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O que é 'tripledemia', a epidemia de três vírus que atinge o Brasil

Tripledemia é a coexistência de três epidemias virais - ArtistGNDphotography/iStock
Tripledemia é a coexistência de três epidemias virais Imagem: ArtistGNDphotography/iStock

Do UOL, em São Paulo

13/11/2022 04h00

Depois de causar preocupação ao sistema de saúde dos Estados Unidos, as infecções respiratórias causadas pela epidemia de três diferentes vírus, a chamada "tripledemic" —ou tripledemia—, também alertam infectologistas no Brasil.

Tripledemia é a coexistência de três epidemias virais respiratórias. Os vírus são: Sars-Cov-2, causador da covid-19, VRS (vírus sincicial respiratório) e influenza, da gripe.

De acordo com a ACEP (American College of Emergency Physicians, Escola Americana de Médicos de Emergência, em tradução livre), as unidades de emergência dos Estados Unidos andam tão lotadas de pacientes com síndromes respiratórias que a Escola e outros 30 grupos médicos enviaram uma carta à Casa Branca pedindo "soluções imediatas e de longo prazo".

"Pacientes que não têm para onde ir estão sendo mantidos em departamentos de emergência por dias —semanas ou até meses em alguns casos", afirmou o presidente da ACEP, Christopher Kang, em comunicado à imprensa. "Isso está sobrecarregando nosso sistema, acelerando o esgotamento do médico de emergência e colocando a vida dos pacientes em risco." O motivo é a chamada "tripledemic", segundo a agência de notícias americana HealthDay News.

Nos Estados Unidos, as principais vítimas são crianças, com "aumento acentuado nas hospitalizações pediátricas em todo o país", de acordo com a Forbes, segundo quem "isso está piorando a cada semana".

Já chegou ao Brasil? De acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde, além dos Estados Unidos —país mais atingido no hemisfério norte—, as nações do hemisfério sul mais afetadas são Argentina, Chile, Uruguai e Brasil.

Nenhum desses vírus é novo. Enquanto o SARS-CoV-2 circula desde o final de 2019, o influenza e o VRS existem há décadas. A suspeita de médicos é que muitas pessoas estejam sofrendo uma "dívida imunológica", já que não foram expostas a esses vírus durante a quarentena contra a covid-19 nos dois últimos anos.

"Está acontecendo agora porque ficamos quase dois anos isolados sem contato com esses vírus, então é normal que tenhamos agora a circulação de todos eles, causando uma epidemia múltipla", afirmou ao UOL Notícias o infectologista Renato Grinbaum, professor de medicina da Universidade Cidade de São Paulo.

Ele explica que os três vírus "causam manifestações muito parecidas", como "febre baixa, coriza, dor de cabeça, dor nos olhos, obstrução nasal, espirros e dor de garganta".

Ou podemos ter o quadro de covid com sintomas de gripe, como febre alta, dores no corpo ou no peito, falta de ar e dor de cabeça
Renato Grinbaum, infectologista

Infectologista do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, Rosana Richtmann diz que, nos Estados Unidos, os casos são mais numerosos porque "eles estão no inverno, e os vírus sobrevivem melhor em temperaturas mais baixas".

"Além disso, as pessoas costumam ficar em ambientes fechados nessa época do ano, em locais menos ventilados", afirma.

Aqui no Brasil, estamos em novembro. Em teoria não deveríamos ver a circulação de vírus respiratórios, totalmente fora de época
Rosana Richtmann, infectologista

Sem pânico. Apesar disso, a infectologista lembra que o frio se prolongou este ano nas regiões Sul e Sudeste, favorecendo a circulação desse tipo de vírus.

"Não me lembro de tanto frio em novembro", diz ela, que afirma não existir razão para "pânico".

"A tripledemia está acontecendo aqui, mas não na mesma intensidade que lá fora", afirma. Não precisa de pânico, mas temos de ficar de olho, especialmente nas crianças. A vigilância é fundamental: os profissionais da saúde precisam notificar os casos."

E como prevenir? Segundo Grinbaum, não há vacina contra o adenovírus, "que teve um aumento de casos muito expressivo". Além de se vacinar contra a covid e a influenza, as precauções são as mesmas tomadas contra a covid-19.

"Os cuidados devem ser o uso de máscara pelas pessoas em situação de risco: tanto os idosos e pacientes com comorbidades, quanto quem precisa visitar um grupo de risco", afirma.

Evitar aglomeração nesses momentos e higienizar as mãos com muita frequência. Se estiver com sintomas de alguma doença respiratória, evitar contato com outras pessoas neste período
Renato Grinbaum, infectologista