A repressão aos protestos no Chile volta a destacar violência policial
A queda de um adolescente de uma ponte em Santiago, após ser empurrado por um agente das forças de segurança, fez as atenções se voltaram aos Carabineros do Chile, a polícia nacional do país, acusados de cometer abusos apesar de uma prometida reforma.
Cerca de vinte policiais atacaram um grupo de manifestantes reunidos na última sexta-feira na Plaza Italia, em Santiago, epicentro das manifestações sociais que ocorrem no Chile desde outubro do ano passado.
Um dos policiais cercou o jovem de 16 anos até o parapeito da ponte Pio Nono sobre o rio Mapocho, onde ele caiu de mais de sete metros.
A Carabineros afirma que foi um acidente, mas para a Justiça o agente fez uso de força excessiva, mandando-o para a prisão por "tentativa de homicídio".
A poucos dias para 18 de outubro - um ano da maior manifestação social em décadas, que deixou cerca de 30 mortos e centenas de feridos - o incidente reacendeu o movimento nas ruas.
A polícia foi acusada de violar os direitos humanos ao reprimir os protestos e prometeu fazer uma reforma em seus procedimentos.
"Os meios logísticos foram incorporados e renovados" e está sendo feito um trabalho de "modernização institucional e capacitação permanente do pessoal; por exemplo, com capacitação e reciclagem no âmbito dos direitos humanos", explicou à AFP o Inspetor Geral Ricardo Yáñez, diretor de Ordem e Segurança dos Carabineros.
Entre as mudanças, destacou as "novas ferramentas tangíveis e intangíveis", como os novos carros que lançam jatos de água, popularmente conhecidos como 'guanacos', ou a comunicação através de alto-falantes "para informar os cidadãos" durante as manifestações.
No entanto, para os especialistas, pouca coisa mudou neste ano, já que os protestos ficaram paralisados por vários meses devido à pandemia.
Durante essa pausa, a os Carabineros buscaram treinar seu pessoal e equipar-se com equipamentos mais modernos para o controle da ordem pública.
Lucía Dammert, especialista em questões de segurança e professora da Universidade de Santiago, afirma que um dos principais problemas da polícia chilena é a concepção de que enfrenta "um inimigo interno permanente".
"Percebe-se que é uma estratégia policial muito marcada entre 'nós' e 'os outros', e os outros são os inimigos, os criminosos, os vândalos, e é uma retórica que também tem uma ressonância política que a legitima", explicou Dammert.
Agora os "eles" são os manifestantes, afirma a acadêmica, embora também o sejam os mapuches e os setores populares.
Os casos de corrupção descobertos após o desvio de mais de US$ 30 milhões por generais entre os anos de 2006 e 2017, além do assassinato de um membro da comunidade mapuche, Camilo Catrillanca, em 2018 - morto por um tiro na cabeça disparado por um policial - contribuíram para minar o imagem pública dessa instituição que até cinco anos era muito conceituada no país e uma das mais prestigiadas da região.
Para Dammert, nem a saída do diretor-geral dos Carabineros, Mario Rozas - exigida pela oposição após o incidente de sexta-feira - serviria para aliviar o descontentamento de grande parte do país com sua polícia, que precisa de uma "reforma estrutural" e treinamento exaustivo dos seus efetivos.
O Instituto Nacional dos Direitos Humanos (INDH) também alertou que "os Carabineros do Chile não deram toda a colaboração necessária para que haja verdade e justiça" no país a respeito "das graves violações dos direitos humanos ocorridas durante as manifestações sociais", ressaltou seu diretor jurídico, Rodrigo Bustos.
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