Assad, de pária a vencedor, graças à aliança com Rússia e Irã
Beirute, 22 dez 2016 (AFP) - De sobrevivente a vencedor. Com a queda de Aleppo, o presidente Bashar al-Assad, pária do Ocidente e do mundo árabe, conseguiu reverter a situação na guerra síria, com paciência e determinação, e graças a seus aliados russos e iranianos.
Apoiando-se em um Exército que se manteve fiel apesar das enormes baixas em quase seis anos de conflito, e contando ainda com seus serviços de Inteligência e com uma parte da população aterrorizada pelos extremistas, Assad enfrenta uma oposição dividida, cujos "padrinhos" não quiseram se envolver militarmente.
"Para Assad, isso sempre foi um combate de vida, ou morte. Nunca se questionou deter a guerra, fosse com a vitória, fosse com a derrota", avaliou o ex-diplomata holandês Nikolaos van Dam, especialista em Síria.
"O regime tem meio século de experiência sobre como se manter no poder. Conta com o apoio do Exército e dos serviços de segurança", disse o autor do livro "The Struggle for Power in Syria: Politics and Society Under Asad and the Ba'th Party" ("A luta pelo poder na Síria: política e sociedade em Assad e no Partido Baath", em tradução livre).
Segundo Van Dam, "o apoio popular não é decisivo" e provém, sobretudo, de minorias que se sentem ameaçadas por islamitas e extremistas, como cristãos e alauitas, comunidade à qual Assad pertence.
Grande confiança em si mesmoTendo chegado ao poder em 2000, após a morte de seu pai, Hafez al-Assad, que governou o país com mão de ferro por três décadas, Bashar, de 51 anos, enfrentou a revolta de março de 2011, na esteira da chamada "Primavera Árabe".
Rapidamente, Assad optou pela repressão sangrenta, apresentando seus opositores como "jihadistas", e a revolta como um complô de Estados Unidos e Israel contra "o eixo da resistência", o qual diz representar.
Para os analistas, a convicção na vitória é chave.
"Os conselheiros de Assad repetem desde o início que confiam no sucesso, enquanto os americanos não bombardeiam Damasco pelo ar, nem se envolvem diretamente na guerra", destacou Joshua Landis, diretor do Centro de Estudos de Oriente Médio na Universidade de Oklahoma.
Mesmo no pior momento, quando seu Exército foi expulso em março de 2015 da província de Idlib por uma coalizão de extremistas e rebeldes, seus "conselheiros sempre apresentaram as derrotas como parciais, e mantiveram sua confiança na vitória final", explicou.
Além disso, Assad - assim como seu pai - é paciente e sabe esperar seu momento.
Sólida aliança com Moscou"É da mesma escola que seu pai e sempre soube controlar o fator tempo e fazer mudar os ventos contrários a seu favor", comentou Wadah Abed Rabo, editor-chefe do jornal Al Watan, alinhado com o governo.
A chave de sua vitória é, porém, a solidez de suas alianças, ao contrário da de seus adversários.
"Nunca duvidou da vitória, já que seu pai forjou, há décadas, uma aliança sólida e estratégica com Rússia, Irã e outros", completou.
As relações com Moscou têm mais de 40 anos e datam da época da URSS, enquanto os vínculos com Teerã são do início dos anos 1980, por ocasião da guerra Irã-Iraque.
É "uma velha relação fundada sobre uma convergência de interesses materiais, estratégicos, ideológicos, ainda válidos atualmente", afirmou o cientista político Suhail Belhadj, do Instituto de Estudos Superiores Internacionais e do Desenvolvimento de Genebra.
Além disso, "o regime sírio se mostrou um aliado confiável militar, estratégica, política, ideológica e economicamente desde a existência dessa aliança", acrescenta.
A fraqueza dos inimigosJá a oposição perdeu seus apoios progressivamente.
"A fraqueza dos inimigos de Assad provém, em grande parte, do apoio insuficiente dos 'amigos' da oposição", afirma Van Dam.
Os "Amigos do Povo Sírio" se constituíram em fevereiro de 2012 como apoio à oposição, quando esta navegava de vento em popa. Onze países árabes e ocidentais reconheceram a Coalizão da oposição como o único representante legítimo dos sírios. Nesse época, Assad estava isolado, e seu país, castigado pelas sanções internacionais.
Quatro anos depois e após uma série de vitórias, Assad continua no cargo e continuará reinando como um autocrata, segundo os especialistas.
"Dirigirá o país como no passado, conjugando intimidação e clientelismo. Vimos que Assad não é capaz de mudar a natureza fundamental do regime", afirma Landis.
"Permanecerá no poder sem compartilhá-lo e fará algumas reformas cosméticas. Mas a posição de Assad não pode se garantir para sempre", prevê Van Dam.
Para Belhadj, Assad "salvou sua posição na guerra, mas tem poucas possibilidades de salvá-la na paz, porque não tem suficiente legitimidade política para garanti-la".
Apoiando-se em um Exército que se manteve fiel apesar das enormes baixas em quase seis anos de conflito, e contando ainda com seus serviços de Inteligência e com uma parte da população aterrorizada pelos extremistas, Assad enfrenta uma oposição dividida, cujos "padrinhos" não quiseram se envolver militarmente.
"Para Assad, isso sempre foi um combate de vida, ou morte. Nunca se questionou deter a guerra, fosse com a vitória, fosse com a derrota", avaliou o ex-diplomata holandês Nikolaos van Dam, especialista em Síria.
"O regime tem meio século de experiência sobre como se manter no poder. Conta com o apoio do Exército e dos serviços de segurança", disse o autor do livro "The Struggle for Power in Syria: Politics and Society Under Asad and the Ba'th Party" ("A luta pelo poder na Síria: política e sociedade em Assad e no Partido Baath", em tradução livre).
Segundo Van Dam, "o apoio popular não é decisivo" e provém, sobretudo, de minorias que se sentem ameaçadas por islamitas e extremistas, como cristãos e alauitas, comunidade à qual Assad pertence.
Grande confiança em si mesmoTendo chegado ao poder em 2000, após a morte de seu pai, Hafez al-Assad, que governou o país com mão de ferro por três décadas, Bashar, de 51 anos, enfrentou a revolta de março de 2011, na esteira da chamada "Primavera Árabe".
Rapidamente, Assad optou pela repressão sangrenta, apresentando seus opositores como "jihadistas", e a revolta como um complô de Estados Unidos e Israel contra "o eixo da resistência", o qual diz representar.
Para os analistas, a convicção na vitória é chave.
"Os conselheiros de Assad repetem desde o início que confiam no sucesso, enquanto os americanos não bombardeiam Damasco pelo ar, nem se envolvem diretamente na guerra", destacou Joshua Landis, diretor do Centro de Estudos de Oriente Médio na Universidade de Oklahoma.
Mesmo no pior momento, quando seu Exército foi expulso em março de 2015 da província de Idlib por uma coalizão de extremistas e rebeldes, seus "conselheiros sempre apresentaram as derrotas como parciais, e mantiveram sua confiança na vitória final", explicou.
Além disso, Assad - assim como seu pai - é paciente e sabe esperar seu momento.
Sólida aliança com Moscou"É da mesma escola que seu pai e sempre soube controlar o fator tempo e fazer mudar os ventos contrários a seu favor", comentou Wadah Abed Rabo, editor-chefe do jornal Al Watan, alinhado com o governo.
A chave de sua vitória é, porém, a solidez de suas alianças, ao contrário da de seus adversários.
"Nunca duvidou da vitória, já que seu pai forjou, há décadas, uma aliança sólida e estratégica com Rússia, Irã e outros", completou.
As relações com Moscou têm mais de 40 anos e datam da época da URSS, enquanto os vínculos com Teerã são do início dos anos 1980, por ocasião da guerra Irã-Iraque.
É "uma velha relação fundada sobre uma convergência de interesses materiais, estratégicos, ideológicos, ainda válidos atualmente", afirmou o cientista político Suhail Belhadj, do Instituto de Estudos Superiores Internacionais e do Desenvolvimento de Genebra.
Além disso, "o regime sírio se mostrou um aliado confiável militar, estratégica, política, ideológica e economicamente desde a existência dessa aliança", acrescenta.
A fraqueza dos inimigosJá a oposição perdeu seus apoios progressivamente.
"A fraqueza dos inimigos de Assad provém, em grande parte, do apoio insuficiente dos 'amigos' da oposição", afirma Van Dam.
Os "Amigos do Povo Sírio" se constituíram em fevereiro de 2012 como apoio à oposição, quando esta navegava de vento em popa. Onze países árabes e ocidentais reconheceram a Coalizão da oposição como o único representante legítimo dos sírios. Nesse época, Assad estava isolado, e seu país, castigado pelas sanções internacionais.
Quatro anos depois e após uma série de vitórias, Assad continua no cargo e continuará reinando como um autocrata, segundo os especialistas.
"Dirigirá o país como no passado, conjugando intimidação e clientelismo. Vimos que Assad não é capaz de mudar a natureza fundamental do regime", afirma Landis.
"Permanecerá no poder sem compartilhá-lo e fará algumas reformas cosméticas. Mas a posição de Assad não pode se garantir para sempre", prevê Van Dam.
Para Belhadj, Assad "salvou sua posição na guerra, mas tem poucas possibilidades de salvá-la na paz, porque não tem suficiente legitimidade política para garanti-la".
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