacinar as pessoas — além dos boatos de que quem se imunizasse ficaria parecido com um boi.
Em 5 de novembro de 1904, foi criada, pelo senador republicano Lauro Sodré, a Liga Contra Vacina Obrigatória. Entre os dias 10 e 14 de novembro, iniciou-se a revolta liderada pela liga.
Tiros, gritos, estabelecimentos fechados, bondes assaltados e queimados, lampiões quebrados a pedradas, árvores derrubadas, edifícios públicos e particulares deteriorados marcaram os cinco dias de rebelião.
Mais de duas mil pessoas protestaram e combateram as forças do governo. Foram 945 prisões — cerca de 461 foram deportados para o norte e condenados a trabalhos forçados —, 110 pessoas feridas e 30 mortos.
No dia 16, foi declarado estado de sítio e o presidente Rodrigues Alves revogou a lei de obrigatoriedade da vacinação. Com isso, o movimento foi perdendo a força e se desarticulando.
A população percebeu a importância da vacinação somente em 1908, quando uma nova epidemia de varíola voltou a assolar o Rio de Janeiro. Dessa vez, foram mais de 6.500 casos, segundo dados da Casa de Oswaldo Cruz.
Voluntariamente, as pessoas começaram a procurar os postos de saúde para se vacinar contra o vírus.
Varíola dos macacos
A varíola dos macacos é uma zoonose viral, ou seja, um vírus que passa de animais para humanos. O vírus monkeypox é membro da família de Orthopoxvirus, a mesma do vírus da varíola, doença já erradicada entre os seres humanos desde 1980.
A varíola dos macacos tem esse nome por ter sido identificada pela primeira vez em macacos em um zoológico da Dinamarca nos anos 50. O primeiro caso em humanos foi identificado apenas em 1970, na República Democrática do Congo.
Diferentemente da varíola humana, a varíola dos macacos é mais branda. Seus sintomas são mais leves e sua transmissão é mais baixa.
O vírus é transmitido principalmente por meio de contatos próximos com lesões ou objetos contaminados, trocas de fluidos corporais e sexuais.
De acordo com balanço divulgado pelo Ministério da Saúde, o Brasil tem, até o momento, 4.876 pacientes contaminados com esse tipo de varíola até dia 30 de agosto. É importante lembrar que agora a transmissão está acontecendo entre humanos, segundo a OMS.
Varíola humana
Não se sabe ao certo quando surgiu a varíola humana. Há registros de pelo menos três mil anos em múmias egípcias. No entanto, os surtos da doença ocorreram somente entre os séculos 18 e 19.
Ela foi considerada uma das mais devastadoras que já existiram. Apenas no século 20, a varíola humana matou cerca de 300 milhões de pessoas no mundo, sendo 4 milhões por ano.
O patógeno da varíola humana era altamente transmissível, sendo fácil contrair o vírus. No entanto, a forma de transmissão era a mesma, através de contatos próximos com as lesões ou objetos contaminados, gotículas de tosse e espirro.
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