Topo

Familiares de vítimas marcharão em protesto contra indulto a Fujimori

27/12/2017 18h32

Lima, 27 dez 2017 (AFP) - O presidente peruano Pedro Pablo Kuczynski sofreu nesta quarta-feira (27) a primeira baixa de seu gabinete pelo controverso indulto que concedeu ao ex-governante Alberto Fujimori.

Três dias depois do perdão presidencial a Fujimori, o popular ministro da Cultura do Peru, Salvador del Solar, anunciou sua renúncia no Twitter.

"Apresentei minha renúncia ao cargo do Ministro da Cultura", tuitou Del Solar, que sempre foi contra o indulto a Fujimori, concedido na véspera de Natal.

O presidente executivo da televisão e da rádio públicas, Hugo Coya, também apresentou sua renúncia pelo indulto que dividiu o Peru, confirmou o próprio Coya à AFP.

Kuczynski juramentou nesta quarta-feira o novo ministro do Interior, o general na reserva Vicente Romero, em substituição a Carlos Basombrío, que renunciou após a denúncia de corrupção contra o presidente, no caso de subornos da construtora Odebrecht.

Enquanto isso, familiares das vítimas da repressão sob o regime de Alberto Fujimori, organizações políticas e de direitos humanos se mobilizaram nesta quarta-feira para pedir a anulação do indulto ao ex-presidente.

"É a segunda vez que confiei em um presidente e que ele me decepcionou", disse com pesar à AFP Rosa Rojas, que perdeu seu marido e seu filho de 8 anos na chacina de Barrios Altos, em Lima, executada por um esquadrão militar em 3 de novembro de 1991.

Esse perdão desatou uma nova tempestade política contra Kuckynski, que também sofreu a perda de três legisladores que abandonaram o partido de governo.

Vários grupos políticos e de vítimas do governo de Fujimori convocaram uma marcha para esta quinta-feira em Lima, enquanto uma organização peruana disse que solicitou a intervenção da Corte Interamericana de Direitos Humanos, com sede em San José.

"Acreditamos que é um indulto ilegal, porque não reúne as condições que a própria lei peruana estabelece para conceder indulto", declarou à AFP Gisela Ortiz, irmã de um dos nove estudantes que, com um professor, foram sequestrados por um esquadrão militar da Universidade La Cantuta e assassinados em uma zona rural perto de Lima, em 18 de julho de 1992.

- Outras 48 horas -Fujimori, de 79 anos, está internado em uma clínica desde sábado por problemas circulatórios, foi condenado no fim de 2007 a 25 anos de prisão pelos massacres de Barrios Altos e La Cantuta, além dos sequestros de um jornalista e um empresário em 1992.

Formalmente, ele já cumpriu 12 anos de pena, pois a Justiça também considera o período que passou em prisão domiciliar no Chile, antes de ser extraditado para o Peru.

O ex-presidente ainda chegou a ser condenado por corrupção, mas a sentença não se soma aos 25 anos da maior pena, segundo a legislação peruana.

Fujimori continuará hospitalizado pelo menos outras 48 horas e estará "com visitas restritas", salvo para a família, disse seu médico, Alejandro Aguinaga.

"Quando seu coração estiver funcionando normalmente, ele sairá", afirmou Aguinaga. "O problema mais sério que ele tem é a fibrilação auricular".

- Humanidade vs. política -Kuczynski invocou razões humanitárias para outorgar o indulto diante dos problemas de saúde de Fujimori. Contudo, muito peruanos veem a decisão como resultado de uma negociação política, que teria permitido ao presidente salvar seu mandato no Congresso na semana passada, após ter mentido sobre seus vínculos com a empreiteira brasileira Odebrecht.

A abstenção de 10 legisladores do Força Popular, incluindo Kenji Fujimori, filho caçula do ex-presidente, foi crucial para o fracasso do impeachment, impulsionado pelo partido Força Popular, liderado por Keiko Fujimori, filha do ex-mandatário.

Na terça-feira, Fujimori pediu desculpas pelos atos de seu governo.

"Estou consciente de que os resultados durante meu governo por um lado foram bem recebidos, mas reconheço que também decepcionei outros compatriotas. A eles, peço perdão de todo meu coração", disse o ex-presidente em um vídeo divulgado pelo Facebook.

O indulto foi duramente criticado pelo escritório do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos e pela organização Human Rights Watch, entre outras.

Alguns parentes das vítimas lamentaram ter votado em Kuckzynski, que derrotou Keiko Fujimori no segundo turno, capitalizando o voto antifujimorista.

"Eu votei nele no primeiro e de no segundo turno. E acreditei nele", lamentou Rosa Rojas, de 52 anos, que ainda chora a morte do filho e do marido.