Justiça paquistanesa rejeita recurso contra absolvição de cristã
Islamabad, 29 Jan 2019 (AFP) - O Supremo Tribunal do Paquistão rejeitou nesta terça-feira um recurso contra a absolvição de Asia Bibi, o que abre caminho para que a cristã possa deixar o país, após anos de batalha judicial desde sua condenação por blasfêmia.
Bibi, uma trabalhadora agrícola de quase 50 anos, mãe de cinco filhos, foi condenado à morte em 2010 por blasfêmia, após uma discussão sobre um copo de água com vizinhas muçulmanas.
O Supremo Tribunal, que a absolveu em 31 de outubro de 2018, não aceitou a abertura de um recurso contra esta decisão, solicitada por Qari Saalam, imã da localidade em que Asia Bibi foi acusada de blasfêmia.
"Este recurso foi rejeitado", declarou o juiz Asif Saeed Khosa ao final da audiência.
Nada parece impedir agora Asia Bibi de abandonar o país muçulmano muito conservador, onde ela vive sob intensa proteção, pois é considerada um alvo dos extremistas religiosos.
A França já se declarou disposta a receber a cristã, assim como o primeiro-ministro canadense Justin Trudeau.
Desde que foi colocada em liberdade em 8 de novembro, Asia Bibi mora em um local seguro no Paquistão, de acordo com as autoridades.
A absolvição da cristã provocou grandes manifestações de islamitas, que pediram seu enforcamento.
Os islamitas que exigem sua execução bloquearam durante três dias as principais rodovias do país.
O governo paquistanês se comprometeu a iniciar um procedimento para impedir que Asia Bibi abandone o país, e a não bloquear uma demanda de revisão do julgamento que deve ser examinada pelo Supremo.
O acordo foi muito criticado por vários paquistaneses, irritados com a concessão do Estado aos extremistas.
No final de novembro, no entanto, centenas de simpatizantes do partido islamita 'Tehreek-e-Labaik Pakistan' (TLP), que bloqueou as estradas no país, foram detidos.
Khadim Hussain Rizvi, líder do TLP, é acusado de rebelião e terrorismo, o que pode ser punido com prisão perpétua.
"Jamais aceitaremos uma decisão contra o Alcorão", advertiu o TLP antes do anúncio da sentença em um comunicado que prometia um "movimento que será visto por todo o mundo" no caso de decisão favorável à "blasfêmia".
O caso de Bibi teve repercussão internacional e chamou a atenção dos papas Bento XVI e Francisco, que se reuniu com uma das filhas da acusada.
O caso também divide o Paquistão, onde a blasfêmia é um assunto muito delicado e onde simples acusações bastam para provocar linchamentos.
Associações de defesa dos direitos humanos consideram Asia Bibi um símbolo dos excessos da lei que reprime a blasfêmia no Paquistão, muita vezes utilizada, segundo os críticos, para acertos de contas pessoais.
O Paquistão tem quase 50 pessoas acusadas de blasfêmia e condenadas à morte, segundo uma estimativa de 2018 da Comissão Internacional para a Liberdade Religiosa dos Estados Unidos.
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