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Temer é hospitalizado, enquanto deputados votam denúncia contra ele

25/10/2017 17h14

Brasília, 25 Out 2017 (AFP) - O presidente Michel Temer foi hospitalizado nesta quarta-feira (25) com problemas urológicos, enquanto a Câmara dos Deputados discutia se freava ou dava sinal verde a uma denúncia contra ele como suposto chefe de uma "organização criminosa" de corrupção.

O chefe de Estado, de 77 anos, "teve um desconforto no fim da manhã de hoje", informou a Presidência em um breve comunicado. O médico de plantão no Palácio do Planalto "constatou uma obstrução urológica e recomendou que fosse avaliado no Hospital do Exército", onde o presidente está internado.

Em nota posterior, a fonte acrescentou que Temer foi submetido a "uma sondagem vesical de alívio por vídeo", procedimento que consiste no esvaziamento da bexiga devido à retenção urinária, e que ele "está em repouso, passa bem e deverá ter alta ainda hoje".

A notícia da hospitalização do presidente veio à tona enquanto a Câmara, de maioria governista, começava a debater a segunda denúncia contra Temer, que poderia lhe custar o cargo. No entanto, analistas avaliam que o presidente superará esta provação, como fez comodamente em sua primeira denúncia por corrupção, em agosto.

Temer, de 77 anos, que assumiu o poder em 2016 após o impeachment de Dilma Rousseff, encabeçou nos últimos dias as negociações para se assegurar de que a oposição não conseguirá a maioria de 342 votos (dois terços dos 513 assentos), necessária para que a causa seja encaminhada ao Supremo Tribunal Federal (STF).

A hospitalização de Temer pegou a todos de surpresa, depois que em 11 de outubro a Presidência informou que um check-up médico havia detectado uma obstrução arterial coronariana "leve" que Temer deveria tratar com aspirina e dieta.

- Sessão acalorada -A sessão na Câmara começou com um protesto de deputados opositores que se negaram a registrar sua presença no plenário para evirar dar o quórum de 342 legisladores necessário para poder votar.

Por volta das 15H30, a situação multiplicava os pedidos para que os opositores comparecessem e os mais otimistas esperavam que a votação terminasse esta mesma noite.

Depois de ter sido denunciado por corrupção passiva, Temer foi acusado pela Procuradoria-geral da República (PGR) de liderar uma "organização criminosa" para espoliar o Estado, ao receber 587 milhões de reais em propina no âmbito de uma gigantesca saga que salpicou os principais partidos tanto de direita, quanto de esquerda.

As acusações também atingiram dois de seus principais ministros: o chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, e o secretário-geral da Presidência, Moreira Franco.

Embora se espere que Temer volte a salvar seu mandato, o desgaste sofrido por um governo com apenas 3% de popularidade traz questionamentos sobre suas chances para aprovar medidas de reajuste reivindicadas pelos mercados, incluindo uma espinhosa reforma do sistema previdenciário faltando um ano para as eleições de 2018.

- Generosas 'dádivas' a aliados -Na abertura da sessão, o deputado governista Bonifácio Andrada (PSDB-MG), relator do caso na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), pediu que os legisladores rejeitem a denúncia por considerá-la "infundada, mentirosa, vazia, falsa" e não autorizem o Supremo Tribunal Federal (STF) a analisá-la.

Se fosse elevada a juízo, Temer seria suspenso e poderia perder o cargo.

O governo liberou emendas orçamentárias e aprovou medidas polêmicas, como um corte nas multas ambientais para as empresas, o que levou deputados opositores, como Jandira Feghali (PCdoB-RJ) a denunciar que correram "muitos milhões" para agradar a base aliada.

O jornal o Estado de S. Paulo avaliou nesta quarta-feira em 32,1 bilhões de reais o custo das dádivas concedidas a deputados entre junho e outubro.

Os governistas, por sua vez, apostavam em repetir o resultado da primeira denúncia - 263 votos a 227 - e lançar de imediato uma campanha para impulsionar as reformas econômicas pendentes.

"Estamos a menos de um ano do processo eleitoral e precisamos virar a página e nos concentrarmos de imediato na agenda econômica", disse à AFP o deputado Pauderney Avelino (DEM-AM).

Por outro lado, Feghali destacou que esperavam que se Temer conseguir salvar a pele será "importante que o governo saia fragilizado porque teria menos força para aprovar emendas constitucionais como as aposentadorias".

Acusado de "traidor" por Dilma Rousseff, de quem era vice-presidente, Temer agora busca concluir seu mandato em 1º de janeiro de 2019.

Sua associação com o Congresso lhe deu sustentação para aplicar um programa econômico ortodoxo, que visa a deixar para trás a pior recessão da história do Brasil, mas com a proximidade das eleições de 2018, todas as votações sensíveis podem se transformar em uma faca de dois gumes.

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