Tuítes incendiários de Trump preocupam a Ásia
Seul, 26 Set 2017 (AFP) - O presidente americano Donald Trump pode ter se aventurado em terreno perigoso ao lançar no Twitter tiradas interpretadas por Pyongyang como uma declaração de guerra, preocupando uma região acostumada a viver no fio da navalha, mas que já prevê a possibilidade de um conflito.
A propensão de Trump à diplomacia do tuíte cria, segundo analistas, uma situação volátil que erros de interpretação podem inflamar.
Trump, que tem se metido em uma disputa cada vez mais pessoal com Kim Jong-Un, chocou Pyongyang ao assegurar que o regime não duraria "por muito tempo". O Norte reagiu, acusando Washington de "declarar a guerra".
Se a Casa Branca considerou "absurda" tal suposição, o mal pode ter sido feito. A Coreia do Norte não lida bem com aquilo que percebe como ameaças contra o regime.
"Se tivermos uma guerra, será em razão de percepções falaciosas. Na realidade, não existe necessidade de conflito", considera Robert Kelly, professor de ciências políticas na Universidade Nacional de Pusan.
Isso não impede uma inflação das tensões, já em níveis elevados após o sexto teste nuclear realizado em 3 de setembro pela Coreia do Norte, que acaba de disparar dois mísseis sobre o Japão.
Após o teste nuclear, universitários chineses fizeram um apelo aberto a Pequim, que apoia Pyongyang, a rever sua posição.
Pyongyang "ignorou os esforços da China" para resolver a crise por meio do diálogo, constata Jia Qingguo, da Universidade de Pequim, em um artigo intitulado "É hora de se preparar para o pior com a Coreia do Norte".
Neste comentário, o primeiro de uma série de intervenções, Jia pede que Pequim inicie discussões urgentes com Washington e Seul.
- 'Transtornado' -"Quando a guerra se torna uma possibilidade real, a China deve estar pronta", diz Jia.
Para Kelly, a interpretação mais positiva das declarações belicosas de Trump é que visam persuadir a China, principal aliado e parceiro econômico da Coreia do Norte, "a parar de olhar para longe".
A China protege tradicionalmente o seu vizinho recluso e imprevisível do medo das consequências desestabilizadoras de um colapso do regime ou conflito.
Mas Pequim aprovou as últimas sanções das Nações Unidas contra Pyongyang. Ainda assim, Trump continua a atiçar o fogo.
Os dois países não mantêm contatos - sem embaixadas, poucas são as oportunidades para compromissos diplomáticos. As relações entre os Estados Unidos e a Coreia do Norte geralmente se desenrolam em plena luz do dia.
Trump é "mentalmente transtornado", "Kim é um pequeno rocket man": as relações parecem terem sido reduzidas ao nível de insultos escolares torna a situação perigosa, aponta Kim Hyun-Wook, professor na Academia Diplomática Nacional da Coreia.
"Os Estados Unidos e a Coreia do Norte não querem transformar isso em um conflito militar, mas se a guerra psicológica continuar, uma das partes pode inadvertidamente atravessar uma linha vermelha que levaria o outro a lançar uma contra-operação, resultando em um conflito armado", adverte.
Na semana passada, Pyongyang deu a entender que poderia responder aos insultos de Trump realizando um teste nuclear na atmosfera. A próxima vez que o Norte disparar um míssil, as apostas estarão altas, assim como os riscos de um erro de cálculo.
- Angústia -Na Coreia do Sul e no Japão, onde dezenas de milhares de soldados americanos estarão na linha de frente em caso de ataque norte-coreano, reina a angústia.
Em Seul, onde milhões de pessoas estão à mercê de um ataque convencional, ou mesmo químico, sem mencionar um ataque nuclear, a possibilidade de guerra é um modo de vida.
As estações de metrô também servem de abrigo e máscaras de gás estão disponíveis. Existem exercícios de simulação de ataque cerca de quatro vezes por ano.
Do outro lado do mar, o Japão se preocupa não apenas com a possibilidade de mísseis balísticos que possam transportar cargas químicas, biológicas ou nucleares, mas também o risco de ataques por pulsos eletromagnéticos (EMI) o que poderia destruir sua infraestrutura eletrônica.
O ministro japonês da Defesa, Itsunori Onodera, cujo orçamento acaba de aumentar, disse recentemente que o Japão considera "importante fortalecer sua resistência às armas IEM".
Em caso de tiros de mísseis, o arquipélago possui um sistema de aviso bem estabelecido, com mensagens de texto e alto-falantes.
No entanto, os japoneses teriam apenas alguns minutos para reagir a um ataque e muitos se sentem indefesos.
Em última análise, segundo Kelly, se a retórica diminuísse e Trump permanecesse longe de seu teclado, o relaxamento frágil que prevalece no Sudeste Asiático há décadas poderia ser restaurado. Mas com uma condição.
