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Crítica dos EUA é 'insolente', diz Venezuela sobre prisão de opositor

29/08/2016 22h26

Caracas, 30 Ago 2016 (AFP) - O governo venezuelano classificou como "insolente" a crítica dos Estados Unidos sobre sua decisão de transferir o ex-prefeito opositor Daniel Ceballos para a prisão, nesta segunda-feira (29), a três dias do protesto que exigirá o referendo revogatório contra o presidente Nicolás Maduro.

Ceballos se encontra em prisão domiciliar.

"Ficou evidente a marca e a autoria do golpe de Estado planejado para o próximo 1º de setembro", de acordo com comunicado do escritório do vice-ministro para a América do Norte da Chancelaria venezuelana.

Em nota, o porta-voz do Departamento de Estado americano, John Kirby, condenou a transferência de Ceballos para a prisão, alegando que "representa um esforço para intimidar e obstaculizar o direito do povo de expressar pacificamente sua opinião" no ato previsto para esta quinta-feira (1º).

Consideradas "insolentes" pelo Ministério venezuelano das Relações Exteriores, as declarações "estimulam e promovem atitudes violentas, extremistas e antidemocráticas na Venezuela, [por aqueles] que já planejaram crimes contra a vida de nossos cidadãos".

De acordo com o Ministério do Interior e da Justiça, os Serviços de Inteligência detectaram que Ceballos, ex-prefeito de San Cristóbal, "pretendia fugir dias antes" de 1º de setembro para "dirigir e coordenar atos de violência no país".

Há um ano em prisão domiciliar por questões de saúde, Ceballos é acusado de incitar a violência nas manifestações contra Maduro em 2014, deixando 43 mortos. O governo também responsabiliza Leopoldo López, que cumpre uma sentença de quase 14 anos de prisão.

Observação internacionalA oposição venezuelana irá às ruas para exigir das autoridades eleitorais que decidam a data de coleta das quatro milhões de assinaturas necessárias para a convocação do referendo revogatório.

Hoje, as autoridades venezuelanas prenderam em Caracas o opositor Yon Goicoechea, acusado de portar detonadores para explosivos. Segundo o governo, essa carga seria usada na marcha da oposição.

"Um senhor chamado Yon Goicoechea foi detido e, em seu poder, foram encontrados cordões detonadores para explosivos (...) Preferimos um milhão de vezes prender com antecedência um assassino do que deixar que uma gota de sangue de um venezuelano caia nas ruas", assegurou o número dois do chavismo, Diosdado Cabello, em um ato público no estado de Barinas (oeste).

Dirigentes opositores venezuelanos pediram à ONU, nesta segunda-feira, uma observação internacional de sua manifestação de 1º de setembro, assim como uma comissão para avaliar os direitos humanos no país.

O deputado Luis Florido, presidente da comissão de Política Externa da Assembleia Nacional (controlada pela oposição), reuniu-se na sede da ONU, em Nova York, com o guatemalteco Edmond Mulet, chefe de gabinete do secretário-geral, Ban Ki-moon.

"Pedimos a observação internacional da manifestação de 1º de setembro", disse Florido a jornalistas após a reunião.

O legislador declarou que independentemente de os representantes da ONU estarem no país, "os olhos do mundo vão estar sobre a Venezuela" no dia do protesto.

O dirigente "exilado" Carlos Vecchio, que acompanhou Florido na reunião, pediu à ONU que designe uma "comissão de alto nível" para abordar o que chamou de "a pior crise deste continente".