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Ex-secretário-geral da ONU Javier Pérez de Cuéllar morre aos 100 anos

Moacyr Lopes Jr./Folhapress
Imagem: Moacyr Lopes Jr./Folhapress

05/03/2020 00h23Atualizada em 05/03/2020 07h50

Lima, 5 Mar 2020 (AFP) - O diplomata peruano Javier Pérez de Cuéllar, secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU) de 1982 a 1991, faleceu ontem em sua casa em Lima aos 100 anos de idade por complicações de saúde.

"Meu pai faleceu após uma semana complicada, morreu às oito e nove da noite (22h09 Brasília) e descansa em paz", disse o filho Francisco Pérez de Cuéllar à rádio RPP.

O presidente peruano Martín Vizcarra lamentou "profundamente" no Twitter "o falecimento de dom Javier Pérez de Cuéllar, símbolo peruano, democrata completo, que dedicou sua vida inteira ao trabalho para engrandecer nosso país".

O atual secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, afirmou que está "profundamente entristecido com o falecimento do antecessor" e expressou condolências à "família, ao povo peruano e a tantos outros ao redor do mundo cujas vidas foram tocadas por este notável e compassivo líder mundial".

No Peru, Pérez de Cuéllar foi presidente do Conselho de Ministros e chanceler simultaneamente durante o governo de transição de Valentín Paniagua, entre 22 de novembro de 2000 e 28 de julho de 2001.

Candidato à presidência em 1995, perdeu para Alberto Fujimori, que acabou reeleito.

Antes havia sido embaixador do Peru na ex-União Soviética, França, Polônia e Suíça. Também foi representante do país na Unesco.

"Estadista consumado"

Nascido em Lima em 1920, advogado e diplomata de carreira, Pérez de Cuéllar foi o quinto secretário-geral das Nações Unidas, entre janeiro de 1982 e dezembro de 1991.

A ONU saudou o ex-secretário no dia 19 de janeiro, quando completou 100 anos.

Guterres, escreveu no Twitter na ocasião: "É com enorme orgulho e alegria que celebramos seu centenário (...). Muitas vezes refleti sobre seu exemplo e sua experiência em busca de inspiração e orientação".

A chancelaria do país destacou que Pérez de Cuéllar foi "o único diplomata peruano e latino-americano da história a ter atuado por dois períodos no cargo de secretário-geral da ONU".

No comunicado divulgado ontem, Guterres destacou que seu antecessor foi "um estadista consumado e um diplomata comprometido, cuja vida durou não apenas um século, mas toda a história das Nações Unidas, desde sua participação na primeira reunião da Assembleia Geral em 1946".

A nota afirma que ele "deixou um impacto profundo" tanto na ONU como no mundo, com uma gestão à frente da organização que coincidiu com "alguns dos anos mais gelados da Guerra Fria e com o fim do confronto ideológico", quando as Nações Unidas "começaram a desempenhar completamente o papel idealizado por seus fundadores".

Também recorda que o peruano teve um "papel crucial em uma série de sucessos diplomáticos, incluindo a independência da Namíbia, o fim da guerra Irã-Iraque, a libertação dos reféns americanos no Líbano, o acordo de paz na Colômbia e, nos seus últimos dias de gestão, um acordo de paz histórico em El Salvador".

Legado peruano

A chancelaria peruana destacou que Pérez de Cuéllar "dedicou sua vida a serviço do Peru e da comunidade internacional, atuando com probidade e compromisso exemplar".

"Ele soube defender com seus atos e com suas palavras valores como democracia, tolerância e paz. Seu legado nos inspira a continuar trabalhando por nosso país", disse o primeiro-ministro peruano Vicente Zeballos.

O funeral acontecerá amanhã no Palácio de Torre Tagle, sede da diplomacia peruana, com honras oficiais.

Após a saída da ONU, diversos grupos políticos o estimularam a apresentar a candidatura à presidência em 1995 e enfrentar Fujimori, que três anos antes havia dado um "autogolpe". Mas o então presidente foi reeleito com 64% dos votos.

Depois da eleição, Pérez de Cuéllar se mudou para Paris. Ele retornou ao país depois da queda de Fujimori em novembro de 2000 e colaborou com o presidente Paniagua no governo de transição que comandou o país durante oito meses.

Pérez de Cuéllar foi casado duas vezes, primeiro com a francesa Yvette Roberts e depois com a peruana Marcela Temple Seminario, ambas falecidas.

Em seu primeiro casamento, ele teve os filhos Francisco (1947) e Águeda (1955).