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A ilusão de ir para o paraíso é a motivação dos extremistas suicidas

29/06/2016 10h44

Paris, 29 Jun 2016 (AFP) - Depois de sua missão suicida, eles estão convencidos de que vão ganhar o paraíso e é essa crença de que o Éden será alcançado por meio do sacrifício que motiva os homens-bomba, embora esta convicção não venha de qualquer texto religioso, garantem os especialistas e estudiosos do Islã.

Terça-feira à noite no aeroporto de Istambul uma testemunha, Oftah Mohammed Abdullah, disse que viu um dos suicidas: "Ele tinha um casaco curto e escondia um fuzil. Ele sacou a arma e começou a atirar nas pessoas. Ele andava como um profeta".

"O paraíso é uma adesão existencial", explica à AFP o sociólogo Farhad Khosrokhavar, diretor de estudos na Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais (EHESS), em Paris. "Eles acreditam firmemente nisso. Questionar isso seria não compreender nada. Esta certeza dá a eles serenidade e força extraordinárias".

"Alguns disseram que os assassinos do Bataclan (em novembro, em Paris) deviam estar drogados por se mostrarem tão calmos e determinados. Isso é falso. Eles não precisavam disso", acrescenta. Sobreviventes massacre na casa de espetáculos relataram que os atiradores agiam calmamente, em silêncio, às vezes sorrindo, ao metralhar uma multidão indefesa. Após suas mortes, foram realizados exames de sangue: nada.

De onde vem esta crença? Como é inculcada em suas mentes?

Em uma reportagem intitulada "Soldados de Alá", transmitida no dia 2 de maio pelo canal francês Canal Plus, o jornalista Said Ramzi se infiltra em uma célula de aspirantes a jihadistas na França. O emir do grupo, um jovem franco-turco chamando Osama, descreve as alegrias que os esperam no final de uma missão suicida, algo que, no entanto, nunca ocorrerá.

"Em direção ao paraíso, esse é o caminho", diz ele, sorrindo. "Venham, irmãos, vamos ao paraíso. Nossas mulheres nos esperam, como anjos, como serventes. Você terá um palácio, um cavalo alado de ouro e rubi".

Fragilidade e psiquiatriaAlém das delícias da vida após a morte, os homens-bomba estão certos de que seu gesto irá lhes permiti abrir a porta do céu para dezenas de seus familiares, por cuja salvação eles garantem com seu sacrifício.

Dezenas de imãs, estudiosos, exegetas do Alcorão e da Sunnah (reunião das palavras e ensinamentos do Profeta) desmentem esta noção de paraíso prometido aos extremistas e, por procuração, às suas famílias.

"Matar pessoas para ir para o céu, não há, naturalmente, nada disso escrito nos textos" sagrados, afirma à AFP o islamólogo Ghaleb Bencheikh. "Ideólogos, manipuladores, fanáticos, radicalizados, todos esses, manipulam esta ideia de jihad, que significa esforço e não combate, acrescentando um monte de detalhes para descrever este paraíso: é uma construção humana".

De acordo com ele, as famosas 72 virgens prometidas aos homens-bomba, o passaporte para o paraíso que eles podem reservar a seus parentes, os prazeres infinitos, cavalos alados em ouro e rubi são apenas chamarizes para enganar os fracos, os ingênuos ou mentalmente doentes.

"As houris (virgens), os rios de vinho, de mel e leite: são descrições alegóricas. Infelizmente, quando você é fraco de espírito, pode-se acreditar em qualquer coisa com tenacidade", acrescentou Ghaleb Bencheikh.

"Esses sujeitos dizem: 'eu sou um delinquente, vou virar militante de uma causa e, além disso, tenho a promessa de um além melhor e durável. Eu não só vou matar pessoas, crianças, mas como será por uma boa causa, e serei recompensado. Esta é a inversão total de valores. Também faz parte de uma questão da psiquiatria".

Em 13 de junho, quando foi cercado pela polícia na casa do policial e de sua esposa que acabara de assassinar em Paris, Larossi Abballa já tinha filmado e postado online seu testamento.

"Imagine você, ó muçulmano. Você apenas tem que se apressar, morrer, e lá estará o paraíso, com o seu profeta (...) Que imenso favor!", disse, lendo um texto preparado com antecedência. "Neste momento, nada mais de preocupação, de testes. Apenas uma diversão sem fim!".