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Novas negociações entre populistas da Itália para sair de caos político

30/05/2018 16h59

Roma, 30 Mai 2018 (AFP) - Luigi di Maio, líder dos antissistema italianos, propôs nesta quarta-feira (30) um compromisso para relançar a formação de um governo de unidade com a extrema direita e, assim, tirar o país do impasse político.

O tecnocrata Carlo Cottarelli, contestado por populistas e pela extrema direita, adiou a formação de sua equipe para permitir as negociações.

"É o momento das soluções", declarou Luigi Di Maio, líder do populista Movimento 5 Estrelas (M5E), depois de propor uma personalidade "com o mesmo caráter e valor" para substituir Paolo Savona, conhecido eurocético, vetado pelo presidente da República, Sergio Mattarella, para o cargo de ministro da Economia, o que gerou o caos político.

Por enquanto, Cottarelli, ex-funcionário do Fundo Monetário Internacional (FMI), que se reuniu informalmente por duas vezes nesta quarta-feira com o presidente Mattarella, não apresentou seu eventual governo.

"Decidiram dar tempo às negociações políticas", informaram fontes da presidência.

Di Maio se mostrou disposto a buscar uma personalidade que pudesse substituir Savona para o Ministério da Economia, enquanto este veterano eurocético ocuparia outro cargo.

O economista, encarregado no domingo de formar um governo técnico de transição, deveria apresentar seu gabinete na terça-feira à tarde, mas o anúncio foi adiado, o que provocou todo tipo de especulação, incluindo a possibilidade de que as eleições legislativas sejam convocadas para 29 de julho.

Mas as negociações entre as forças políticas populistas que venceram as eleições de 4 de março são difíceis, a troca de de declarações e interpretações é constante.

O líder da Liga, de extrema direita, Matteo Salvini, longe de Roma oficialmente por seus compromissos de campanha na Toscana, se recusa a mexer no Executivo acordado com o M5E e substituir o controverso Savona.

"Ou aprovam o Executivo acordado no domingo tal como está, ou vamos para novas eleições", reitera Salvini.

A Bolsa de Milão, que na terça-feira registrou a pior queda entre os mercados financeiros europeus, fechou com queda de 2,09%, enquanto o "diferencial", ou seja, a brecha entre as taxas de empréstimo a 10 anos de Alemanha e Itália caiu para 275 pontos, o que aliviou os mercados.

- Um novo Executivo dos populistas -Em um comício em Nápoles na noite de terça-feira, Di Maio se mostrou disponível a trabalhar novamente para formar um governo com a ultradireitista Liga, o que mudou o cenário político.

Depois de ter pedido a destituição do presidente Mattarella, Di Maio recuou.

"Temos que respeitar a vontade do eleitorado, que tem maioria no Parlamento e que pede que o governo do M5E e da Liga comece a trabalhar. Estamos fartos de governos de emergência", explicou.

A imprensa evoca a possibilidade de que Mattarella volte a designar o advogado Giuseppe Conte para formar um gabinete com as forças populistas e, inclusive, falam na ideia de um governo dirigido por Matteo Salvini, líder da Liga, ou por seu braço direito, Giancarlo Giorgetti.

"Minha dignidade não vale 10 ministros", comentou Salvini.

Giorgetti é uma figura-chave por ser um veterano político com mais de 20 anos de experiência e conhecido por suas boas relações com todos os partidos políticos.

"Passei semanas em Roma tentando fazer um governo, foi um esforço inútil, agora quero estar entre os italianos", comentou, enquanto realiza manifestações políticas para as municipais em Toscana e Ligúria.

Salvini, que demonstrou uma audácia notável, cresce nas pesquisas e pede a realização de eleições em setembro.

"Não nos opomos a soluções rápidas para lidar com as emergências, mas devemos dar a palavra aos italianos o mais rápido possível", insistiu diante de seus assessores, segundo fontes internas da Liga.

O líder da Liga, que transformou seu partido secessionista em uma formação ultranacionalista, antieuropeia e anti-imigrantes, conseguiu colocar a questão do pertencimento à Europa no centro do debate.

Depois de obter 17% dos votos nas eleições de março (em comparação com 4% em 2013) e ultrapassar o partido Forza Italia de Silvio Berlusconi dentro da coalizão de direita, a Liga supera os 20%, de acordo com pesquisas recentes, enquanto outras formações estão estagnadas ou em queda.

Neste clima tenso, declarações feitas na véspera pelo comissário europeu para o Orçamento, o alemão a Günther Oettinger, nas quais disse que esperava que os italianos aprendessem a votar como se deve, alimentou sentimentos críticos com a União Europeia pelos italianos e obrigaram o comissário a se desculpar.

"A Itália não pode depender das ordens enviadas pelos mercados financeiros", esclareceu o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker.