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Por causa da contaminação, debate sobre consumo de atum ainda dá voltas

Tara Parker Pope

09/03/2015 00h01

Há anos as mulheres grávidas têm sido alertadas sobre o consumo de atum por causa de preocupações com a exposição ao mercúrio. Mas um painel federal reacendeu o debate sobre os benefícios e riscos de comer atum e outros frutos do mar durante a gravidez.

Especialistas concordam que os frutos do mar são ricos em nutrientes importantes como os ácidos graxos ômega-3 e vitaminas do complexo B e que a maioria de nós não os ingere em quantidade suficiente. Inúmeros estudos mostram que os nutrientes presentes nos peixes são particularmente importantes para o desenvolvimento do cérebro de fetos e bebês.

Como parte de uma revisão abrangente de recomendações nutricionais, o Comitê de Aconselhamento sobre Orientações Alimentares reiterou recentemente as atuais orientações sobre frutos do mar: os norte-americanos deveriam comer uma ampla variedade de frutos do mar. O relatório também reconheceu o risco da exposição ao mercúrio no consumo de certos frutos do mar e observou que as mulheres que estão grávidas, amamentando ou que podem engravidar deveriam evitar peixe-batata, tubarões, peixe-espada e cavala-verdadeira por causa de seu alto conteúdo de mercúrio.

O painel retirou uma recomendação sobre o atum, que é o segundo em popularidade depois do camarão nos Estados Unidos. As orientações atuais da agência norte-americana que regula alimentos, a FDA (Food and Drug Administration  -  e medicamentos) e a Agência de Proteção Ambiental alertam as mulheres grávidas e lactantes a limitarem o consumo de atum para 170 gramas por semana.

O comitê de aconselhamento alimentar recomendou que essas agências reavaliem sua posição sobre o atum para as mulheres grávidas, observando que o atum albacora é um caso especial. O painel observou que, mesmo quando as mulheres comem duas vezes mais a quantidade recomendada de atum por semana, os benefícios superam em muito os riscos. “Todas as provas foram favoráveis aos benefícios para os desenvolvimento infantil e redução do risco (de doença cardiovascular)”, escreveu o painel.

A sugestão de que mulheres grávidas podem comer mais atum albacora – o tipo que costuma ser enlatado – inquietou grupos que pedem mais alertas sobre o mercúrio nas embalagens de atum.

“O atum é responsável por quase sete vezes mais exposição ao mercúrio do que os quatro peixes com maior concentração de mercúrio que a Food and Drug Administration aconselha mulheres grávidas a não comer”, disse Michael Bender, diretor do Mercury Policy Project, em uma declaração. “Então por que as orientações alimentares propostas para 2015 recomendam que as mulheres grávidas comam mais atum?”

Mas o Dr. Steven Abrams, membro do painel alimentar e diretor médico do programa de nutrição neonatal na Faculdade de Medicina Baylor, diz que embora as mulheres precisem estar cientes dos tipos de peixe que estão comendo, há provas consistentes de que comer peixe é bom para o cérebro dos bebês.

“O objetivo das orientações alimentares é oferecer às pessoas uma forma saudável de comer e não incluir ou excluir certos alimentos”, dises Abrams. O benefício de ter ácidos graxos ômega-3 na dieta, segundo ele, “de fato excede o risco provável de contaminação". "O ponto é que você deve ter uma variedade de tipos de frutos do mar e não se limitar a um tipo, e variedade inclui atum enlatado.”

Alice Lichtenstein, diretora do laboratório de nutrição cardiovascular na Universidade Tufts, disse que o painel não tinha sugerido que mulheres grávidas comessem mais atum. “A questão da contaminação é um ponto mutável, e você precisa de dados muito atuais”, diz Lichtenstein. “Pode ser que a questão seja reavaliada e que não haja mudança.”

Em um estudo de Harvard com 135 mães e crianças, pesquisadores acompanharam o consumo de peixe durante a gravidez e examinaram o cabelo das mães para medir a exposição ao mercúrio. Eles descobriram que, para cada porção semanal de peixe que uma mãe ingere durante a gravidez, a nota do bebê em testes de memória de reconhecimento visual aumentou em média 4 pontos. Ao mesmo tempo, a nota de um bebê caiu em 7,5 pontos para cada aumento de uma parte por milhão no mercúrio encontrado na amostra de cabelo da mãe. Os bebês que tiveram notas mais altas nos testes de memória foram aqueles cujas mães tinham consumido duas ou mais porções de peixe por semana durante a gravidez, mas que tinham níveis muito baixos de mercúrio.

Funcionários de saúde há muito se preocupam em equilibrar alertas sobre mercúrio com os benefícios de ingerir peixe. Menos de um em cada cinco norte-americanos comem as duas porções recomendadas por semana. Cerca de um em cada três come uma porção por semana, e quase um em cada dois come muito pouco ou nada de peixe.

No verão passado, a Consumer Reports publicou um longo relatório sobre peixes e exposição ao mercúrio, observando as preocupações especiais sobre o atum enlatado por causa de sua popularidade. A revista informou que 170 gramas de atum enlatado contêm 60 microgramas de mercúrio, em comparação com apenas 4 em uma porção de 170 gramas de salmão. (Uma porção de 170 gramas de peixe-espada contêm 170 microgramas, disse a revista.)

A Consumer Reports recomenda camarão, vieira, sardinhas, salmão, ostras, lula e tilápia como os frutos do mar com menor concentração de mercúrio. A revista sugeriu limitar o consumo de garoupa, merluza-negra, anchova, alabote, black cod, serra e atum fresco.

Tradução: Eloise De Vylder