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Mnangagwa está pronto para assumir controle do Zimbábue

23/11/2017 12h20

Harare, 23 Nov 2017 (AFP) - O sucessor do presidente Robert Mugabe, Emmerson Mnangagwa, preparava-se nesta quinta-feira (23) para assumir o controle do Zimbábue, tendo como prioridade a reconstrução de sua economia, arruinada após 37 anos de reinado de seu predecessor.

O novo homem forte do país tomará posse oficialmente nesta sexta (24), três dias após a renúncia histórica do mais velho chefe de Estado do mundo que, aos 93 anos, cedeu sob a pressão do Exército, das ruas e de seu partido.

A cerimônia promete ser grandiosa. O partido Zanu-PF convocou os "zimbabuenses de todas as partes" a estarem amanhã, a partir das 8h30 (4h30 de Brasília), no Estádio Nacional com capacidade para 60 mil lugares.

"Venha ser testemunha da História, dos nossos primeiros passos em uma nova era e de um país melhor liderado por nosso camarada adorado ED Mnangagwa", proclamaram os organizadores em um cartaz na capital Harare.

Em um comunicado, o Exército também previu uma "manifestação maciça" e felicitou a população por seu "bom comportamento" desde o início da crise.

Aos 75 anos, Mnangagwa, um fiel do regime, cuja ânsia pelo poder foi por muito tempo frustrada, tem agora sua revanche. Mas, o "crocodilo" - como é apelidado pelos zimbabuanos - não terá missão fácil.

"Ele herda uma economia em frangalhos, um partido dividido e uma população que tem expectativas muito altas", considerou nesta quinta-feira o jornal de oposição NewsDay.

- 'Nova democracia' -Na quarta-feira (22), algumas horas após seu retorno de um breve exílio, Mnangagwa reservou seu primeiro discurso presidencial a algumas centenas de partidários reunidos em frente à sede do Zanu-PF.

"Hoje, estamos testemunhando o início de uma nova democracia", lançou, antes de fazer um apelo a "todos os patriotas do Zimbábue (...) a trabalharem juntos".

"Queremos impulsionar nossa economia, queremos empregos", prometeu Mnangagwa. "Eu juro ser o servo de vocês", assegurou.

Ele foi "muito claro sobre o que precisamos: trabalho, trabalho, trabalho. Só temos mais uma coisa a ser adicionada. Precisamos criar empregos reais e bem remunerados", comentou nesta quinta-feira o jornal estatal The Herald.

Com uma taxa de desemprego estimada em 90%, os zimbabuanos vivem de bicos na economia informal. Outros emigraram, muitas vezes para o gigante sul-africano vizinho.

Robert Mugabe deixou uma economia destruída por suas devastadoras reformas. A atividade econômica avança lentamente, falta dinheiro, e o fantasma da hiperinflação assusta.

Em face dessa crise, as expectativas da população são enormes.

"Quase chorei ao ouvir nosso novo presidente. Ele me deu esperança", disse à AFP McDonald Mararamire, um desempregado de 24 anos de idade, acrescentando que "esperemos que suas promessas se tornem realidade".

Considerado por muito tempo o sucessor de Robert Mugabe, Emmerson Mnangagwa foi demitido em 6 de novembro por ordem da primeira-dama, que esperava suceder ao marido.

Sua destituição provocou na noite de 14 a 15 de novembro um golpe do Exército, categoricamente contra à chegada de Grace Mugabe ao poder. Após resistir por vários dias, Robert Mugabe finalmente renunciou, sob a ameaça de um processo de impeachment lançado por seu próprio partido.

A chegada de Emmerson Mnangagwa levanta, porém, algumas preocupações. Pilar do aparato de segurança há quatro décadas, é apontado como o executor do trabalho sujo do ex-presidente.

Como lembrado pela ONG Anistia Internacional, "dezenas de milhares de pessoas foram torturadas, desaparecidas, ou morreram" durante a era Mugabe.

Prudente, a oposição expressou sua preferência pelo estabelecimento de um governo de unidade nacional até as próximas eleições, previstas para 2018.

"Os generais e Mnangagwa devem perceber que, derrubando Mugabe, também libertaram o gênio da democracia de sua lâmpada", comentou Peter Fabricius, do Instituto de Estudos de Segurança (ISS) de Pretória.

bur-pa/chp/sba/mr/tt