Pasternak: Covid nunca foi embora, e governo não preparou os brasileiros
Com o Brasil diante do risco de uma nova onda de covid-19 às vésperas das festas de fim de ano, a microbiologista Natalia Pasternak afirma que a doença nunca foi embora e "veio para ficar". Ela também lamentou o fato de o governo de Jair Bolsonaro (PL) não ter preparado a população para lidar com os surtos causados por variantes do coronavírus.
A covid-19 não voltou agora, ela nunca foi embora. A gente não fala que a gripe voltou, ela tem surto, é uma doença sazonal. A covid a gente não conhece tanto, mas sabemos que veio para ficar. É um vírus respiratório, não é erradicável com vacinas, tem reservatório animal e tem capacidade de gerar variantes que escapam das vacinas, então vai fazer parte da nossa vida.
Microbiologista Natalia Pasternak, no UOL Entrevista
Pasternak criticou o governo federal por não ter preparado a população para lidar com essa doença de forma permanente.
"Não é uma pessoa só, apesar de Bolsonaro ser a personificação da negação, mas é claro que é toda uma equipe que negou a pandemia junto com ele. Por causa dessa inação, tem uma população altamente despreparada para lidar com a pandemia", opinou.
Uso de máscaras no transporte público e em locais fechados. Pasternak completou com recomendações para a população:
A gente tem uma população que até hoje não entendeu que, quando tem alta de casos, seria o momento de usar máscaras no transporte público e em locais fechados e aglomerados. As pessoas não tiveram orientação adequada para entender como usar máscaras. Elas ficam esperando alguém mandar e não tem discernimento para entender em que condições a máscara serve.
Pasternak: Prioridade para Saúde é recuperar vacinação, que foi destruída
Natália Pasternak declarou que o Ministério da Saúde terá um grande desafio para aumentar a vacinação e precisa recuperar o PNI (Programa Nacional de Imunizações).
Um dos principais problemas que o novo governo vai enfrentar é vacinação. E vacinação não só para covid. Vacinação como um todo, especialmente infantil. A gente tem observado uma queda na taxa de vacinação muito fora do normal. Ter 65% de vacinação contra poliomielite não é condizente com a cultura vacinal Brasil.
"Tem alguma coisa muito errada nas campanhas ou na falta de campanha. A prioridade para o novo Ministro da Saúde é reestabelecer o PNI, que foi arrasado durante o governo Bolsonaro. Ele acabou com um dos melhores programas de imunização do mundo, um programa de dar inveja para o mundo", criticou Pasternak.
A microbiologista afirmou que o PNI precisa de "verba, liderança, diretrizes e autonomia para colocar de pé uma campanha de vacinação". E mostrou otimismo sobre a equipe de transição na área de saúde
"A equipe é boa, não é questão de qualidade. Mas ter diversidade é importante. Não só de gêneros. Mas quanto mais diversa for, melhor, mais ideias eles vão ter. É questão de trazer novas ideias e perspectivas diferentes. Ter mais mulheres, negros e LGBT é necessário para ter ideias melhores", recomendou ela.
Como cientista, Pasternak também fez sugestões sobre o Ministério da Ciência e Tecnologia.
"Espero que o ministro seja escolhido com carinho, não seja alguém só para ficar bem com o centrão. A gente escuta fofocas e gostei de uma fofoca que o ministro seria o Ricardo Galvão. Não poderia ser melhor. Ele faria um trabalho excelente, comprometido com o combate ao negacionismo e questões de clima, com a experiência de quem já dirigiu um grande instituto", apontou ela, citando o ex-diretor do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).
Pasternak: Estamos vivendo novo surto de subvariantes
A microbiologista explicou que o risco para um novo pico de covid-19 está relacionado à subvariante BQ.1.
"O que a gente está vivendo é um novo pico de subvariantes. Tivemos diversas variantes: alfa, beta, gama, delta... Todas se espalharam. A mais bem-sucedida foi a ômicron, que chegou chegando e se espalhou. Depois da ômicron, não teve uma variante nova. Ela continua gerando subvariantes, que podem escapar mais de vacinas, circulam e dão origem a surtos localizados."
"Essa subvariante nova não é surpresa, porque a gente já tinha visto na Europa, nos Estados Unidos, e não tem barreira que segure o vírus. Ele se espalha, chega e vai acabar gerando alta de casos e, às vezes, de hospitalização", comentou a cientista.
Pasternak: Negacionismo migrou de um pensamento de esquerda para a extrema direita
A microbiologista alertou que o negacionismo tem virado moda e mudou de lado. Antes ficava mais ligado à esquerda, que se preocupava com a interferência na natureza. Mas agora a extrema direita tem dominado o movimento antivacina.
"O negacionismo tem virado moda no Brasil e no mundo e geralmente estão alinhados com espectro politico. Estudos mostram a mudança dos movimentos antivacinas. Antes prevalecia no espectro mais à esquerda. E tem migrado para a extrema direita. Não é a questão da natureza, 'natureba', mas de liberdades individuais e de que o Estado não pode interferir nas decisões. Então o problema não é a ciência. O problema é o quanto isso interfere nas minhas preferências e ideologias", comentou Natália na entrevista.
O UOL Entrevista vai ao ar às segundas e quintas-feiras, às 10h.
Onde assistir: ao vivo na home UOL, UOL no YouTube e Facebook do UOL.
Veja o UOL Entrevista na íntegra:
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.