Rebeldes da Nicarágua em pé de guerra contra Ortega
Masaya, Nicarágua, 12 Jul 2018 (AFP) - Tudo parece paralisado, com barricadas de até dois metros nas ruas, sob alerta e quase sem dormir: Monimbó, um bairro indígena da rebelde cidade de Masaya, diz-se preparado para um confronto com as forças do presidente da Nicarágua, Daniel Ortega.
Na sexta-feira (13), o governo fará o "repliegue" ("recuo", em tradução livre), uma caravana liderada por Ortega anualmente até Masaya, 30 quilômetros ao sul de Manágua, para festejar o feito da insurreição que, comandada pelos sandinistas, derrubou o ditador Anastasio Somoza em 1979.
Isso faz temer uma violenta incursão nessa pequena localidade do sul de Masaya que há quatro décadas lutou com coragem contra Somoza e onde, há três meses, seus moradores se entrincheiraram em oposição a Ortega, um ex-guerrilheiro sandinista de 72 anos.
"Aqui em Monimbó não vamos permitir. Não o queremos, e ele sabe disso. Nunca vão entrar, a menos que matem todos nós", garantiu à AFP, em uma barricada, um homem com o rosto coberto, de gorro e camisa verde-oliva.
O "repliegue" será justo no dia em que a opositora Aliança Cívica pela Justiça e a Democracia - que reúne grupos da sociedade civil - convocou uma paralisação nacional. É a segunda vez durante esta crise que deixou mais de 260 mortos até agora.
A Aliança faz, hoje, uma manifestação em Manágua e em outras cidades, mas Monimbó não abandona posições e terá sua própria marcha, protegida por suas muralhas de tijolos empilhados um a um pelos moradores.
- 'Bombas de contato' -O bairro agora parece um forte. As barricadas, algumas de dois metros, foram construídas para repelir policiais e homens do Batalhão de Choque que agem com homens à paisana, encapuzados e fortemente armados.
"Monimbó resiste. Não vão entrar, porque têm medo. Nós somos 'camicases': a gente morre, mas morrem os dois", disse à AFP um jovem de 28 anos que se identificou como "Guardabarranco" - nome da ave nacional -, em uma casa do movimento opositor.
O temor não é infundado. Nesse bairro de artesãos que trabalham habilmente o tecido, a madeira e o couro, nasceu a "bomba de contato", empregada pelos guerrilheiros sandinistas em seus combates contra a guarda somocista.
"De dia, nossos artesãos fazem redes e artesanatos e, à noite, bombas", afirmou "Guardabarranco", explicando que usam pólvora, vidro e pregos em potes de comida para bebê, ou mostarda.
Perto dele, Mariela, que aos 14 anos empunhou um fuzil contra a ditadura somocista, descreve seu povo de sangue indígena como "aguerrido, decidido e valente".
"Os orteguistas vêm com armas de guerra, mas temos, além do valor, 6.000 bombas de contato", garante esta mulher que, agora aos 53 anos, contribui na organização e na defesa do movimento.
- Rebeldia no sangue -Símbolo da cidade mais combativa da Nicarágua, Monimbó não perdoa Ortega pela repressão dos protestos que explodiram em 18 de abril contra uma reforma ao sistema previdenciário, rapidamente propagados por todo país.
"Aqui em Monimbó, se mexeu com um, mexeu com todos. Há cansaço e estresse por 84 dias de luta, mas enterramos companheiros, e isso nos dá força para seguir. Resistir está no sangue, no DNA", comenta "Guardabarranco", orgulhoso.
As pessoas estão em alerta. Vendedores de frutas, verduras e bananas fritas a postos nas esquinas servem de aviso para jovens encapuzados que cuidam das trincheiras. São chamados de "criminosos" e "golpistas" pelo governo.
Os manifestantes querem a saída de Ortega, que governa pelo terceiro período consecutivo há 11 anos, ao acusá-lo de deflagrar uma brutal repressão e instaurar uma ditadura com sua mulher, Rosario Murillo.
"Ortega não é sandinista, é somocista. Nos esgotou. Mas Monimbó tem experiência em derrubar ditadores, sejam de esquerda, ou de direita. Aconteça o que acontecer, estaremos de pé. No final, você tem de morrer algum dia", sentencia "Guardabarranco".
