Do Einstein ao SUS: internações por covid-19 disparam em São Paulo
O surgimento de uma nova subvariante do coronavírus, a pouca adesão às doses de reforço das vacinas e as aglomerações na campanha eleitoral voltaram a aumentar a transmissão do vírus. Em São Paulo, a retomada da pandemia de covid-19 aumentou rapidamente os diagnósticos e as internações pela doença no SUS (Sistema Único de Saúde) e em hospitais da rede privada, como o Albert Einstein e o Sírio Libanês.
"Os dados apontam um crescimento acelerado nas admissões hospitalares em leitos covid no estado nas duas últimas semanas", afirmou ao UOL o coordenador da Info Tracker, plataforma de monitoramento da pandemia das universidades estaduais paulistas USP e Unesp.
Como o Ministério da Saúde não consolidou os dados nacionais de internação, a Info Tracker colheu as informações no estado de São Paulo, capital, Grande São Paulo e interior.
O pesquisador e professor da Unesp diz que a preocupação é maior na capital e Região Metropolitana, em "uma escalada que se iniciou há duas semanas".
"A capital tem concentrado atualmente 60% das novas admissões hospitalares de todo o estado", calcula. "Esse aumento começa a reverberar, ainda que em menor grau, nas regiões adjacentes à Região Metropolitana, como Sorocaba, Campinas e São José dos Campos."
Está previsto para as próximas semanas um aumento generalizado em todo o estado."
Wallace Casaca, da Info Tracker
Einstein, Sírio, São Camilo: e a rede privada?
O aumento de casos e internações também foi notado pela rede privada de saúde. Veja o que disseram ao UOL seis hospitais particulares com unidade em São Paulo:
Hospital Albert Einstein. "O Einstein vem notando um aumento da taxa de positividade de covid-19 nos testes realizados nas últimas semanas", confirmou o hospital. Na unidade Morumbi, uma pequena alta foi notada na semana de 18 de setembro a 24 de setembro, quando a positividade saltou de 1,9% para 2,1% dos testes.
Já de 30 de outubro a 5 de novembro, a positividade saltou para 28,5%. Assim, o número de pacientes internados também cresceu: passou de 16 para 51 de 18 de setembro a 11 de novembro.
Apesar do aumento de 218% no número de internados, o Einstein diz ter "flexibilidade para atender o aumento de demanda, não sendo necessário destinar, previamente, áreas específicas para a doença".
Hospital Sírio Libanês. Com média de sete a dez casos por dia, o Sírio Libanês percebeu aumento para 12 casos diários a partir do dia 31 de outubro. Desde então, esse número não parou de crescer, com pico nesta semana.
Em 8 de novembro, "tivemos um aumento para 22 casos de pacientes internados, confirmados ou com suspeita, sendo quatro em UTI", diz em nota a unidade de saúde.
No dia 11 de novembro, eram 26 pacientes internados."
Hospital Sírio Libanês, em nota
Hospital Oswaldo Cruz. Em nota, o Oswaldo Cruz afirma que o número de testes de covid na primeira semana de outubro é semelhante ao da primeira semana de novembro, "260 e 263, respectivamente".
"Entretanto, a positividade, que era de 1%, subiu para 50%" nesse período, afirma.
"Registramos aumento de 57% na média de atendimento por dia: de 54 na primeira semana de outubro para 85 atendimentos por dia na primeira semana de novembro", diz.
Já o número de internações saltou de quatro para 14 pacientes por dia em leitos de internação e de um para três em leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva).
Hospital São Luiz. A Rede D'Or São Luiz não informou o número de internados apenas na capital. Em suas 65 unidades distribuídas pelo Brasil, afirma contar com "250 pacientes internados com covid-19".
Em 22 dias, o aumento nas internações foi de 90%. Veja a evolução das últimas quatro semanas:
- 20/10: 132 pacientes internados
- 27/10: 131 pacientes internados
- 03/11: 176 pacientes internados
- 11/11: 250 pacientes internados
Hospital Vila Nova Star. A unidade de saúde da Rede D'or, na zona sul da capital, registrou aumento "de mais de 10 vezes nos casos de covid-19 detectados em pacientes que deram entrada no serviço ao longo do último mês".
