Topo

TOPSHOTS Vítimas de ataques com ácio da Índia participam de desfile de alta costura

25/11/2017 17h29

Nova Délhi, 25 Nov 2017 (AFP) - Nove mulheres que tiveram seus rostos desfigurados por ataques com ácido subiram na passarela, neste sábado (25), no primeiro desfile de alta costura para sobreviventes deste flagelo crescente na Índia.

As mulheres, quase todas vítimas de seus maridos ou parentes próximos, desfilaram em roupas doadas por estilistas indianos de luxo, como Rohit Bal, Ranna Gill e Archana Kochhar. Nenhuma delas cobriu o rosto.

"Estava muito nervosa", disse Meena Khatoon, após atravessar a passarela. Mas a mulher de Nova Délhi, que foi atacada pelo ex-marido, insistiu que tinha algo a provar.

"As pessoas costumavam olhar para o outro lado quando eu saía. Elas mudavam de direção quando me viam. Eu encarei vários problemas", disse Khatoon à AFP.

"Mas um dia eu pensei: se você pensa assim, então que seja. Eu preciso construir minha vida, quero que meu filho estude e tenho que bancá-lo".

Khatoon atualmente é dona de uma pequena empresa de conserto de celulares.

Ela tem recebido apoio da ONG Make Love Not Scars (faça amor, não cicatrizes), que organizou o desfile em Nova Délhi. O grupo ajuda sobreviventes a reconstruírem suas vidas e, em muitos casos, seus rostos.

A organização também apoia Reshma Bano Qureshi, de 20 anos, que participou na semana de moda de Nova York no ano passado e atualmente escreve um livro, que será lançado em 2018.

Qureshi, atacada há três anos por seu cunhado, que achou que estava jogando ácido na própria mulher, também teve medo de sair de casa.

"Eu temia que isso acontecesse de novo. Eu me incomodava com a reação das pessoas para mim nas ruas. Elas olhavam para o outro lado", lembra.

"As pessoas diziam: o que aconteceu com você? Diziam que ninguém ia casar comigo, que com uma cara deformada você não é bonita. Mas eu tenho orgulho e confiança em quem eu sou. Quero que saibam que não é o rosto o que lhe torna bonita, mas o coração".

Segundo a ONG, centenas de casos de ataques com ácido são registrados todo ano, mas estima-se que o crime seja subnotificado.