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G20 se reúne para abordar crise do coronavírus, que já matou 22.000 pessoas

26/03/2020 10h12

Paris, 26 Mar 2020 (AFP) - Os líderes dos países do G20 se reúnem nesta quinta-feira em caráter de emergência para abordar a crise mundial provocada pelo novo coronavírus, que já provocou mais de 22.000 mortes e obriga três bilhões de pessoas em todo o planeta ao confinamento.

À medida que a doença se propaga pelo planeta a toda velocidade, governos e analistas alertam para as consequências econômicas e temem uma grande recessão, que poderia ser pior que a de 1930 segundo os mais pessimistas.

A nível global, o número de infectados se aproxima de meio milhão de pessoas, com mais de 250.000 oficialmente declarados na Europa, mais da metade apenas na Itália (74.386) e Espanha (56.188).

Em um contexto de tensões diplomáticas entre China e Estados Unidos pela Covid-19, o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, pediu ao mundo uma ação unida contra a ameaça.

"A Covid-19 está ameaçando toda a humanidade", disse Guterres. "É crucial uma ação global e de solidariedade, as respostas individuais dos países não serão suficientes", completou.

O confinamento global, que a partir desta semana passou a incluir 1,3 bilhão de habitantes da Índia, foi reforçado nesta quinta-feira na Rússia, onde os voos internacionais foram suspensos e cafés, lojas e parques de Moscou foram fechados.

No Japão, as autoridades pediram aos milhões de habitantes de Tóquio que permaneçam em casa pelo temor de uma "explosão" de casos. A Tailândia, país que vive do turismo, teve que fechar as fronteiras.

Em um mundo enclausurado, a economia mundial está encurralada. "As economias do G20 viverão um choque sem precedentes no primeiro semestre do ano e devem registrar contração em 2020", afirmou a agência de classificação financeira Moody's.

As previsões apontam um gigantesco aumento do desemprego, de até 30% nos Estados Unidos, de acordo com James Bullard, presidente do St Louis Federal Reserve.

Com este panorama, os líderes das grandes economias do G20 se reúnem por videoconferência nesta quinta-feira. Ao grupo devem se unir Espanha, Jordânia, Singapura e Suíça, afetados pela doença, assim como as grandes organizações internacionais.

No início do encontro, o rei Salman da Arábia Saudita pediu aos líderes do G20 que tomem medidas "eficazes e coordenadas" para combater a crise global desencadeada pela pandemia de coronavírus.

"Precisamos ter uma resposta eficaz e coordenada a esta pandemia e restaurar a confiança na economia global", disse.

"É nossa responsabilidade estender a mão aos países em desenvolvimento e aos países menos desenvolvidos para ajudá-los a desenvolver suas capacidades e melhorar sua infraestrutura para superar esta crise e suas consequências", completou.

Na quarta-feira, o diretor geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, também pediu aos países ricos que ajudem as nações menos desenvolvidas.

O efeito devastador do coronavírus nos países mais pobres foi demonstrado nesta quinta-feira nas Filipinas, que anunciou a morte de nove médicos, vítimas da doença, e teme sua expansão em grandes cidade como Manila.

- Espanha supera 4.000 mortes - Dentro da Europa, a Espanha alcançou a marca de 4.089 mortos e 56.188 casos, anunciou nesta quinta-feira o ministério da Saúde.

"Eu tenho que escolher. Estão morrendo pessoas que poderiam ser salvas, mas que não podem entrar na UTI", declarou à AFP Sara Chinchilla, uma pediatra de 32 anos que trabalha em Móstoles, perto de Madri, e que se vê obrigada a escolher quem terá acesso à Unidade de Terapia Intensiva (UTI).

Apesar dos números, a unidade europeia da OMS afirmou nesta quinta-feira que há "sinais encorajadores" de desaceleração da pandemia no continente.

No Reino Unido cresce o alerta pelo novo coronavírus, com um "tsunami contínuo" de pacientes nos hospitais públicos de Londres, afirmou um diretor do Serviço Nacional de Saúde.

A Alemanha aumentou o número de testes a 500.000 por semana, em uma estratégia de detecção precoce.

O vírus segue a propagação em outras regiões. O Irã registrou mais mortes nesta quinta-feira, e o balanço de vítimas fatais alcança 2.200.

A América Latina, com mais de 7.837 casos e 127 mortes, também aplica medidas drásticas: fechamento de fronteiras, confinamentos obrigatórios e toques de recolher em alguns países.

A taxa de mortalidade do vírus, que foi detectado pela primeira vez na China em dezembro, continua crescendo e os Estados Unidos já aparecem em sexto lugar na lista de países mais afetados do mundo, com quase 1.050 mortos e 70.000 casos confirmados, de acordo com dados da Universidade Johns Hopkins.

Uma situação que provocou a disparada da venda de armas.

"Muitas pessoas têm medo de que alguém entre em sua casa (...) para roubar dinheiro, papel higiênico, garrafas de água ou comida", afirmou à AFP Tiffany Teasdale, que vende armas no estado de Washington.

Quase metade da população dos Estados Unidos está em confinamento, mas o presidente Donald Trump afirma que deseja o país funcionando.

"Não vou fazer nada precipitado ou apressado", afirmou.

De modo paralelo, a Casa Branca continua criticando a China pela pandemia e na quarta-feira o secretário de Estado, Mike Pompeo, disse que o G7 está unido contra a campanha de "desinformação" da China sobre a doença.

Na China, um porta-voz do ministério das Relações Exteriores insinuou no Twitter que as tropas americanas levaram o vírus a Wuhan, a cidade onde o coronavírus foi registrado pela primeira vez no ano passado. Pequim critica o uso dos termos "vírus chinês" por parte da administração Trump.

Os cientistas acreditam que o novo coronavírus apareceu em um mercado onde animais vivos eram sacrificados.

Os países do G7 (Estados Unidos, Reino Unido, Canadá, França, Alemanha, Itália e Japão) se reuniram por videoconferência nesta quarta-feira, mas não divulgaram um comunicado conjunto por falta de unidade.

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