"A positividade dos pacientes testados passou de 4% na primeira semana de outubro para 47% nesta semana", afirma em nota. "O hospital começou a identificar um aumento de casos a partir da segunda quinzena de outubro, com 33% de testes positivos na semana de 16/10 a 22/10, 32% na semana seguinte e 41% no período entre 30 de outubro e 5 de novembro."
O número de atendimentos a pessoas com quadro de síndrome gripal cresceu 23% no período: de 70 pacientes por semana para 91 na primeira semana de novembro.
"A grande maioria dos casos são de pacientes com quadros leves, sem necessidade de internação, cenário bem distinto em relação aos momentos mais críticos da pandemia", afirma Pedro Loretti, diretor-geral do hospital.
Hospital São Camilo. "A Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo informa que, nesta sexta-feira (11), conta com 22 pacientes internados para tratamento da covid-19 em suas Unidades, sendo, desse total, 4 nas UTIs", diz em nota. "O número representa uma oscilação em relação ao mesmo período do mês anterior, em que três pacientes estavam internados com a doença."
Subvariante chega ao Brasil
Uma das razões para o aumento de casos foi a chegada ao Brasil de uma nova subvariante do coronavírus. Diagnosticada com a BQ.1, uma mulher de 72 anos com comorbidades morreu no dia 17 de outubro depois de uma semana internada no Hospital São Paulo.
Derivadas da variante BA.5, da ômicron, as subvariantes BQ.1 e BQ.1.1 já respondiam por 27% dos casos nos Estados Unidos em 29 de outubro. Na Alemanha, França, Itália, Coreia do Sul e Nova Zelândia, elas elevaram a média de novos casos acima do alto patamar de 300 por 100 mil habitantes, segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde).
A principal característica da BQ.1 é um escape muito maior da proteção das vacinas graças a mutações na proteína spike, localizada na superfície do vírus e responsável por ligá-lo às células do corpo.
Aglomeração nas eleições. Se não bastasse a chegada de uma nova versão do vírus, o Brasil abandonou há algum tempo as principais medidas sanitárias, como uso de máscara, em pleno ano eleitoral, quando candidatos reúnem eleitores em passeatas e comícios.
"Houve muita aglomeração antes mesmo do pleito, nas duas semanas que antecederam o voto, o que também acelerou o ritmo de contaminações", diz Casaca.
"Fui contaminada em uma passeata." Foi o que aconteceu com a chefe de cozinha Patrícia D'Ávilla, 46, contaminada pela primeira vez no dia 19 de outubro.
"Nesse dia teve uma caminhada com o Lula em Porto Alegre, e eu disse: 'vou'. Foi lá que me contaminei, com certeza", diz. "Lá pelo dia 23, num sábado, acordei com uma dor forte de cabeça e nos olhos, não era uma gripezinha. Quando acordei, parecia que estava pregada na cama: uma semana com cansaço e dores no corpo."
Diagnosticada, ficou em isolamento dentro de casa e usou paracetamol para reduzir os sintomas. "Já passou de duas semanas e ainda tenho dor de garganta", diz.
Meu conselho é evitar aglomeração, principalmente quem tem comorbidade. O bichinho ainda está por aí; a gente não está livre disso. Se tomou vacina, como eu, os sintomas vão passar, mas se não se vacinou, evite tumulto, balada.
Patrícia D'Ávilla, chefe de cozinha
Vai ter nova onda?
Casaca prefere chamar o aumento de casos de repique, uma vez que a gravidade dos casos é menor do que no passado, com menos internações e mortes. Já a infectologista do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, Rosana Richtmann, diz que "chamaria de uma nova onda, mesmo que uma marola", em razão do aumento de casos, da chegada das festas de fim de ano e da flexibilização das medidas sanitárias.
"Não quero assustar ninguém porque a gravidade dos casos é mesmo muito menor, mas temos uma tendência", diz Richtmann. "É indiscutível que o número de casos está francamente aumentando."
O que fazer agora? "Os vírus mudam, mas as recomendações são as mesmas: um dos vilões de transmissão são nossas mãos: sempre faça a higienização com álcool em gel ou sabão para diminuir a possibilidade de contaminação do ambiente e de se contaminar", diz a médica.
Recomendo aos mais vulneráveis usar máscara em transporte público, principalmente em horários de pico. Se algum familiar estiver sintomático no fim de ano, tenha o bom senso de respeitar os mais vulneráveis e evitar as festas.
Rosana Richtmann, infectologista
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