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OEA dividida discute crise na Venezuela

31/05/2017 18h31

Washington, 31 Mai 2017 (AFP) - Os chanceleres e representantes dos 34 países da Organização de Estados Americanos (OEA) iniciaram nesta quarta-feira, em Washington, uma aguardada reunião sobre a Venezuela, com divergências de ideias sobre como encontrar um caminho viável para o país, sacudido por uma profunda crise.

Trata-se da 29ª reunião de consultas da OEA no nível de chanceleres, mas as tensões provocadas pela convocação fizeram com que, até a véspera, apenas pouco mais da metade dos ministros de Relações Exteriores tenham confirmado sua presença.

Foi justamente a decisão do Conselho Permanente da OEA de convocar a reunião de consultas o que motivou a reação da Venezuela de iniciar formalmente a saída da entidade continental, um processo que deve demorar dois anos até se concretizar.

Desde que iniciou o processo, a Venezuela deixou de comparecer às reuniões na sede da OEA, embora algumas horas antes do início da consulta nesta quarta-feira tenha acreditado sua participação.

Os 34 países do bloco se credenciaram a participar da reunião de chanceleres, mas o encontro começou com a cadeira do representante venezuelano vazia.

Na abertura dos trabalhos, a delegação da Nicarágua expressou seu "mais firme repúdio e enérgica condenação" pelo gesto "inamistoso" da OEA de realizar una sessão de consultas sobre a situação na Venezuela sem o consentimento deste país.

Mas o chanceler mexicano, Luis Videgaray, afirmou que embora a solução da crise corresponda aos venezuelanos, "a comunidade internacional tem a responsabilidade de agir para que as partes consigam restabelecer a confiança e, assim, poder desenvolver um novo processo de negociação".

Impulso ao novo diálogoHá três propostas de Declaração que, com algumas diferenças de tom, pedem ao governo da Venezuela que desista de sua iniciativa de convocar uma Assembleia Constituinte, e proceda à libertação de presos por razões políticas.

Uma proposta é de Antiga e Barbuda, outra foi apresentada por Peru, Canadá, Estados Unidos, México e Panamá, e a terceira pelo bloco de países do Caribe, o CARICOM.

Mas as consultas nos bastidores podem resultar no avanço de uma proposta diplomática: estabelecer um Grupo de Contato, formado por vários países - inclusive de fora do continente - que atue como mediador de um novo esforço de diálogo entre o governo venezuelano e a oposição.

O diálogo não será fácil. Em Bruxelas, o presidente da Assembleia Nacional venezuelana, Julio Borges, disse que Constituinte convocada pelo presidente Nicolás Maduro é um "golpe de Estado".

Inclusive, horas antes da reunião dos chanceleres, haverá um encontro na embaixada do Canadá em Washington para ajustar o discurso e afinar uma posição comum.

Pelas regras deste conclave, as decisões vão requerer "dois terços dos votos dos países representados na reunião".

A pocas horas do início do encontro, os 34 países da OEA tinham se credenciado, com Venezuela, Bolívia, Equador e República Dominicana confirmado sua decisão no último minuto.

Neste quadro, para adotar qualquer decisão serão necessários 23 votos, um número que será difícil de alcançar, a menos que se consiga uma proposta negociada.

Superar a divisãoUm alto diplomata americano, que pediu para ter sua identidade preservada, mencionou nesta terça-feira a ideia do Grupo de Contato, destacando que as delegações analisam a "possibilidade de criar um grupo especializado, um grupo de contato, de países selecionados para acompanhar um novo processo de mediação ou negociação".

Enquanto isso, na véspera Videgaray disse em Miami que o México estava disposto a "assistir ao processo de acordo político através da mediação ou ser parte de algum instrumento de mediação" na Venezuela.

Caso a reunião não consiga adotar uma Declaração de Resolução, o diplomata americano sugeriu que a OEA poderia organizar outro encontro, possivelmente durante a Assembleia Geral que a entidade celebrará entre 19 e 21 de junho, no México.

Como em outras reuniões dedicadas à Venezuela, o que fará a balança inclinar será o bloco dos 14 países do Caribe, que incluem vários governos aliados de Caracas e que chegaram a se opor inclusive à convocação dos chanceleres.

O cenário sugere que os chanceleres começarão a reunião na capital americana sem que haja um grupo majoritário com os votos suficientes para fazer aprovar alguma decisão.

Será necessário negociar muito.

Uma centena de venezuelanos se amontoaram sob um sol inclemente em frente à sede da OEA, em Washington, para expressar seu repúdio ao governo venezuelano, ao qual qualificaram, aos gritos, de "ditadura", enquanto um punhado de pessoas gritavam logo atrás palavras de ordem a favor de Maduro.

"Estão matando nossos garotos", disse à AFP a venezuelana Auxiliadora Pacheco de 68 anos, pedindo aos chanceleres reunidos chegar a um acordo que permita "eleições livres" em seu país.