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O 'Ohio catalão' prevê uma vitória independentista

20/12/2017 16h36

Fogars de la Selva, Espagne, 20 dez 2017 (AFP) - Aos pés de um maciço montanhoso e rodeada por florestas, Fogars de la Selva é o oráculo das eleições catalães, já que seus resultados vêm refletindo a tendência de toda a região. Um povoado onde muitos apostam em uma vitória independentista.

"Fogars de la Selva é o Ohio catalão", assegura a rádio catalã Rac1, em referência ao estado americano onde, tradicionalmente, o candidato vencedor chega à Casa Branca. "Quem venceu em Fogars de la Selva já esteve na presidência em 11 eleições catalãs que realizamos".

Isabel Tresseras, de 54 anos, faz parte dos que novamente votarão por Carles Puigdemont, o presidente separatista catalão destituído pelo governo central espanhol de Mariano Rajoy, e que está em Bruxelas para evitar ser detido por rebelião, sedição e malversação de fundos.

Sua nova casa tem uma cúpula decorada com a bandeira regional, e batizada pomposamente de "Praça Catalunha".

Em sua sala destacam-se a árvore de Natal, a cheirosa sopa de galinha posta sobre a mesa e três novelos de lã amarela.

"Estou fazendo um cachecol amarelo para mim", a cor dos que protestam contra a prisão de quatro dirigentes separatistas, processados por seu envolvimento no processo que desembocou na declaração unilateral de independência de 27 de outubro.

Agente comercial desempregada desde 2009, Isabel diz ser uma separatista de recente conversão.

Segundo ela, se Madri tivesse negociado um acordo fiscal vantajoso com a Catalunha em 2012, "hoje haveria somente quatro gatos pingados independentes".

A vizinha de Isabel, Presentación Espínola, catalã de origem andaluz de 64 anos, passeia com dois cachorros salsicha, um deles usando uma meia com as cores do Barça. Está em dúvida entre a formação de Puigdemont e a do vice-presidente destituído e preso, Oriol Junqueras.

Segundo as pesquisas, o primeiro lugar será decidido entre o partido independentista de Junqueras, Esquerda Republicana da Catalunha, e a formação liberal Cidadãos, oposta à secessão e defensora da unidade da Espanha.

- Um eleitorado independentista consolidado -Mas como estão os ânimos neste povoado de 1.452 habitantes, situado a 60 quilômetro a nordeste de Barcelona?

Em 2015, a localidade deu maioria à coalizão separatista liderada por Puigdemont e Junqueras, seguida pelo Cidadãos e pelo Partido Socialista.

Dois anos mais tarde, "os eleitores independentistas não vão mudar de voto", assegura Violeta Peláez, uma aposentada de 66 anos e única vereadora socialista na Câmara, dominada pelos secessionistas.

Não obstante, constata ao seu redor que o "Cidadãos está subindo muito no povoado", enquanto o Partido Popular de Mariano Rajoy "perdeu muitos votos".

No terraço de casa, Javier López, gerente comercial em um banco e de 31 anos, diz que vai votar pelo Cidadãos. Gosta desse partido porque é "de jovens", que ainda não governou e que "por enquanto não teve problemas de corrupção".

Javier López considera "um ato de covardia" o fato de Puigdemont ter ido para a Bélgica após a declaração unilateral de independência, "algo inexplicável" já que a metade dos catalães não a queriam.

"Não são mais catalães por serem independentistas", afirma este jovem que costuma falar em catalão com suas filhas e seus amigos de trabalho.

- "Confiavam muito na Europa" -A localidade começa por uma estrada margeada por casas novas. Conta com três condomínios e mais de 100 fazendas espalhadas pelo município.

Em meio a um campo onde estão queimando ramos de álamos, Francesc Rabassa, agente florestal de 55 anos, conta que votou em 2015 pela coalizão independentista, assim como muitos agricultores.

Mas acredita que com a declaração unilateral de independência "se precipitaram um pouco".

"Confiavam muito na Europa, que lhes fechou as portas, e ficaram sozinhos", constata.

Rabassa preferia que Puigdemont renunciasse a essa proclamação sem efeito, embora continue confiando nele, e apesar de sua destituição por Madri, o considera seu presidente.

Como muitos, Francesc disse ter se tornando independentista desde que a direita voltou ao poder na Espanha em 2011, e quer que haja diálogo "e que a Europa intervenha".

Em Fogars o céu está cinza, uma alegoria da melancolia que paira.

"Há uma tensão. No fundo, estamos todos preocupados", diz Marisa, funcionária em um posto de gasolina, de 48 anos. Chegou há 26 anos do sul da Espanha, e faz parte dos que esperam "uma mudança" de maioria no Parlamento catalão.