Hospital nega internação a funcionária que teve AVC no local, dizem colegas
Uma funcionária de limpeza terceirizada do Hospital Federal dos Servidores do Estado, no centro do Rio, passou mal durante o expediente e teve a internação negada no próprio hospital onde trabalha.
O que aconteceu
Maria de Lourdes Santos de Lemos, 60, trabalha na unidade há cinco anos e precisou ser levada para um hospital municipal.
Ela teve um AVC hemorrágico e foi internada no Hospital Municipal Souza Aguiar. A família e os funcionários denunciaram o caso para a ouvidoria.
No sábado (19), Maria de Lourdes chegou para trabalhar e, por volta das 10h30, começou a passar mal. Segundo uma amiga de trabalho que conversou com o UOL, ela se queixava de dores de cabeça, na nuca, vômito e diarreia.
A mulher foi levada para o plantão geral, uma emergência fechada para pacientes crônicos do hospital, que seria o setor responsável por esse tipo de ocorrência
Fizeram um atendimento de emergência, medicação, verificaram a pressão e a glicose, mas, por não ter prontuário, disseram que ela teria que ir para outro hospital por meios próprios. De tarde, quando voltei, ela estava pior. A médica falou que ela precisava passar por exames para descobrir o que havia acontecido, mas, ainda assim, não encaminhou. Ela alegou que não podiam atender funcionários sem prontuário
Colega de trabalho de Maria de Lourdes, que preferiu não se identificar.
Durante todo o dia, Maria de Lourdes ficou sentada em uma cadeira e sem o atendimento devido, segundo colegas de trabalho. Quando viram que ela piorou, ligaram para um dos filhos dela, avisando que a mãe estava passando mal. Assim que chegou ao hospital, ele se assustou com a situação.
Quando disseram que ela estava passando mal, achei que fosse algo simples, mas cheguei lá e ela estava quase desacordada. Só verificaram a pressão e a glicose, mais nada. Eles não quiseram chamar nenhum tipo de ambulância, me falaram que não tinha como. Disseram que ela não podia ficar internada lá também porque ela não tinha prontuário. A vida da minha mãe vale um prontuário médico. Isso é um absurdo. Eles não deram nenhum tipo de suporte mesmo. Foi horrível, desesperador, nunca tinha visto ela dessa forma
Raphael Lemos, 32, filho de Maria de Lourdes
De acordo com os funcionários, havia ao menos cinco ambulâncias paradas no pátio do hospital quando ela passou mal. Assim que houve a troca de plantão, o médico da noite informou que ela precisava ir para um hospital de grande porte, sendo que o Servidores do Estado tem todas as especialidades e, no dia do ocorrido, tinha leitos disponíveis e toda a equipe estava completa
Em vez de fazer os exames e acionar os médicos, já que lá tem todas especialidades, mandaram ela ir para outro hospital por meios próprios. O mínimo que tinham que fazer era transportá-la de ambulância, se não tivesse condições dela ser tratada ali. O que é mentira, porque eu estava de plantão, tinha vaga no CTI [Centro de Terapia Intensiva], tomografia, médicos, tudo. Foi negligência mesmo
Nestor Neto, auxiliar de enfermagem, que abriu queixa na ouvidoria com outros colegas de trabalho após o ocorrido
"Saiu cambaleando"
Como estava sozinho, Raphael ainda precisou aguardar o irmão que estava de carro, para ajudá-lo a levar a mãe até o Hospital Municipal Souza Aguiar. Assim que chegou na unidade, eles precisaram aguardar por horas o resultado dos exames.
Após investigar os sintomas e o que estava causando as dores na nuca, a funcionária foi diagnosticada com um AVC hemorrágico. Ela precisou passar por uma cirurgia de emergência na noite de domingo (20).
A gente só serve para trabalhar para eles? É desumano. Ela saiu daqui cambaleando, precisou de cadeira de rodas. Poderiam ter transferido ela para um outro setor, ter internado, mas não quiseram
Outra amiga da funcionária que preferiu não ser identificada
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Quero receberMaria de Lourdes teve alta ontem. "Se demorasse um pouco mais, era perigoso da minha mãe não estar mais aqui. Até o momento, segundo os médicos, ela não vai ficar com sequelas", disse o filho Raphael Lemos.
O que diz o hospital
Procurada pela reportagem, a direção do Hospital Federal dos Servidores do Estado (HFSE) disse que Maria de Lourdes foi atendida na unidade com queixa de náusea, vômitos e sinais de desidratação. "Não apresentou naquele momento sinais de AVC. Durante o atendimento, foi verificado que os sinais vitais encontravam-se estáveis. Ao ser medicada, a paciente apresentava melhora do quadro e foi liberada", disse em nota
Cabe destacar que o HFSE não possui Emergência aberta, é um hospital que atende pacientes encaminhados pelo Sistema de Regulação do Rio de Janeiro, portanto, o filho da senhora Maria de Lourdes foi orientado a procurar o pronto atendimento, caso a mesma apresentasse novos sintomas ou piora no quadro
Hospital em nota
Família diz que vai processar hospital
O filho Raphael disse que toda a família ficou muito abalada com o descaso e o risco que a mãe correu e que estão decididos a procurar medidas judiciais.
Mãe é mãe, queremos o melhor para ela, que a gente tanto ama. Vamos acionar um advogado e tomar medidas judiciais. Isso não pode ficar assim, ela poderia ter morrido
Raphael
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