Saxônia e a extrema direita alemã, uma história antiga
Chemnitz, Alemanha, 31 Ago 2018 (AFP) - A "caça aos estrangeiros", nas palavras da chanceler alemã Angela Merkel, registrada nos últimos dias na cidade de Chemnitz ilustram claramente as particularidades da região alemã da Saxônia, que se tornou desde a década de 1990 reduto das alas mais radicais da extrema direita nacional.
"Nos dias da RDA, não tínhamos o direito de pronunciar a palavra fascista", recorda Sabine Kühnrich, cantora, musicista e "natural de Karl-Marx-Stadt", hoje Chemnitz.
"Há tempos existe na cidade uma ampla rede do movimento de direita radical na forma de corporações estudantis, atividade musical neonazista ou clubes de hooligans", diz esta mulher que é responsável por um movimento cidadão de luta pela democracia e tolerância, o Arbeitsgruppe Friedenstag.
E a violência na cidade alcançou uma nova dimensão.
"Muitos me disseram que nunca tinham visto tanto ódio e tal disposição à violência", diz ela, referindo-se às imagens de hooligans e neonazistas atacando pessoas de origem estrangeira após o assassinato de um alemão de 35 anos na semana passada.
Um requerente de asilo iraquiano e um sírio foram presos neste caso.
- Passado pesado -"Não aprenderam nada na Saxônia?", questionou esta semana o jornal Tagesspiegel, elaborando uma longa lista de incidentes raciais desde a reunificação alemã.
Eles são ainda mais surpreendentes uma vez que os estrangeiros representam apenas 4,4% de uma população de 4,1 milhões, em comparação com 15% em alguns Länder do oeste, por exemplo.
A história parece se repetir nesta região que faz fronteira com a Polônia e a República Tcheca, fortaleza de longa data dos movimentos de extrema-direita e local de concentração da contestação de Angela Merkel e sua política migratória.
Já em 1991, logo após a reunificação, hooligans atacaram por vários dias um abrigo para requerentes de asilo em Hoyerswerda, aterrorizando-os sob os aplausos dos vizinhos. Cerca de 230 estrangeiros tiveram que deixar a cidade sob escolta policial.
Foi também neste estado regional que neonazistas experimentaram os seus primeiros êxitos eleitorais nos anos 90 e 2000.
Já naquela época, a Saxônia tinha "um problema muito grande", ressalta Anetta Kahane, da fundação de luta contra o racismo Amadeu Antonio.
"A Saxônia é imune ao extremismo de direita", disse o conservador Kurt Biedenkopf (1990-2002) na época.
Ele "deixou sozinhos" os prefeitos das cidades da região para lidar com o problema, aponta Anetta Kahane em entrevista ao canal de notícias ntv.
Hoje, o partido anti-imigrantes Alternativa para a Alemanha (AfD), que entrou para a Câmara dos Deputados nas eleições legislativas de 2017, é o maior partido na Saxônia.
- Problema ignorado - O terreno provavelmente não é mais favorável aos movimentos de extrema-direita do que em outras regiões da antiga RDA, como Turíngia e Mecklemburgo, estima Dieter Rucht, cientista político especializado no estudo de movimentos de protesto.
Mas "a Saxônia é específica porque os partidos no poder no Land, especialmente a CDU" de Angela Merkel "negaram por muito tempo o problema", explica.
A região também foi particularmente afetada pelo êxodo de suas forças após a reunificação, com 750.000 partidas desde 1989. "Eles desapareceram e há uma geração completa ausente na Saxônia, especialmente nas áreas rurais", diz a ministra saxã da Integração, Petra Köpping, ao jornal Süddeutsche Zeitung.
Os habitantes que permaneceram, como em todos os lugares da antiga RDA, sentem que são cidadãos de segunda classe com um padrão de vida ainda muito abaixo do oeste do país.
"E setores inteiros da sociedade estão confusos porque perderam sua orientação, sua estabilidade ideológica" com a queda da RDA comunista, explica Frank Richter, diretor do centro regional da Saxônia para a educação política.
