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Europa perde espaço na África, e China avança

27/11/2017 13h48

Abidjan, 27 Nov 2017 (AFP) - Por sua história, a Europa continua a ser a principal figura estrangeira na África, mas o Velho Continente perdeu terreno para novas potências, como a China, país que é, hoje, seu principal parceiro comercial, ou Brasil.

"A Europa é o parceiro mais antigo, por isso deixa margem aos demais, é uma evolução lógica. Mas é a Europa que está à frente, tem uma história comum", resume o professor de Ciência Política Pierre Dagbo, da Universidade Félix-Houphouët-Boigny, de Abidjan, e autor de "A diplomacia africana, teoria e prática".

"A Europa é o primeiro parceiro comercial, o primeiro investidor, o primeiro provedor de fundos", confirma uma fonte diplomática de Bruxelas.

Em 2015, as trocas entre Europa e África foram de 286 bilhões de euros, com uma balança comercial favorável para a UE de 22 bilhões.

O Velho Continente investiu um valor similar - 21 bilhões de euros - em ajuda à África, cifra muito superior às de Estados Unidos e China neste setor.

"Quando dizem que a China superou a Europa, é preciso relativizar. A Europa continua a ter seu lugar", explica uma fonte diplomática em Abidjan.

As cifras mostram, contudo, que a concorrência é cada vez mais dura.

Segundo o ministro chinês do Comércio, o volume de trocas comerciais entre China e África alcançou 149,2 bilhões de dólares em 2016.

Além disso, pelo oitavo ano seguido, a China é o maior parceiro comercial da África, muito à frente de França e Alemanha.

Essa questão, bem como imigração e segurança, será discutida na quinta cúpula entre União Europeia e a União Africana, que acontece nesta quinta-feira em Abidjan, onde são esperados 83 chefes de Estado e de governo, além de 5 mil participantes de 55 países africanos e 28 europeus.

- 'Política agressiva' da China -A China está realizando uma política de doações e empréstimos com juros muito baixos, que lhe permitem participar de grandes projetos de infraestrutura.

"Têm uma política muito agressiva, no bom sentido da palavra, em empréstimos, que seduz os Estados" africanos, aponta um observador econômico.

"Os aspectos que mais atraem as empresas chinesas para a África são o potencial de desenvolvimento, os recursos (naturais) e o mercado", explica o professor de Relações Internacionais Xu Tiebing, da Universidade de Comunicação da China.

"O governo chinês tem o 'complexo do Sul'. Acredita que, quando o Sul for poderoso, o mundo será mais equilibrado. Acham que, como um dos três polos de desenvolvimento no mundo - Europa e América do Norte - estão descendendo, África, América Latina e Ásia são o destino natural dos investimentos chineses", acrescenta.

O Bric (acrônimo de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) também ganhou protagonismo no continente. Especialmente o Brasil, que tem relações históricas com o continente africano e estendeu sua influência aos países lusófonos, apesar de a atividade ter sido freada pela crise política nacional.

O comércio Brasil-África representou 12,433 bilhões de dólares (7,83 bilhões de exportações brasileiras) em 2016, menos do que em 2013, quando era de 28,5 bilhões.

"Com [o presidente] Lula (2003-2010), as relações entre Brasil e África viveram um período de muita intensidade", aponta o professor de Relações Internacionais Pio Penna Filho, da Universidade de Brasília (UnB).

Com a chegada de Dilma Rousseff e, em seguida, de Michel Temer, porém, o Brasil "não encerrou sua política africana, mas diminui a intensidade", devido à crise.

Dagbo destaca que, a partir de agora, a África terá de inverter as tendências das balanças comerciais, para que o restante do mundo deixe de considerá-la uma "região de matérias-primas".

"É preciso sair das relações hegemônicas da colonização e criar as condições para que a África se desenvolva de forma endógena", afirma.