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UE apoia adiamento do Brexit, mas discorda da duração

Johnson diz que a medida visa a limpar agenda legislativa e não ter que esperar o Brexit para fazer o país "avançar" - Getty Images
Johnson diz que a medida visa a limpar agenda legislativa e não ter que esperar o Brexit para fazer o país 'avançar' Imagem: Getty Images

23/10/2019 16h44

Os sócios europeus do Reino Unido aceitaram nesta quarta-feira (23) prorrogar o Brexit para evitar um divórcio sem acordo no dia 31 de outubro, mas divergem sobre a duração do adiamento solicitado pelo primeiro-ministro britânico, Boris Johnson.

Os embaixadores na União Europeia (UE) expuseram a posição de cada capital durante um encontro em Bruxelas, e "todos concordaram na necessidade de uma prorrogação para evitar um Brexit sem acordo", disse uma fonte europeia ao fim da reunião.

Não houve acordo sobre a duração. "O ambiente aponta para uma prorrogação até 31 de janeiro", assegurou um diplomata europeu. As fontes consultadas pela AFP disseram que nenhuma outra data concreta além dessa foi colocada sobre a mesa.

Faltando alguns dias para a data prevista para o Brexit, Johnson, forçado por seu Parlamento, pediu para adiar o Brexit até 31 de janeiro, um adiamento de três meses defendido também pelo chefe do Conselho Europeu, Donald Tusk, e que parece também convencer o primeiro-ministro irlandês, Leo Varadkar.

Para ambos, que conversaram hoje por telefone, "o Reino Unido poderia se retirar antes de 31 de janeiro de 2020, caso se ratifique o acordo de retirada antes dessa data", assegurou o governo irlandês.

Para o presidente da Eurocâmara, David Sassoli, esse adiamento de três meses permitiria ao Reino Unido "esclarecer sua posição" e aos eurodeputados "desempenhar seu papel".

A decisão de estender o prazo deve ser por unanimidade e "se existirem diferenças" entre os 27 os mandatários, eles poderiam confirmá-la durante uma nova cúpula de líderes em 28 de outubro para fechar uma data.

A decisão ainda não está tomada. Os embaixadores europeus devem se reunir novamente na sexta-feira, enquanto Tusk continua consultando aos dirigentes do bloco, que na última quinta-feira fecharam um novo acordo de divórcio com o governo britânico.

Dias, semanas, meses

As diferenças começam a aparecer. A França, através de sua secretária de Estado para os Assuntos Europeus, Amélie de Montchalin, falou ontem de sua disponibilidade para um "adiamento técnico" da data do Brexit, mas de apenas "alguns dias".

A Alemanha não se oporá ao adiamento da data do Brexit, segundo a porta-voz da chanceler Angela Merkel, após o chamado do Presidente do Conselho Europeu para aceitar tal medida.

O ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Heiko Maas, já havia defendido o adiamento por duas ou três semanas, se isso permitir que deputados britânicos, que na segunda-feira apoiaram o acordo assinado quatro dias antes por Johnson, ratifiquem a lei.

"Se é para adiar o Brexit até o final de janeiro, precisamos saber o motivo, o que acontecerá nesse meio tempo e se haverá eleições no Reino Unido", disse Maas em declarações à televisão alemã RTL.

As dúvidas na UE estão focadas precisamente nos planos de Johnson, determinados a deixar seu país fora do bloco em 31 de outubro, mas na terça-feira ele não obteve o apoio do parlamento para um processo acelerado da ratificação.

Após essa caótica sessão parlamentar, o primeiro-ministro britânico garantiu que suspendeu o processo legislativo enquanto aguardava a decisão da UE, mas, ao mesmo tempo, garantiu que deixariam o bloco com esse acordo.

Em uma conversa hoje com o chefe do Conselho Europeu, o 'premiê' britânico pediu para "não prorrogar" o Brexit, segundo uma fonte diplomática, que descreve uma "situação muito complexa", na qual a decisão da UE poderia "provocar eleições no Reino Unido".

No poder por menos de três meses, Johnson também tenta convocar legislativas antecipadas, já que em setembro ele perdeu a maioria no Parlamento britânico, algo que a oposição está impedindo no momento.

Uma terceira extensão do Brexit, que foi apoiado por 52% dos votos no referendo de 2016 e inicialmente agendado para março passado, deve permitir que as eleições, e também estender um processo que parece interminável.