Esse fator, combinado com as dificuldades de adaptação à economia liberal do oeste, torna o "nacionalismo de direita particularmente atraente", diz ele, vendo uma certa homogeneidade política e cultural entre a antiga RDA e a Polônia ou Hungria.
ilp/ylf/cn /mr
"Nos dias da RDA, não tínhamos o direito de pronunciar a palavra fascista", recorda Sabine Kühnrich, cantora, musicista e "natural de Karl-Marx-Stadt", hoje Chemnitz.
"Há tempos existe na cidade uma ampla rede do movimento de direita radical na forma de corporações estudantis, atividade musical neonazista ou clubes de hooligans", diz esta mulher que é responsável por um movimento cidadão de luta pela democracia e tolerância, o Arbeitsgruppe Friedenstag.
E a violência na cidade alcançou uma nova dimensão.
"Muitos me disseram que nunca tinham visto tanto ódio e tal disposição à violência", diz ela, referindo-se às imagens de hooligans e neonazistas atacando pessoas de origem estrangeira após o assassinato de um alemão de 35 anos na semana passada.
Um requerente de asilo iraquiano e um sírio foram presos neste caso.
- Passado pesado -"Não aprenderam nada na Saxônia?", questionou esta semana o jornal Tagesspiegel, elaborando uma longa lista de incidentes raciais desde a reunificação alemã.
Eles são ainda mais surpreendentes uma vez que os estrangeiros representam apenas 4,4% de uma população de 4,1 milhões, em comparação com 15% em alguns Länder do oeste, por exemplo.
A história parece se repetir nesta região que faz fronteira com a Polônia e a República Tcheca, fortaleza de longa data dos movimentos de extrema-direita e local de concentração da contestação de Angela Merkel e sua política migratória.
Já em 1991, logo após a reunificação, hooligans atacaram por vários dias um abrigo para requerentes de asilo em Hoyerswerda, aterrorizando-os sob os aplausos dos vizinhos. Cerca de 230 estrangeiros tiveram que deixar a cidade sob escolta policial.
Foi também neste estado regional que neonazistas experimentaram os seus primeiros êxitos eleitorais nos anos 90 e 2000.
Já naquela época, a Saxônia tinha "um problema muito grande", ressalta Anetta Kahane, da fundação de luta contra o racismo Amadeu Antonio.
"A Saxônia é imune ao extremismo de direita", disse o conservador Kurt Biedenkopf (1990-2002) na época.
Ele "deixou sozinhos" os prefeitos das cidades da região para lidar com o problema, aponta Anetta Kahane em entrevista ao canal de notícias ntv.
Hoje, o partido anti-imigrantes Alternativa para a Alemanha (AfD), que entrou para a Câmara dos Deputados nas eleições legislativas de 2017, é o maior partido na Saxônia.
- Problema ignorado - O terreno provavelmente não é mais favorável aos movimentos de extrema-direita do que em outras regiões da antiga RDA, como Turíngia e Mecklemburgo, estima Dieter Rucht, cientista político especializado no estudo de movimentos de protesto.
Mas "a Saxônia é específica porque os partidos no poder no Land, especialmente a CDU" de Angela Merkel "negaram por muito tempo o problema", explica.
A região também foi particularmente afetada pelo êxodo de suas forças após a reunificação, com 750.000 partidas desde 1989. "Eles desapareceram e há uma geração completa ausente na Saxônia, especialmente nas áreas rurais", diz a ministra saxã da Integração, Petra Köpping, ao jornal Süddeutsche Zeitung.
Os habitantes que permaneceram, como em todos os lugares da antiga RDA, sentem que são cidadãos de segunda classe com um padrão de vida ainda muito abaixo do oeste do país.
"E setores inteiros da sociedade estão confusos porque perderam sua orientação, sua estabilidade ideológica" com a queda da RDA comunista, explica Frank Richter, diretor do centro regional da Saxônia para a educação política.
Esse fator, combinado com as dificuldades de adaptação à economia liberal do oeste, torna o "nacionalismo de direita particularmente atraente", diz ele, vendo uma certa homogeneidade política e cultural entre a antiga RDA e a Polônia ou Hungria.
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