Morte de político na Alemanha gera temor do terrorismo da extrema direita
O suposto homicídio de um político pró-imigração por um simpatizante neonazista constitui um "sinal de alerta" para a Alemanha, advertiu nesta terça-feira (18) o ministro do Interior diante do temor de uma onda de atos de terrorismo de extrema-direita.
"Um atentado de extrema-direita contra um representante de alto nível do nosso país constitui um sinal de alerta", declarou Horst Seehofer em coletiva de imprensa em Berlim.
Este assassinato marca uma "nova dimensão" nos atos cometidos nos últimos anos por membros da ultradireita no país e dirige-se contra o "sistema democrático" em seu conjunto, acrescentou o ministro conservador bávaro. Trata-se de um "perigo crescente" procedente dos extremistas de direita violentos, assegurou.
A promotoria antiterrorista anunciou na véspera, a detenção de um homem de 45 anos vinculado ao movimento do movimento neonazista. É suspeito de ter executado no começo de junho Walter Lübcke, um político de Kassel (oeste), membro do partido conservador de Angela Merkel.
Os promotores falam de um "atentado político". A chanceler disse que se tratava de uma notícia deprimente.
O ministro do Interior destacou que este suspeito - que se nega a responder às perguntas da Polícia - não havia dado provas de seu ativismo desde 2009 e que tinha desaparecido do radar da Polícia. Nestas condições, a justiça continua investigando "em todas as direções".
Os investigadores estariam agora seguindo a pista de possíveis cúmplices, informou nesta terça à noite o jornal Süddeutsche Zeitung.
Os investigadores, que haviam descartado na segunda-feira a hipótese de um grupo organizado, se apoiam no testemunho de um homem que teria visto dois veículos circular a toda velocidade pela cidade minutos depois de ter sido ouvido um disparo.
- "Uma nova RAF" - "O mais surpreendente nessa história é até que ponto surpreende, cada vez que acontece, que os extremistas de direita cometam os crimes mais graves no país", destaca o jornal Süddeutsche Zeitung em seu editorial desta terça-feira.
Um curto retrospecto: um atentado a faca contra a prefeita de Colônia, Henriette Reker, em 2015, e dois anos depois contra o prefeito de Altena, Andreas Hollstein. Ambos, defensores de uma política generosa de acolhida aos migrantes, como Walter Lübcke, sobreviveram por pouco aos ataques.
Também devem ser levados em conta os assassinatos cometidos pelo grupo neonazista alemão NSU, responsável pelo homicídio de uma dezena de migrantes na Alemanha no começo dos anos 2000.
A Alemanha enfrenta uma "nova RAF", uma "RAF obscura", alerta o jornal, em alusão ao grupo terrorista de extrema-esquerda Fração do Exército Vermelho, ativo entre 1968 e 1998.
As autoridades registraram mais de 12.700 extremistas de direita considerados perigosos.
Markus Nierth, ex-prefeito de Tröglitz, localidade da antiga RDA, onde a extrema-direita política obtém os melhores resultados, diz ter ainda "muito medo", depois de ter sido ameaçado ha tempos.
Com a morte de Walter Lübcke, "pulou em pedaços uma barreira fundamental, os terroristas de extrema-direita provavelmente realizaram o que sonhavam", disse ao Berliner Zeitung.
O ódio na internet
Para muitas autoridades políticas, o avanço do partido de extrema-direita "Alternativa para a Alemanha" (AfD) nas legislativas de 2017 e as provocativas declarações anti-imigração de vários de seus políticos liberaram as inibições de alguns e contribuiu para o aumento dos crimes xenófobos e antissemitas.
Para Michael Brand, deputado conservador, há um vínculo direto: "o ódio e as difamações destes últimos anos tornaram possível" o assassinato de Lübcke, disse nesta terça-feira.
O chefe de Estado, Frank-Walter Steinmeier, ressaltou a relação entre os comentários vingativos e a violência.
"Quando a linguagem se brutaliza, o crime não está longe", disse, lembrando os inúmeros comentários nas redes sociais em que seus autores comemoraram a morte de Lübcke.
A AfD quebrou o silêncio nesta terça-feira para "condenar no mais alto nível qualquer violência da extrema-direita" e para denunciar esta "morte odiosa".
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