"Aprendemos a aprender com as armas nucleares soviéticas, chinesas maoístas e paquistanesas. Também podemos nos adaptar às armas nucleares da Coreia do Norte".
burs-klm/ev/lch/mr
TWITTER
A propensão de Trump à diplomacia do tuíte cria, segundo analistas, uma situação volátil que erros de interpretação podem inflamar.
Trump, que tem se metido em uma disputa cada vez mais pessoal com Kim Jong-Un, chocou Pyongyang ao assegurar que o regime não duraria "por muito tempo". O Norte reagiu, acusando Washington de "declarar a guerra".
Se a Casa Branca considerou "absurda" tal suposição, o mal pode ter sido feito. A Coreia do Norte não lida bem com aquilo que percebe como ameaças contra o regime.
"Se tivermos uma guerra, será em razão de percepções falaciosas. Na realidade, não existe necessidade de conflito", considera Robert Kelly, professor de ciências políticas na Universidade Nacional de Pusan.
Isso não impede uma inflação das tensões, já em níveis elevados após o sexto teste nuclear realizado em 3 de setembro pela Coreia do Norte, que acaba de disparar dois mísseis sobre o Japão.
Após o teste nuclear, universitários chineses fizeram um apelo aberto a Pequim, que apoia Pyongyang, a rever sua posição.
Pyongyang "ignorou os esforços da China" para resolver a crise por meio do diálogo, constata Jia Qingguo, da Universidade de Pequim, em um artigo intitulado "É hora de se preparar para o pior com a Coreia do Norte".
Neste comentário, o primeiro de uma série de intervenções, Jia pede que Pequim inicie discussões urgentes com Washington e Seul.
- 'Transtornado' -"Quando a guerra se torna uma possibilidade real, a China deve estar pronta", diz Jia.
Para Kelly, a interpretação mais positiva das declarações belicosas de Trump é que visam persuadir a China, principal aliado e parceiro econômico da Coreia do Norte, "a parar de olhar para longe".
A China protege tradicionalmente o seu vizinho recluso e imprevisível do medo das consequências desestabilizadoras de um colapso do regime ou conflito.
Mas Pequim aprovou as últimas sanções das Nações Unidas contra Pyongyang. Ainda assim, Trump continua a atiçar o fogo.
Os dois países não mantêm contatos - sem embaixadas, poucas são as oportunidades para compromissos diplomáticos. As relações entre os Estados Unidos e a Coreia do Norte geralmente se desenrolam em plena luz do dia.
Trump é "mentalmente transtornado", "Kim é um pequeno rocket man": as relações parecem terem sido reduzidas ao nível de insultos escolares torna a situação perigosa, aponta Kim Hyun-Wook, professor na Academia Diplomática Nacional da Coreia.
"Os Estados Unidos e a Coreia do Norte não querem transformar isso em um conflito militar, mas se a guerra psicológica continuar, uma das partes pode inadvertidamente atravessar uma linha vermelha que levaria o outro a lançar uma contra-operação, resultando em um conflito armado", adverte.
Na semana passada, Pyongyang deu a entender que poderia responder aos insultos de Trump realizando um teste nuclear na atmosfera. A próxima vez que o Norte disparar um míssil, as apostas estarão altas, assim como os riscos de um erro de cálculo.
- Angústia -Na Coreia do Sul e no Japão, onde dezenas de milhares de soldados americanos estarão na linha de frente em caso de ataque norte-coreano, reina a angústia.
Em Seul, onde milhões de pessoas estão à mercê de um ataque convencional, ou mesmo químico, sem mencionar um ataque nuclear, a possibilidade de guerra é um modo de vida.
As estações de metrô também servem de abrigo e máscaras de gás estão disponíveis. Existem exercícios de simulação de ataque cerca de quatro vezes por ano.
Do outro lado do mar, o Japão se preocupa não apenas com a possibilidade de mísseis balísticos que possam transportar cargas químicas, biológicas ou nucleares, mas também o risco de ataques por pulsos eletromagnéticos (EMI) o que poderia destruir sua infraestrutura eletrônica.
O ministro japonês da Defesa, Itsunori Onodera, cujo orçamento acaba de aumentar, disse recentemente que o Japão considera "importante fortalecer sua resistência às armas IEM".
Em caso de tiros de mísseis, o arquipélago possui um sistema de aviso bem estabelecido, com mensagens de texto e alto-falantes.
No entanto, os japoneses teriam apenas alguns minutos para reagir a um ataque e muitos se sentem indefesos.
Em última análise, segundo Kelly, se a retórica diminuísse e Trump permanecesse longe de seu teclado, o relaxamento frágil que prevalece no Sudeste Asiático há décadas poderia ser restaurado. Mas com uma condição.
"Aprendemos a aprender com as armas nucleares soviéticas, chinesas maoístas e paquistanesas. Também podemos nos adaptar às armas nucleares da Coreia do Norte".
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