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Síria continua bombardeando apesar dos protestos contra banho de sangue

21/02/2018 14h46

Douma, Síria, 21 Fev 2018 (AFP) - Pelo quarto dia consecutivo, o regime sírio bombardeava nesta quarta-feira o reduto rebelde de Ghuta Oriental, perto de Damasco, matando quase 40 civis, apesar dos protestos internacionais.

Desde o início, no domingo, de uma nova campanha aérea contra este enclave onde vivem sitiados cerca de 400.000 pessoas, 310 civis, incluindo 72 crianças e 45 mulheres, morreram nos bombardeios, e 1.500 ficaram feridos, segundo o OSDH.

Vários hospitais ficaram fora de serviço e a destruição é enorme nesta vasta região asfixiada desde 2013 pelo cerco do regime e afetada por uma grave crise humanitária, com casos de desnutrição e fome.

O Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICR) pediu nesta quarta-feira acesso a Guta Oriental.

"Parece que a violência pode provocar mais sofrimentos nos próximos dias e semanas. Nossas equipes devem ter autorização para chegar a Guta Oriental para socorrer os feridos", destacou Marianne Gasser, representante do CICV na Síria.

Nesta quarta, os bombardeios custaram a vida de ao menos 38 civis, incluindo quatro crianças, e feriram mais de 250, de acordo com o OSDH.

Os ataques se concentraram principalmente nas localidades de Hamuriyé e Kfar Batna, e os aviões do regime também lançaram barris de explosivos, um método denunciado pela ONU e ONGs internacionais.

Neste contexto, a Rússia pediu uma reunião do Conselho de Segurança da ONU que se realizará na quinta-feira sobre a violência em Ghuta, anunciou o embaixador Vassily Nebenzia.

Nebenzia indicou que o encontro permitiria que todos os lados "apresentem sua visão, entendam a situação e criem formas de sair dessa situação".

Nos hospitais que não foram atingidos, não há leitos e os feridos são tratados no chão, enquanto as salas de cirurgia funcionam a todo vapor. Em um hospital da cidade de Duma, uma enfermeira relatou a admissão na terça-feira de uma mulher grávida de seis meses, que havia sido retirada dos escombros.

"Ela ficou gravemente ferida, iniciamos uma cesariana, mas nem a criança nem a mãe puderam ser salvas", disse Maram à AFP.

A poucos metros de distância, Mohammed, de 25 anos, carregou em seus braços a filha de seus vizinhos, mortos sob os escombros de um edifício que desabou em Duma. "Que crime essa menina cometeu?", repetia a voz alta, enquanto o destino de sua própria família permanece desconhecido.

A força aérea da Rússia, aliada do regime de Bashar al-Assad, bombardeou Ghuta Oriental pela primeira vez em três meses na terça-feira.

Mas o Kremlin negou nesta quarta-feira qualquer envolvimento nos bombardeios. "São acusações sem fundamento", declarou o porta-voz Dmitri Peskov, enquanto a diplomacia americana acusou a Rússia na terça-feira de ser responsável pelos ataques, "pela situação humanitária aterradora em Ghuta Oriental e pelo terrível balanço de mortos entre civis".

A nova campanha aérea começou no dia em que o regime reforçou suas posições em torno desta região em antecipação a um ataque terrestre que ainda não foi lançado.

O presidente Bashar al-Assad procura conquistar este enclave, de onde os rebeldes disparam morteiros contra a capital. Ghuta Oriental é a última fortaleza controlada pelos rebeldes perto de Damasco.

De acordo com o jornal Al-Watan, próximo do regime sírio, os ataques aéreos "são um prelúdio para uma grande operação (terrestre), que pode começar a qualquer momento".

O regime conseguiu retomar várias localidades rebeldes em torno de Damasco, em virtude de acordos conhecidos como de "reconciliação", que resultaram na evacuação de combatentes em troca do fim dos bombardeios e dos cercos.

Antes de Ghuta Oriental, várias áreas rebeldes, como a Cidade Velha de Homs em 2012 ou Aleppo em 2016, foram sufocadas por bombardeios e pelo cerco do regime para forçar os insurgentes a depor as armas e os civis a fugir.

- Impotência -O conflito na Síria, desencadeado em 15 de março de 2011, matou mais de 340 mil pessoas.

Inicialmente opondo os rebeldes ao regime, tornou-se mais complexo com o envolvimento de grupos jihadistas e potências estrangeiras.

Graças à intervenção militar da Rússia em 2015, o regime de Assad, que estava em uma situação muito complicada nop terreno, conseguiu recuperar o controle de mais da metade do país, multiplicando vitórias sobre rebeldes e jihadistas.

Os ataques aéreos do regime foram retomados, apesar dos protestos da comunidade internacional, que novamente provou sua impotência sobre o conflito sírio.

Os bombardeios contra civis "deve parar agora", declarou o coordenador da ONU para a ajuda humanitária na Síria, Panos Moumtzis, na terça-feira.

Washington denunciou as "táticas" do regime de "assediar e fazer a população morrer de fome", enquanto o ministro francês das Relações Negócios, Jean-Yves Le Drian, anunciou visitas a Moscou e a Teerã, os dois principais aliados de Assad.

Mas para o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), "nenhuma palavra fará justiça às crianças mortas, suas mães, seus pais e aqueles que são queridos por eles".

O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, exigiu nesta quarta que todos os envolvidos "suspendam imediatamente todas as atividades de guerra em Ghuta Oriental" para que a "ajuda humanitária chegue aos necessitados".

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