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Lula, o ícone da esquerda que quer voltar a governar, se a Justiça permitir

12/07/2017 16h27

Curitiba, 12 Jul 2017 (AFP) - Luiz Inácio Lula da Silva foi o presidente mais popular do Brasil (2003-2010) e é favorito, segundo pesquisas de opinião, às eleições de 2018. Mas a condenação a 9 anos e 6 meses decretada nesta quarta-feira por corrupção e lavagem de dinheiro pode arruinar suas pretensões.

A setença foi emitida pelo juiz de primeira instância Sérgio Moro, que determinou que Lula recebeu o luxuoso apartamento no Guarujá, balneário de São Paulo, da construtora OAS como retribuição de favores dentro da rede de propinas na Petrobras, o maior esquema de corrupção da história do Brasil.

Um esquema que, segundo o Ministério Público, tinha em Lula o "comandante máximo".

O combativo ex-líder sindical sempre negou enfaticamente e se considera vítima de uma perseguição que, segundo ele, contribuiu para a morte de sua esposa e companheira de batalha, dona Marisa Letícia, em fevereiro passado.

Tudo com o único objetivo de acabar, segundo ele, com sua carreira política e evitar que o Partido dos Trabalhadores (PT) volte ao poder depois da destituição de sua afilhada política, Dilma Rousseff, em 2016.

Mas Lula não pensa em facilitar essa campanha e só será impedido de disputar as presidenciais de 2018 se a sentença de hoje for confirmada em segunda instância.

"Eu conheci a fome e quando a gente conhece a fome, não desiste nunca", declarou recentemente.

- De engraxate a presidente - Nascido em outubro de 1945 em Caetés, Pernambuco, Lula conheceu desde o berço a pobreza dramática que castigava um terço dos brasileiros.

Sétimo filho de um casal de analfabetos, foi abandonado pelo pai antes de a família trocar o sertão pela promissora e industrial São Paulo, como milhares de outros retirantes.

Foi vendedor ambulante e engraxate. Aos 15 anos, iniciou a formação de torneiro mecânico, perdeu um dedo mindinho enquanto operava uma máquina e, no final da década de 1970, tornou-se líder sindical no comando de uma história greve que desafiou a ditadura (1964-85).

Brasília, no entanto, se fez esperar e em três ocasiões, ele foi derrotado como candidato à Presidência pelo PT, partido do qual foi fundador em 1980.

O líder a quem a revista Foreign Policy qualificaria posteriormente como um "astro de rock da cena internacional" chegou finalmente à Presidência de 2003 com promessas de justiça social.

Ao longo de seus dois mandatos, impulsionados pelos ventos favoráveis à economia mundial, 30 milhões de brasileiros saíram da pobreza.

Lula coroou seu mandato e sua popularidade mundial conquistando para o Brasil a sede da Copa do Mundo de futebol em 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016 para o Rio de Janeiro.

- A sombra da corrupção - Idealista, mas pragmático, Lula é considerado um mestre na arte de tecer alianças aparentemente antinaturais ou se desfazer de amigos incômodos.

Em 2005, decapitou a direção do PT envolvida no Mensalão, o escândalo da contabilidade milionária ilegal para pagar partidos e congressistas em troca de apoio político.

Lula conseguiu se manter à margem, foi reeleito em 2006 e em 2010 conseguiu eleger Dilma Rousseff.

Um ano depois de deixar o poder, foi diagnosticado com um câncer na laringe, o qual superou, embora tenha lhe deixado a voz áspera, com a qual declarou à Justiça ter sofrido uma "canalhice homérica" quando foi impedido de ser ministro de uma encurralada Dilma Rousseff.

No mesmo dia em que a polícia o levou para depor de madrugada, ele já tinha advertido: "Se tentaram matar a jararaca, não bateram na cabeça, bateram no rabo. A jararaca tá viva, como sempre esteve".