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Maduro se declara 'às ordens' para reeleição em eleições adiantadas

23/01/2018 21h17

Caracas, 23 Jan 2018 (AFP) - A Assembleia Nacional Constituinte, que governa a Venezuela com poder absoluto, convocou nesta terça-feira (23) para antes de 30 de abril as eleições presidenciais, para as quais o presidente Nicolás Maduro se declarou "às ordens".

Se o governante do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) "achar que devo ser o candidato presidencial dos setores revolucionários (...), estou às ordens", disse Maduro à imprensa em Caracas.

Durante a sessão na qual a Constituinte concordou em antecipar a votação, prevista inicialmente para o fim do ano, Diosdado Cabello - membro da assembleia e poderoso dirigente do PSUV - adiantou que o mandatário seria o candidato.

"Não vamos ter problema, teremos um único candidato para continuar com a revolução", afirmou Cabello, enquanto o plenário gritava "Nicolás! Nicolás!".

"Antes de 30 abril deverá haver eleições na Venezuela", anunciou Cabello, ao ler o decreto que propôs e foi aprovado de forma unânime.

As eleições estavam previstas para o fim do ano, mas analistas e opositores advertiam que o governo as adiantaria para aproveitar a crise de credibilidade e divisões sofridas pela aliança opositora Mesa da Unidade Democrática (MUD).

"Para o governo faz todo sentido adiantar a eleição, primeiro porque enfrenta um ano muito complicado economicamente e segundo porque está tentando pegar a oposição em um momento de muita desarticulação", declarou o analista Benigno Alarcón.

Maduro, ex-motorista de ônibus de 55 anos, que assumiu o poder em abril de 2013 - um mês depois da morte do líder Hugo Chávez -, enfrenta uma impopularidade de cerca de 70% devido à forte crise econômica que abate o país petroleiro com escassez de alimentos e remédios, além da hiperinflação.

Os chanceleres dos países-membros do grupo de Lima se opuseram em Santiago o anúncio da Assembleia Constituinte da Venezuela de adiantar as eleições presidenciais.

"Esta decisão impossibilita a realização de eleições democráticas, transparentes e confiáveis", informou um comunicado lido pelo chanceler chileno, Heraldo Muñoz, após uma reunião dos ministros das Relações Exteriores dos países-membros.

- Contra sanções, eleições -"Nós vamos vencer unidos", acrescentou Cabello, que assegurou que será o Poder Eleitoral - acusado pela oposição de servir ao governo - que fixará a data exata das eleições.

O legislador apresentou a proposta de adiantamento do processo eleitoral como resposta às sanções impostas contra a Venezuela e vários de seus funcionários por parte dos Estados Unidos e da União Europeia.

"Se o mundo quer aplicar sanções, nós aplicaremos eleições (...) Poderes imperiais e poderes fáticos desataram uma campanha sistemática e de ódio contra a Venezuela", acrescentou o dirigente chavista.

Na segunda-feira, a União Europeia aprovou sanções contra sete funcionários venezuelanos de alto escalão, entre eles Cabello, o que o governo venezuelano qualificou de um "golpe ao diálogo" que manteve desde 1º de dezembro com a MUD na República Dominicana.

Ao justificar sua proposta, Cabello também argumentou que a oposição se retirou do diálogo com "desculpas fúteis", se referindo à ausência da MUD na quarta rodada que estava prevista para quinta-feira passada, pela falta de chanceleres facilitares.

Um deles, o chanceler mexicano, Luis Videgaray, escreveu nesta terça-feira no Twitter que a decisão da Constituinte "atenta gravemente contra as negociações".

Mas Maduro classificou como um passo "correto e acertado".

- Oposição enfraquecida -Maduro disse nesta terça-feira que deverá retomar as negociações entre governo e oposição nos dias 28 e 29 de janeiro.

"Se está falando de convocar a continuidade do diálogo para a assinatura de um acordo de paz para 28 e 29 de janeiro. Se for assim, a delegação venezuelana liderada por Jorge Rodríguez -ministro da Comunicação- será a primeira a chegar", disse o presidente durante um encontro em Caracas.

Maduro afirmou que seu governo está "pronto para assinar" um eventual acordo.

Apesar da impopularidade de Maduro, a oposição, enfraquecida após as violentas manifestações que liderou contra o presidente entre abril e julho de 2017 (com um balanço de 125 mortos), não está bem para participar das eleições.

"Hoje, amanhã, ontem, a única grande verdade é que este governo e sua cúpula aborrecem a imensa maioria dos venezuelanos! Se for liberado o direito que o nosso povo tem para decidir, vão embora! (...) Unidade para recuperar a democracia!", escreveu o ex-candidato à Presidência Henrique Capriles em sua conta no Twitter.

A Constituinte, considerada ilegítima pela MUD e desconhecida por parte da comunidade internacional, ordenou a essa coalizão e aos principais partidos que a integram se reinscreverem no CNE por terem ficado de fora das eleições de prefeitos de 10 de dezembro.

Os partidos Primeiro Justiça, de Capriles; Vontade Popular, do líder Leopoldo López; e Ação Democrática, do veterano ex-chefe parlamentar Henry Ramos Allup, denunciaram irregularidades nas eleições de governadores de 15 de outubro e, por isso, não participaram das municipais. Nas duas votações o chavismo teve um ótimo resultado.

Para se reinscreverem, devem levar ao CNE as assinaturas de pessoas que representem 0,5% dos inscritos no Registro Eleitoral em ao menos 12 estados, segundo a lei. Cerca de 19 milhões de pessoas estão registradas para votar em todo o país.

Mas a MUD não conta com um líder que entusiasme seus partidários. Seus principais dirigentes, Capriles e López (em prisão domiciliar) estão inabilitados politicamente.

Após o adiantamento das eleições, Ramos Allup assegurou que a oposição está "em capacidade de eleger nas primárias um candidato em quatro ou cinco semanas".

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