Boca de urna: coalizão de Macri vence legislativas argentinas
A coalizão do presidente da Argentina, Mauricio Macri, se impôs nas eleições legislativas de meio mandato, segundo pesquisas de boca de urna citadas pelos canais de televisão "TN" e "América 24".
"Cambiemos (aliança macrista) ganha em nível nacional", disse o "TN", sem revelar números.
De acordo com a Junta Eleitoral, a participação foi muito alta, com o comparecimento às urnas de 78% dos 33,1 milhões de eleitores.
"As pessoas puderam se expressar em uma jornada democrática sem quase nenhum sobressalto", assegurou o chefe de Gabinete, Marcos Peña, em coletiva de imprensa.
A segunda força, segundo as pesquisas de boca de urna, é o Unidad Ciudadana (peronistas de centro-esquerda), o partido da ex-presidente Cristina Kirchner, que deve obter um assento como senadora pela província de Buenos Aires.
Os argentinos votaram em massa neste domingo (22), nessas legislativas em que a coalizão de Macri aparecia como favorita. As seções eleitorais fecharam às 18h locais (19h em Brasília).
"É muito lindo que vamos todos votar e expressar em que Argentina queremos viver", disse o presidente após votar em uma escola de Buenos Aires.
Os resultados definitivos são esperados para sair na madrugada desta segunda-feira (23).
As pesquisas de opinião apontavam uma vantagem ao macrismo, como primeira força nacional. Macri liderou a campanha oficialista para aprofundar suas reformas econômicas e sociais liberais e pró-mercado.
Mas Kirchner (2007-2015), que concorreu pelo Unidad Ciudadana na província estratégica de Buenos Aires --que concentra quase 40% dos eleitores--, aspira a um assento no Senado para "colocar um freio" a Macri em sua política de ajustes tarifários, financiamento do déficit fiscal com dívida e flexibilização das leis trabalhistas.
O presidente, por sua vez, pediu que o país "não retorne ao passado" de um "populismo que alterou a cabeça do povo".
"Uma vitória de Macri é um sinal de saída do populismo e um sinal de que o rumo econômico se mantém", afirmou o cientista político Rosendo Fraga, da consultora Nueva Mayoría.
Os eleitores votaram para renovar metade da Câmara dos Deputados, de 254 assentos, e um terço do Senado, de 72 assentos.
A votação ocorreu com normalidade em todo o país. Em Mar del Plata (sul), candidatos do pequeno Frente de Izquierda foram detidos por manter aberto um local partidário.
Polarização
A mãe de todas as batalhas foi travada na província de Buenos Aires. "Existe uma intensificação da polarização em relação às primárias de agosto", aponta o cientista político Facundo Nejamkis, da Opina Argentina.
Em agosto, Kirchner prevaleceu na província por uma pequena margem, mas o macrismo foi o mais votado a nível federal.
Com Esteban Bullrich, um político pouco carismático, enfrentando Kirchner, a campanha macrista esteve a cargo da governadora provincial, María Eugenia Vidal, cuja imagem é inclusive melhor que a de Macri, após ela ter vencido o peronismo em seu bastião em 2015.
Oito empresas de pesquisas preveem para o macrismo uma diferença média maior que 3,5% na estratégica província.
O governo de Kirchner foi criticado pelo macrismo por ter manipulado estatísticas de inflação, entre outras denúncias. Mas a ex-presidente se tornou a principal figura opositora à administração de Macri.
Kirchner deve responder ante a Justiça por supostos casos de corrupção com fundos de obras públicas, que ela nega, alegando que há "uma perseguição política" orquestrada pelo governo para destruí-la.
Macri, engenheiro de família rica cujo trampolim para a política foi seu cargo como presidente do clube Boca Juniors, foi denunciado pelo escândalo "Panama Papers", mas a justiça rapidamente o absolveu.
Macrinomics
Cambiemos é uma aliança de partidos de direita, centro-direita e social-democratas da histórica União Cívica Radical.
Macri, sem uma maioria parlamentar, conseguiu adotar leis por meio de acordos com peronistas inimigos de Kirchner e governadores cujas finanças dependem dos fundos do governo federal.
O primeiro ano do presidente foi marcado por uma grande queda de popularidade, de quase 30%. A economia caiu 2,3%.
Mas a atividade econômica passou a crescer, a 1,6% no primeiro semestre. Os indicadores positivos ainda não alcançaram aqueles da primeira década do século, sob os governos kirchneristas, mas Macri diz confiar na reinserção do país no cenário mundial.
O presidente argentino é apoiado pelos Estados Unidos, União Europeia e órgãos internacionais de crédito.
Ele acaba de receber elogios no recente colóquio do IDEA, o maior fórum empresarial argentino.
Na última semana, a campanha eleitoral teve que ser suspensa em razão da descoberta do cadáver de um ativista que apoiava os indígenas mapuches desaparecido há 78 dias após a repressão policial na Patagônia. O caso comoveu o país, mas parece não ter sido suficiente para alterar as tendências da votação.
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