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Vaticano no olho do furacão por descoberta de ossos na nunciatura de Roma

31/10/2018 14h41

Roma, 31 Out 2018 (AFP) - O Vaticano está novamente no olho do furacão por conta do anúncio da descoberta na nunciatura em Roma de ossos humanos que podem pertencer à filha de um funcionário do Vaticano desaparecida há 35 anos.

A família de Emanuela Orlandi, a adolescente que desapareceu misteriosamente em 1983 em pleno centro de Roma, pediu, nesta quarta-feira (31), esclarecimentos ao Vaticano depois do anúncio oficial feito na véspera pelo porta-voz do papa.

Os ossos foram localizados por funcionários que trabalhavam na remodelação da embaixada da Santa Sé na Itália.

A macabra descoberta foi imediatamente relacionada pela imprensa com o desaparecimento de Emanuela Orlandi, de quem não se soube mais nenhuma informação desde 1983.

Esse desaparecimento havia sido relacionado com hierarcas da Igreja, com a máfia e também com o turco Ali Agca, autor do atentado contra João Paulo II em 1981.

"Pedimos com caráter oficial que sejamos informados sobre qualquer ato, situação ou descoberta. Queremos saber", declarou à rádio italiana um dos advogados da família Orlandi, Annamaria Bernardini Pace, depois de saber da notícia.

O anúncio do Vaticano, mediante uma nota oficial do porta-voz do papa às 22h00 de segunda-feira, gerou muita especulação e acrescenta mais uma peça ao quebra-cabeças que é o caso Orlandi.

"Durante os trabalhos de restauração em um anexo da nunciatura apostólica foram encontrados fragmentos de ossos humanos", anunciou Greg Burke.

A Procuradoria italiana imediatamente abriu uma investigação e ordenou à polícia forense que estabeleça a idade e o sexo da ossada descoberta, assim como a data e o motivo da morte.

- Família continua pedindo verdade e justiça -"Esperamos notícias mais detalhadas nos próximos dias", comentou Pietro Orlandi, irmão da vítima, que não parou de pedir justiça. Emanuela Orlandi, que tinha passaporte do Vaticano, hoje em dia teria 50 anos.

Em 1983, além de Orlandi, outra adolescente desapareceu misteriosamente em Roma, Mirella Gregori, e, por isso, também poderiam ser seus ossos.

"Os investigadores e a Santa Sé devem nos dizer como esses ossos foram encontrados e o motivo pelo qual a sua descoberta está relacionada com o desaparecimento de Emanuela Orlandi ou de Mirella Gregori", assegurou Laura Sgró, outra advogada da família Orlandi.

O Vaticano assinala que sempre colaborou com a justiça e não relacionou a descoberta dos ossos com os nomes das meninas desaparecidas.

Pouco depois de sua eleição como pontífice em 2013, o papa Francisco apertou a mão durante uma audiência de Pietro Orlandi, que contou à imprensa que o papa lhe disse ao ouvido que Emanuela "estava no céu".

A nunciatura apostólica, rodeada por um vasto parque, foi doada à Santa Sé em 1949 por um empresário judeu como forma de agradecimento por ter salvado a vida de muitos judeus durante a Segunda Guerra Mundial.

Esta não é a primeira vez que a polícia italiana segue uma pista para encontrar o corpo de Orlandi.

Em 2012, legistas exumaram o corpo do famoso chefe do grupo da Magliana, que havia sido enterrado inexplicavelmente em uma igreja do Vaticano que ficava ao lado da escola de música frequentada por Orlandi.

Tratava-se de Enrico De Pedis, cujo amante alegou ter sequestrado e assassinado a menina por ordem do chefe do banco do Vaticano, sócio-chave do falido banco Ambrosiano.