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Cesare Battisti, uma vida em eterna fuga

Battisti sai de prédio da Polícia Federal em São Paulo em foto de 2015; ele foi preso no Brasil pela primeira vez em 2007  - Reuters
Battisti sai de prédio da Polícia Federal em São Paulo em foto de 2015; ele foi preso no Brasil pela primeira vez em 2007 Imagem: Reuters

25/03/2019 15h19

Cesare Battisti, ex-ativista de esquerda italiano condenado por quatro homicídios, passou cerca de 40 anos de sua vida em fuga quase permanente, com períodos de prisão e lutas político-judiciais para evitar a Justiça do seu país.

Condenado à revelia à prisão perpétua na Itália, Battisti, de 64 anos, passou por México, França e Brasil, onde a Justiça rejeitou em um primeiro momento sua extradição para a Itália para depois autorizá-la.

A Itália queria punir um dos últimos protagonistas dos violentos "Anos de Chumbo" dos e violência dos anos 1970.

Battisti, um poliglota de voz suave e conhecido por suas polêmicas, nasceu no sul de Roma em 18 de dezembro de 1954 em uma família comunista, mas também católica, como ele.

Após passar várias vezes pela prisão por crimes comuns, no final dos anos 1970 entrou para a luta armada dentro do grupo Proletários Armados Pelo Comunismo (PAC).

"Tentar mudar a sociedade com as armas é uma estupidez, mas bom, naquela época todo mundo tinha pistolas", declarou em 2011. "Havia guerrilheiros no mundo inteiro, a Itália vivia uma situação pré-revolucionária", acrescentou.

Após ser detido em Milão, Battisti foi preso em 1979 e fugiu em 1981. Em 1993, foi condenado à revelia à prisão perpétua por dois homicídios e por cumplicidade em outros dois, cometidos em 1978 e 1979, crimes pelos quais diz ser inocente.

Após passar pelo México, encontrou refúgio na França entre 1990 e 2004, graças à proteção do ex-presidente socialista François Mitterrand, que se comprometeu a não extraditar nenhum militante de extrema esquerda que tivesse renunciado à luta armada.

Assim como uma centena de militantes italianos dos anos 1970, Battisti refez sua vida em Paris.

Trabalhou como vigia em um prédio e começou a escrever e publicar uma dezena de romances policiais com muitos elementos autobiográficos, que abordam temas como a redenção ou o exílio de ex-militantes extremistas.

Em 2004, o governo de Jacques Chirac decidiu pôr fim à "jurisprudência Mitterrand" e extraditá-lo.

Apesar do apoio de várias personalidades, como o romancista Fred Vargas ou o filósofo Bernard-Henri Levy, a Justiça francesa recusou o recurso contra a extradição. Battisti, então, fugiu para o Brasil com uma identidade falsa, segundo ele, com ajuda dos serviços secretos franceses.

Depois de três anos vivendo na clandestinidade, em 2007 foi detido no Rio e ficou quatro anos na prisão, onde fez uma greve de fome porque dizia preferir morrer no Brasil a voltar para a Itália.

"Escrever para não me perder na névoa dos dias intermináveis, repetindo-me que não é verdade. Que não sou eu esse homem que os meios transformaram em monstro e reduziram ao silêncio das sombras", diz em "Minha fuga sem fim", livro escrito no cárcere.

Em 2009, o Supremo Tribunal Federal autorizou sua extradição, mas deixou a decisão final nas mãos do então presidente Lula, que acaba rejeitando extraditá-lo. Em represália, a Itália chama a consultas seu embaixador em Brasília.

Em junho de 2011, Battisti é libertado e consegue obter a residência permanente no Brasil. Instala-se em Cananeia, litoral sul de São Paulo, onde continua escrevendo e reconstrói sua vida.

Pai de duas filhas adultas na França, Battisti conheceu uma jovem professora brasileira, com quem teve um filho, Raul, atualmente com cinco anos, e com quem manterá um relacionamento intermitente.

O nascimento do filho no país era um dos argumentos usados por sua defesa para impedir sua extradição, como ele próprio explicou à AFP em entrevista concedida em 2017 em sua casa em Cananeia, com o pequeno sentado ao seu lado.

Mas a Justiça brasileira toma decisões contraditórias. Em 2015, uma juíza da 20ª Vara Federal do Distrito Federal determinou a deportação de Battisti. No mesmo ano, ele se casa com outra brasileira, Joice Lima, em um camping de Cananeia.

Dois anos depois, é detido em Corumbá (MS), na fronteira da Bolívia, acusado de querer fugir, e foi mantido monitorado com tornozeleira eletrônica por quatro meses.

Após a eleição do presidente de Jair Bolsonaro, que prometeu extraditá-lo, Battisti voltou à clandestinidade depois de 40 anos de fuga até foi preso em Santa Cruz de la Sierra, leste da Bolívia, e devolvido à Itália em janeiro de 2019.