Perto dali, na pracinha de Monimbó, o encapuzado verde-olivo concorda com ele, enquanto segura um lança-morteiro: "Dignamente estamos dispostos a morrer".
Na sexta-feira (13), o governo fará o "repliegue" ("recuo", em tradução livre), uma caravana liderada por Ortega anualmente até Masaya, 30 quilômetros ao sul de Manágua, para festejar o feito da insurreição que, comandada pelos sandinistas, derrubou o ditador Anastasio Somoza em 1979.
Isso faz temer uma violenta incursão nessa pequena localidade do sul de Masaya que há quatro décadas lutou com coragem contra Somoza e onde, há três meses, seus moradores se entrincheiraram em oposição a Ortega, um ex-guerrilheiro sandinista de 72 anos.
"Aqui em Monimbó não vamos permitir. Não o queremos, e ele sabe disso. Nunca vão entrar, a menos que matem todos nós", garantiu à AFP, em uma barricada, um homem com o rosto coberto, de gorro e camisa verde-oliva.
O "repliegue" será justo no dia em que a opositora Aliança Cívica pela Justiça e a Democracia - que reúne grupos da sociedade civil - convocou uma paralisação nacional. É a segunda vez durante esta crise que deixou mais de 260 mortos até agora.
A Aliança faz, hoje, uma manifestação em Manágua e em outras cidades, mas Monimbó não abandona posições e terá sua própria marcha, protegida por suas muralhas de tijolos empilhados um a um pelos moradores.
- 'Bombas de contato' -O bairro agora parece um forte. As barricadas, algumas de dois metros, foram construídas para repelir policiais e homens do Batalhão de Choque que agem com homens à paisana, encapuzados e fortemente armados.
"Monimbó resiste. Não vão entrar, porque têm medo. Nós somos 'camicases': a gente morre, mas morrem os dois", disse à AFP um jovem de 28 anos que se identificou como "Guardabarranco" - nome da ave nacional -, em uma casa do movimento opositor.
O temor não é infundado. Nesse bairro de artesãos que trabalham habilmente o tecido, a madeira e o couro, nasceu a "bomba de contato", empregada pelos guerrilheiros sandinistas em seus combates contra a guarda somocista.
"De dia, nossos artesãos fazem redes e artesanatos e, à noite, bombas", afirmou "Guardabarranco", explicando que usam pólvora, vidro e pregos em potes de comida para bebê, ou mostarda.
Perto dele, Mariela, que aos 14 anos empunhou um fuzil contra a ditadura somocista, descreve seu povo de sangue indígena como "aguerrido, decidido e valente".
"Os orteguistas vêm com armas de guerra, mas temos, além do valor, 6.000 bombas de contato", garante esta mulher que, agora aos 53 anos, contribui na organização e na defesa do movimento.
- Rebeldia no sangue -Símbolo da cidade mais combativa da Nicarágua, Monimbó não perdoa Ortega pela repressão dos protestos que explodiram em 18 de abril contra uma reforma ao sistema previdenciário, rapidamente propagados por todo país.
"Aqui em Monimbó, se mexeu com um, mexeu com todos. Há cansaço e estresse por 84 dias de luta, mas enterramos companheiros, e isso nos dá força para seguir. Resistir está no sangue, no DNA", comenta "Guardabarranco", orgulhoso.
As pessoas estão em alerta. Vendedores de frutas, verduras e bananas fritas a postos nas esquinas servem de aviso para jovens encapuzados que cuidam das trincheiras. São chamados de "criminosos" e "golpistas" pelo governo.
Os manifestantes querem a saída de Ortega, que governa pelo terceiro período consecutivo há 11 anos, ao acusá-lo de deflagrar uma brutal repressão e instaurar uma ditadura com sua mulher, Rosario Murillo.
"Ortega não é sandinista, é somocista. Nos esgotou. Mas Monimbó tem experiência em derrubar ditadores, sejam de esquerda, ou de direita. Aconteça o que acontecer, estaremos de pé. No final, você tem de morrer algum dia", sentencia "Guardabarranco".
Perto dali, na pracinha de Monimbó, o encapuzado verde-olivo concorda com ele, enquanto segura um lança-morteiro: "Dignamente estamos dispostos a morrer".
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