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Candidato governista lidera eleições presidenciais no Equador

O candidato à Presidência do Equador Lenin Moreno faz o sinal de vitória em hotel em Quito  - Rodrigo Buendía/AFP
O candidato à Presidência do Equador Lenin Moreno faz o sinal de vitória em hotel em Quito Imagem: Rodrigo Buendía/AFP

Em Quito

19/02/2017 21h22

O candidato governista de esquerda Lenin Moreno lidera, segundo várias pesquisas de boca de urna, a eleição presidencial realizada neste domingo (19) no Equador, crucial para a combalida esquerda latino-americana.

O ex-vice-presidente Moreno, que aspira a suceder Rafael Correa, teria entre 36% e 43% da votação, enquanto o ex-banqueiro de direita e opositor Guillermo Lasso teria conseguido entre 26% e 31%.

Para vencer no primeiro turno, Moreno requer 40% dos votos válidos e uma diferença de dez pontos sobre o segundo.

Após conhecer o resultado das pesquisas, Lenin Moreno comemorou diante dos simpatizantes do movimento Aliança País (AP) em um conhecido hotel do norte de Quito.

"Vencemos as eleições por lei justa (...) Mais tarde, estarei atento aos resultados definitivos que dê ao Conselho Nacional Eleitoral", exclamou Maduro em meio a aplausos.

Simultaneamente, no Centro de Convenções de Guayaquil (sudoeste), capital econômica do país, o conservador Lasso gritou eufórico: "Há segundo turno".

Segundo o CNE, os resultados oficiais destas eleições-gerais, nas quais também são escolhidos o vice-presidente, 137 deputados e cinco representantes no Parlamento Andino são aguardados a partir das 20h00 locais (22h00 de Brasília).

Marcadas pela delicada situação econômica e por uma campanha eleitoral incomumente insípida, empobrecida por acusações de corrupção, estas eleições são, segundo as pesquisas, as mais disputadas e com maior número de indecisos dos últimos anos no país andino.

Nas eleições gerais de 2009 e 2013, Correa venceu com folga no primeiro turno.

"Uma eleição diferente"Mas a ausência de Correa, um carismático e polêmico economista que desde 2007 liderou o período mais estável da história recente equatoriana e uma castigada economia após o fim da bonança petroleira, que serviu para modernizar o país e elevar seus índices de desenvolvimento, deixaram o correísmo desgastado.

O cientista político Simón Pachano, professor da Faculdade Latino-americana de Ciências Sociais (FLACSO), adverte que os resultados de um segundo turno nas eleições equatorianas foram surpreendentes.

"O Equador é o país onde mais vezes ocorreu reversão do resultado de primeiro turno", explicou à AFP.

Os equatorianos votaram muito condicionados pela deterioração econômica, produto, segundo o governo, de fatores externos, como a queda do petroleiro, a desvalorização de moedas vizinhas, o fortalecimento do dólar ou os custos com o terremoto de abril passado.

A oposição, ao contrário, viu uma possibilidade de atiçar o descontentamento das classes médias e baixas, que falam em esbanjamento e má gestão.

Moreno, cujo estilo conciliador contrasta com o temperamental Correa, representa a continuação de um sistema que combina um disparado gasto social, altos impostos e um endividamento elevado.

Lasso promete fomentar o investimento estrangeiro, diminuir os impostos para estimular o consumo e a produção.

"Independentemente de quem chegar à presidência se tornará o coveiro do socialismo do século XXI (como o governo de Correa costuma ser chamado), porque já não é viável com esta realidade econômica. Terá que fazer ajustes de uma maneira ou de outra", explica à AFP o economista Alberto Acosta-Burneo, consultor do Grupo Spurrier.

Assange e a esquerda

O resultado deste domingo pode ser decisivo para o fundador do WikiLeaks, Julian Assange, a quem o Equador mantém asilado em sua embaixada em Londres desde 2012 para evitar sua extradição para a Suécia para responder por supostos crimes sexuais que ele nega.

Moreno é partidário de manter o asilo, mas Lasso disse à AFP que, se chegar ao poder, vai retirá-lo.

Esta eleição também representa um novo teste para a esquerda da América Latina, após a guinada à direita em Brasil, Argentina e Peru.

Os equatorianos poderão frear o que Correa define como a "restauração conservadora" na região. Mas, se não o fizerem, deixarão sozinhas a Venezuela de Nicolás Maduro e a Bolívia de Evo Morales.

A corrupção, que está atingindo políticos da região, foi se instalando pouco a pouco como um tema durante a campanha.

São casos como o da petrolífera estatal Petroecuador, que envolveu um ex-ministro de Correa, e os dos supostos subornos da empreiteira Odebrecht a funcionários equatorianos, contabilizados em 33,5 milhões de dólares.

Os eleitores dirão se são "distorções" da campanha, como afirma Correa.

"Ocorreu corrupção neste e em muitos governos, talvez nos anteriores muito mais corrupção do que agora, mas neste momento estamos vendo o que se desenrolou", comenta, resignada, a funcionária Nora Molina após votar também no norte de Quito.