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Papa adverte jovens da Tailândia contra armadilhas da tecnologia

22/11/2019 12h16

Bangcoc, 22 Nov 2019 (AFP) - O papa Francisco alertou os jovens na Tailândia, nesta sexta-feira (22), contra o "consumismo" e os perigos da tecnologia e convidou a Igreja Católica do país, de maioria budista, a "não ter medo" de adaptar seu discurso para alcançar mais fiéis.

Na véspera de viajar para o Japão, Francisco, de 82 anos, dedicou grande parte de seu terceiro dia na Tailândia à juventude.

"Os rápidos avanços tecnológicos podem levar ao aumento do consumismo e do materialismo", disse.

"Nós podemos ficar desconcertados com as 'vozes' deste mundo que competem por nossa atenção", mas "eventualmente elas simplesmente terminam vazias", insistiu o pontífice argentino em uma missa dedicada aos jovens na Catedral da Assunção em Bangcoc.

As novas tecnologias têm um grande peso na Tailândia. O país é um dos cinco maiores consumidores de Internet no mundo. Os tailandeses gastam em média mais de nove horas por dia em seus smartphones, segundo vários estudos.

Uma tendência que pode contribuir para desviar o reino, com mais de 95% de sua população budista, da religião. E também enfraquecer os 400.000 católicos do país, ultraminoritários, mas muito ativos nos setores educacional e médico.

- Falar em "dialeto" -Evangelizada por missionários europeus a partir do século XVI, a Tailândia "é confrontada com a mesma situação que outros países do mundo: uma crise de vocação em declínio", admitiu o bispo Joseph Pradhan Sridarunsil.

Diante disso, Francisco pediu à Igreja que "não tenha medo" de se adaptar à cultura do reino para alcançar mais fiéis.

Um discurso que não é novo: na tradição cristã, a "inculturação" consiste em integrar tradições locais à educação religiosa.

"Para muitos, a fé cristã é uma fé estrangeira, é a religião dos estrangeiros", descreve o papa. É necessário "ser encorajado" a proferir a fé no "dialeto" local, ir além das simples traduções dos textos, acrescentou.

Francisco não defende o proselitismo agressivo que marcou o passado da Igreja Católica, uma atitude que pode ser muito perigosa para os cristãos minoritários em alguns países menos tolerantes do que a Tailândia.

Ele insiste, porém, em que mais fiéis devem ser alcançados, agindo diretamente no terreno.

Na Tailândia, os padres e bispos devem se preocupar com o "flagelo das drogas e do tráfico de pessoas", ambos criticados pelo papa várias vezes durante sua visita. Também devem se concentrar na "desigualdade econômica e social" no país.

Apesar da pequena presença católica na região, dezenas de milhares de fiéis, muitos do Vietnã e do Camboja, estiveram presentes durante essa visita papal.

- "Um presente de Deus" -Cerca de 60.000 deles participaram de uma grande missa, realizada na quinta-feira ao ar livre, no Estádio Nacional de Bangcoc.

Nesta sexta-feira, o pontífice também foi recebido por uma multidão entusiasmada, gritando "viva o papa!", em vários lugares simbólicos da cidade.

Bunthom Bun-arunraksa, de 90 anos, que participou da organização da visita do papa João Paulo II à Tailândia em 1984, disse estar muito feliz. "Ver o papa Francisco hoje é como um presente de Deus", disse.

Do lado de fora da Catedral da Assunção, Phuong Tran, de 25, ecoou a mensagem do papa contra os possíveis perigos do mundo moderno e pediu à Igreja tailandesa que "use a tecnologia para espalhar a religião mais amplamente".

No início de sua agenda, Francisco visitou um santuário dedicado ao mártir católico Nicholas Boonkerd Kitbamrung.

Nesta viagem, o papa também falou sobre as mulheres e as crianças vulneráveis, pedindo mais respeito pelas profissionais do sexo e pelas vítimas de tráfico, em sua missa na noite de quinta-feira.

O papa argentino também defendeu uma mensagem de harmonia inter-religiosa. Nesta sexta, ele se encontrou com representantes religiosos.

E depois, jovens muçulmanos do sul do país, uma região submersa em um sangrento conflito separatista desde 2004, cantaram para ele junto com cristãos de uma grande universidade de Bangcoc.

O chefe da Igreja Católica viaja para o Japão no sábado, na segunda e última etapa de sua turnê pela Ásia.

No Japão, Francisco visitará Nagasaki e Hiroshima, cidades devastadas pelas bombas atômicas lançadas pelos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial.

O papa, que anos atrás aspirava a ser um missionário neste país asiático, pediu a proibição das armas nucleares.

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