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Mesmo derrotado, Estado Islâmico inspira e ainda é ameaça global

27/12/2017 09h38

Paris, 27 dez 2017 (AFP) - O ano de 2017 marcou a derrota do grupo Estado Islâmico (EI), que perdeu grande parte de seu autoproclamado califato entre o Iraque e a Síria. No entanto, a organização extremista está se adaptando e continua a ser uma ameaça, alertam especialistas.

As primeiras horas do ano foram marcadas pela morte de 39 pessoas, vítimas de um uzbeque descrito como um "soldado califado", que abriu fogo em uma boate em Istambul, durante uma festa de Ano Novo.

Armando diretamente os jihadistas ou inspirando com propaganda na internet, o EI foi responsável por dezenas de ataques, principalmente durante a primeira metade do ano, no Paquistão, Iraque, Síria, Afeganistão, Egito, Somália e Reino Unido, entre outros.

Um dos ataques mais dramáticos ocorreu em maio, quando um homem-bomba, Salman Abedi, um jovem britânico de origem líbia, matou 22 pessoas explodindo uma bomba após um show em Manchester.

Barcelona, Jerusalém, Londres e Estocolmo também foram palcos de ataques com veículos lançados contra multidões indefesas. Este tipo de atentado, que segue à risca as instruções do EI, é difícil de prevenir.

Esses atentados, que resultaram na morte de milhares de pessoas, ocorreram apesar do desmantelamento quase total da estrutura terrestre da organização no Iraque e na Síria após uma ofensiva coordenada lançada no outono de 2016.

O EI havia criado um braço encarregado de gerenciar sua rede no exterior, recrutar jihadistas, financiar e dirigir seus ataques. Mas seu desaparecimento não acabou com os atentados.

"Certamente o EI foi derrotado militarmente", afirma à AFP Yves Trotignon, analista antiterrorista, "mas ainda conta com cerca de 3.000 combatentes na Síria e no Iraque, o que é representativo. Além disso, é preciso lembrar que em 2009 os predecessores do Estado Islâmico no Iraque foram derrotados militarmente, mas em dois anos e meio já estavam restabelecidos após a revolução síria".

- Ameaça segue viva - A maneira como o EI vai ser tratado será crucial para evitar que a comunidade sunita seja seduzida, em alguns meses ou anos, por outro movimento jihadista que busque defender seus interesses, estimam vários especialistas.

A longa lista de ataques ou atentados frustrados em 2017 é um sinal de que o movimento jihadista, dentro do qual não devemos esquecer a rede Al-Qaeda, resiste.

"A cirurgia no Iraque e na Síria foi bem sucedida, mas, como aconteceu no Afeganistão com a Al-Qaeda, o câncer tem metástase e o jihadismo se deslocou para outros territórios", acrescenta Yves Trotignon.

"O EI foi derrotado, mas a ameaça terrorista não desapareceu. Evoluiu em termos de atores e formas de ação. Os investigadores americanos estimam que o fenômeno durará várias gerações".

O coronel americano Ryan Dillon, porta-voz da coalizão antijihadista liderada pelos Estados Unidos, disse recentemente que os combatentes do EI "continuam sendo uma ameaça, embora já não sejam um exército como em 2014".

As tropas americanas começaram a se retirar. Em 30 de novembro, o Pentágono anunciou o retorno ao seu país de 400 agentes implantados na Síria.

O massacre no Egito, no final de novembro, de 305 pessoas, adeptos do sufismo - uma corrente mística do islamismo - em uma mesquita, mostra que alguns extremistas optam por ataques cada vez mais mortais e indiscriminados.

"As facções do EI no Egito, na Líbia, no Iêmen, bem como no Afeganistão e no Sudeste Asiático, continuam a ser uma grande ameaça", estima Jean-Pierre Filiu, professor de ciências sociais em Paris.

"E a propaganda jihadista, embora menos intensa que durante o 'califado', continua alimentando grupos em todo o mundo", ressalta.