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Grupo Estado Islâmico enfrenta ofensivas no Iraque e na Síria

24/05/2016 17h52

Beirute, 24 Mai 2016 (AFP) - O grupo extremista Estado Islâmico (EI) enfrentava nesta terça-feira duas ofensivas, terrestre e área, contra seus redutos no Iraque e na Síria, com o apoio maciço da coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos.

Um dia após o lançamento de uma operação na cidade iraquiana de Fallujah, nesta terça foi a província síria de Raqa, onde se encontra a "capital" do auto-proclamado califado do EI, que esteve na mira dos ataques.

Estas ofensivas são as mais importantes desde que, em 2014, o EI autoproclamou o "califado", que se estende por territórios dos dois países.

No Iraque, as tropas federais realizam estas operações. Na Síria, a aliança curdo-árabe das Forças Democráticas Sírias (FDS), apoiada pelos Estados Unidos, começou a repelir os combatentes do EI da área situada ao norte de Raqa.

"As FDS começaram sua ofensiva para libertar o norte de Raqa. Nosso objetivo não é libertar a cidade de Raqa, apenas o norte da província", disse à AFP o porta-voz das FDS.

"Recebemos cobertura aérea da coalizão" comandada pelos Estados Unidos, acrescentou.

Segundo o porta-voz militar americano em Bagdá, coronel Steve Warren, estariam em Raqa entre 3.000 e 5.000 combatentes do EI.

As FDS estão integradas por 25.000 combatentes curdos e cerca de 5.000 árabes.

Uma fonte das Unidades de Proteção do Povo Curdo (YPG) informou à AFP que suas forças "tinham recebido armas americanas e que tropas americanas participavam dos combates em terra".

Segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos, os aviões da coalizão realizaram "bombardeios intensos" no norte de Raqa. "Ao menos 22 jihadistas morreram", segundo a ONG.

De acordo com um militante sírio, o EI está utilizando deliberadamente os moradores de Raqa para escapar dos bombardeios.

"Eles utilizam civis para se proteger. Em um edifício civil há sempre dois ou três apartamentos para combatentes do EI", indicou Abdel Aziz al-Hamza, cofundador do grupo "Raqqa is Being Slaughtered Silently" (RBSS, "Raqa está sendo massacrada silenciosamente").

"Eles também usam algumas escolas, porque algumas têm porões e, portanto, são protegidas de bombardeios aéreos", indicou à AFP, à margem do Fórum da Liberdade de Oslo, um encontro de ativistas pela paz na capital norueguesa.

Fim do califadoA retomada desta cidade síria, juntamente com Fallujah e Mossul, no Iraque, é o principal objetivo da coalizão internacional contra o grupo extremista.

"Está claro que se os Estados Unidos querem eliminar o EI, é preciso atacar várias frentes ao mesmo tempo", explicou à AFP Fabrice Balanche, especialista em Síria do Washington Institute.

"Cortar a estrada entre Raqa e Mossul não é difícil hoje em dia. Isto acabaria com o mito do EI transnacional", acrescentou.

Após o anúncio da ofensiva em Raqa, o ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, anunciou que a Rússia estava disposta a coordenar com a coalizão curdo-árabe e com os Estados Unidos para desalojar os extremistas do EI de Raqa.

No oeste do Iraque, perto da fronteira síria, as forças iraquianas apertaram o cerco nesta terça-feira em torno de Fallujah, outro reduto extremista a 50 km de Bagdá.

O primeiro-ministro iraquiano, Haider al Abadi, anunciou nesta terça, menos de um dia depois do início da ofensiva, que as forças governamentais tinham tomado Karma, uma das últimas localidades que permitem a Fallujah ter contato com o exterior.

"As forças federais avançaram para o leste de Fallujah esta manhã em três direções", informou à AFP o capitão da polícia Raed Shaker Jawdat.

Para o especialista iraquiano Hisham al Hashemi, "Fallujah é muito importante para o EI" porque se o grupo perder esta cidade, "só lhe restarão zonas desérticas até a fronteira síria, assim como as localidades de Rawa, Ana e Qaim", na província de Anbar, e "seus redutos se reduziriam a Hawija e Mossul, no Iraque, e Raqa, na Síria".

Cinquenta mil famílias bloqueadasA perspectiva de combates urbanos aumentou a preocupação com as dezenas de milhares de civis presos na cidade.

O Conselho Norueguês para os Refugiados (NRC) estima que ainda existam cerca de 50.000 pessoas nesta cidade conquistada pelo EI em janeiro de 2014 e pediu que se fala o possível para ajudá-los a fugir.

"Famílias inteiras que não têm alimentos e medicamentos há meses agora correm o risco de ficar presas no meio do fogo cruzado. É absolutamente vital garantir-lhes corredores seguros para que possam fugir a fim de que possamos ajudá-las", reportou o diretor do NRC para o Iraque, Nasr Muflahi, em um comunicado.

Um morador de Fallujah, contatado por telefone pela AFP, contou ter ouvido fortes bombardeios na parte norte da cidade.

"O Daesh (acrônimo em árabe para o EI) impôs o toque de recolher, que impede às pessoas sair à rua. Algumas estão autorizadas a permanecer diante de suas portas", contou o morador.

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