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Opas alerta para 'intensa transmissão' de covid-19 no Caribe

Taxista dirige carro americano antigo pelas ruas de Havana, em Cuba, com máscara no rosto para proteção contra o covid-19 - Yamil Lage/AFP
Taxista dirige carro americano antigo pelas ruas de Havana, em Cuba, com máscara no rosto para proteção contra o covid-19 Imagem: Yamil Lage/AFP

07/10/2020 17h03

A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) alertou nesta quarta-feira (7) para uma "transmissão intensa" da covid-19 no Caribe, mesmo em locais com uma boa gestão da pandemia - como Cuba e Jamaica - e pediu para "não baixar a guarda" para evitar a propagação do vírus.

"Nos últimos 60 dias, 11 países e territórios caribenhos passaram de transmissão moderada para intensa, o que é motivo de preocupação à medida que os países reabrem o espaço aéreo", afirmou Carissa Etienne, diretora da Opas, agência regional da Organização Mundial de Saúde (OMS).

"Estamos preocupados com o aumento dos casos, mesmo em lugares que gerenciaram a pandemia de forma eficaz, como Cuba e Jamaica", ressaltou ela.

Os países do Caribe, cujas economias dependem fortemente do turismo, reabriram suas fronteiras para viagens não essenciais a partir de julho.

Consultado pela AFP sobre os "pontos quentes" nesta zona, Sylvain Aldighieri, gerente de incidentes para a covid-19 na Opas, disse que Trinidad e Tobago e as Bahamas reportaram "um aumento importante da transmissão" desde então, destacando que neste último caso a complexidade é maior por se tratar de um arquipélago.

"É um risco com o qual os países terão que viver", disse Aldighieri sobre o fluxo de turistas, que considerou "vital" para sua economia.

"Não há uma única medida que funcione como uma varinha de condão", acrescentou, embora tenha pedido destaque para detecção e o rastreamento de casos.

"Boa notícia"

A diretora destacou como "boas notícias" a queda nas taxas dos casos graves de covid-19 na região.

"Hoje, há menos pessoas hospitalizadas e precisam de menos cuidados intensivos do que antes", acrescentou.

Etienne atribuiu essa melhora ao aumento da compreensão científica em relação ao vírus desde que surgiu na China no final do ano passado, além do aumento no número de laboratórios, leitos hospitalares e treinamento de profissionais de saúde.

No entanto, ela insistiu na necessidade de continuar usando máscaras e manter distanciamento físico dos demais.

"Não é hora de baixar a guarda. A transmissão ainda é muito alta em nossa região", alertou.

O continente americano é a região do mundo mais afetada pela pandemia global declarada em março. Com mais de 17 milhões de casos e mais de 574.000 mortes, concentra a metade de todos os contágios e mais da metade de todos os óbitos por covid-19 do planeta.

"Desigualdades exacerbadas"

Os Estados Unidos e o Brasil, os países com mais mortes por coronavírus no mundo, continuam a ser "motores importantes" de novas infecções, explicou Etienne, evidenciando as desigualdades agravadas pela pandemia.

"Nos Estados Unidos, que abrigam mais de 40% dos novos casos em nossa região, as populações negra, hispânica e indígena têm quase três vezes mais probabilidade de contrair a covid-19 do que os cidadãos brancos", observou.

"Eles também têm quase cinco vezes mais chances de serem hospitalizados e duas vezes mais chances de morrer pelo vírus", acrescentou.

Aldighieri explicou que o impacto sobre estas minorias se explica por suas características populacionais.

Por seus trabalhos, que em geral não podem ser realizados remotamente, ficam mais expostas ao vírus. Também são menos remuneradas, razão pela qual vivem em espaços menores e mais densamente povoados, e têm um acesso mais limitado aos serviços de saúde.

Além disso, apresentam taxas maiores de comorbidades, como diabetes, hipertensão e obesidade, que os tornam mais vulneráveis ao vírus.

Neste ano, nos Estados Unidos, quase 211.000 pessoas morreram e 7,5 milhões foram infectadas pelo novo coronavírus, que vem se tornando a terceira principal causa de morte no país em 2020.

Etienne também destacou o forte impacto da covid-19 entre os povos indígenas nas áreas amazônicas da Colômbia e do Brasil, que, segundo ela, têm dez vezes mais probabilidade de contrair a doença do que outros grupos étnicos.

A pobreza em que vivem estas populações, tanto nas zonas urbanas quanto rurais, e as barreiras culturais que enfrentam, não só de idioma, explicam isto, disse Aldighieri.

Ele acrescentou que 50% destes indígenas vivem em zonas remotas, o que dificulta ainda mais que tenham acesso à atenção médica.