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Guaidó declara estado de emergência por conta do apagão na Venezuela

O líder oposicionista Juan Guaidó durante entrevista a jornalistas em Caracas, na Venezuela - Matias Delacroix/AFP
O líder oposicionista Juan Guaidó durante entrevista a jornalistas em Caracas, na Venezuela Imagem: Matias Delacroix/AFP

11/03/2019 21h06

O líder opositor Juan Guaidó declarou estado de emergência e convocou protestos para esta terça-feira em toda a Venezuela por conta do apagão que atinge praticamente todo o país há quatro dias e já deixa a população desesperada por água e comida.

"Declara-se o estado de emergência (...) em todo território nacional, devido à calamidade pública gerada pela interrupção contínua do fornecimento de eletricidade", indica um decreto proposto por Guaidó e aprovado pelo Congresso, de maioria opositora, nesta segunda-feira (11).

O autoproclamado presidente interino do país pediu a vigência do ato por 30 dias prorrogáveis, com o objetivo de obter "cooperação internacional" para superar a crise.

Também solicitou aos militares e forças de segurança que não impeçam ou criem obstáculos para os protestos contra a crise de energia.

Não há projeções sobre o alcance e as possibilidades da aplicação do estado de emergência no país, pois o presidente eleito Nicolás Maduro tem o apoio das Forças Armadas e o controle de praticamente todas as instituições.

O fornecimento de energia elétrica está instável em várias regiões, inclusive na capital Caracas, e as dificuldades de restabelecimento do serviço ficaram em evidência após Maduro manter a suspensão das atividades de trabalho e escolares, que havia decretado na quinta-feira passada quando começou o problema, o pior registrado neste país de 30 milhões de habitantes que atinge a capital e 22 dos 23 estados.

"As agressões e os ataques imperialistas não apagarão a força e a capacidade de resistência do povo", afirmou o presidente venezuelano no Twitter.

Guaidó argumentou que no país existe uma "catástrofe" que já tirou "dezenas" de vidas por conta dos problemas de atendimento enfrentados nos hospitais, além da escassez de água e os danos provocados no armazenamento de comida perecível, no transporte e nas comunicações que estão interrompidas ou instáveis.

"Não vamos permitir que se normalize a tragédia (...), por isso o decreto", afirmou o líder da oposição, acrescentando que "todo (é) produto da corrupção e da imperícia do regime".

Na madrugada desta segunda-feira, uma estação elétrica entrou em pane em Caracas por causas desconhecidas, agravando a situação numa área onde foram registrados saques no domingo.

Ana Ruiz, de 35 anos, teme que o frango que tem guardado na geladeira apodreça. "Uma grande pena" -, disse- , um grande problema num país que sofre pela falta de alimentos e remédios, e uma voraz hiperinflação.

Muitas casas têm cisternas porque sempre há racionamento na Venezuela, mas as bombas não funcionam sem luz. Em Caracas, moradores fazem fila para conseguir se abastecer nas fontes d'água aos pés da montanha Ávila.

Por conta da situação, o governo anunciou que iria iniciar nesta segunda a distribuição de alimentos e água potável nas áreas mais carentes. Mas até o momento, não houve registros da assistência oficial.

"Situação explosiva"

Os geradores de energia dos hospitais se concentram nas as salas de emergência. Segundo a ONG Codevida, 15 doentes renais morreram por falta de tratamento, enquanto Guaidó afirma que outros 17 morreram em outros centros médicos. Até o momento, o governo sustenta que não há falecidos.

Muitas lojas estão fechadas e há poucas mercadorias disponíveis. Há meses os venezuelanos sofrem pela falta de moeda corrente e tudo, até uma pequena compra, é feito através de transferência eletrônica. Por conta do apagão, as transações comerciais são feitas através de smartphones, que ainda possuem carga de bateria.

Muitos comerciantes estão vendendo água, carne, gasolina e até gelo em dólares. Com um êxodo de 2,7 milhões de venezuelanos desde 2015 segundo a ONU, a falta de comunicação com parentes no exterior também é angustiante. Ao cair da noite, com as ruas às escuras, surge o terror por conta da delinquência num país com altos índices de violência. Há pouco transporte e longas filas se formam nos postos de combustível por conta do medo desabastecimento, já que as bombas dependem da luz para funcionar.

"Preocupa que a Venezuela esteja entrando numa fase de colapso total porque o país tem uma situação explosiva", garantiu à AFP o cientista político Luis Salamanca. No aeroporto internacional de Maiquetía também há caos. As autoridades registram manualmente a entrada e saída de passageiros.

Nova etapa da crise

Maduro sustenta que o apagão foi provocado por "um ataque cibernético eletromagnético" cometido pelos Estados Unidos contra a hidroelétrica de Guri, no estado de Bolívar (sul), a principal da Venezuela e segunda da América Latina, depois de Itaipu.

O presidente afirmou que após ter reconectado boa parte do sistema elétrico foram registrados novos ataques, e agora o trabalho avança "lentamente para a recuperação" do serviço "agora para que seja de forma estável".

"É um alívio (que volte a luz), mas vai sumir de novo. O que este governo fez foi destroçar o sistema elétrico", disse à AFP Ludwig Laborda, de 30 anos, que trabalha com marketing digital.

Já Guaidó defende que a crise de energia começou após um incêndio numa vegetação que afetou as torres de transmissão da hidroelétrica, por falta de manutenção e de investimentos.

Para o analista Luis Vicente León, "este episódio é resultado da destruição sistemática do país em duas décadas, mas também o início de uma nova dimensão de deterioração", que vai trazer "radicalização das partes, sanções mais agudas e protestos".