Jamil Chade

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Reportagem

ONU chancela proposta do Brasil de taxar fortunas e denuncia desigualdades

A ONU se uniu à proposta do Brasil de criar uma taxação sobre as grandes fortunas, como forma de lidar com a desigualdade crescente no planeta. Em um discurso feito diante de representantes de governos nesta terça-feira (18), em Genebra, o alto comissário da ONU para Direitos Humanos, Volker Turk, destacou a iniciativa do governo de Luiz Inácio Lula da Silva como um dos caminhos para dar uma resposta ao desequilíbrio global.

"Globalmente, a desigualdade teve o maior aumento em três décadas, pois os países mais pobres sofreram um impacto econômico maior com a pandemia da COVID-19 em comparação com os países mais ricos", disse Turk, diante do Conselho de Direitos Humanos e na apresentação de uma espécie de raio-x da situação internacional.

De acordo com a Oxfam, a riqueza dos cinco bilionários mais ricos do mundo mais do que dobrou desde o início desta década, enquanto 60% da humanidade ficou mais pobre. 4,8 bilhões de pessoas são mais pobres do que eram em 2019 Volker Turk

Segundo ele, a diferença de riqueza entre homens e mulheres em todo o mundo chega a 100 trilhões de dólares.

Em sua avaliação, as metas da Agenda 2030 - de desenvolvimento social - estão "muito longe de serem atingidas".

"Quase metade da humanidade - cerca de 3,3 bilhões de pessoas - vive em países onde os governos gastam mais com os juros de suas dívidas do que investindo em sistemas de saúde e educação para seu povo", afirmou.

Turk defendeu que haja uma alinhamento dos sistemas econômicos, de tratados comerciais a acordos de investimento, regulamentação de negócios a estruturas de desenvolvimento com os direitos humanos, inclusive o direito ao desenvolvimento. "Isso também tem consequências para a reforma da arquitetura financeira internacional", afirmou.

Ele ainda listou "iniciativas promissoras estão em andamento" para permitir essa reforma. Elas são:

A Iniciativa de Bridgetown, um pacote de seis medidas para transformar o sistema financeiro internacional;

A proposta de um novo tratado sobre Cooperação Tributária Internacional;

A alíquota mínima global de 15% da OCDE para empresas multinacionais;

O imposto global mínimo de 2% sobre a riqueza dos bilionários, proposto pelo Brasil, atual presidente do G20.

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Somente essa última medida poderia gerar cerca de 300 bilhões de dólares por ano para combater as mudanças climáticas, as desigualdades e a pobreza

"Espero que essas iniciativas sejam mais um gatilho para a verdadeira transformação necessária, trabalhando em conjunto, para colocar os direitos humanos no centro de todas as decisões econômicas", disse o representante máximo da ONU para Direitos Humanos.

Nas últimas viagens ao exterior, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem colocado a taxação às grandes fortunas como uma espécie de bandeira de sua política externa e de sua presidência no G20. Na semana passada, tanto na cúpula do G7 como num discurso na OIT, o brasileiro insistiu em defender a proposta.

Desigualdade pelo mundo

Nesta terça-feira, o chefe da ONU ainda citou casos específicos pelo mundo de como essa desigualdade e a falta de uma reforma do sistema internacional têm criado conflitos e retirada de diretos.

"Embora a situação macroeconômica do Sri Lanka tenha melhorado, os impactos da crise econômica, juntamente com as medidas de austeridade associadas, estão afetando mais os grupos mais pobres e já marginalizados", disse. Entre 2021 e 2023, a taxa de pobreza dobrou de 13,1% para 25,9% e a previsão é de que permaneça nesses níveis nos próximos anos.

"Durante minha recente visita à República Democrática Popular do Laos, fiquei sabendo do impacto drástico que o serviço da dívida está tendo sobre os gastos públicos com serviços sociais, incluindo infraestrutura social, programas de proteção social, saúde e educação", contou Turk.

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Por fim, ele destacou a crise na Argentina. "As recentes medidas propostas e adotadas correm o risco de prejudicar a proteção dos direitos humanos", afirmou.

"Isso inclui cortes nos gastos públicos que afetam particularmente os mais marginalizados, o fechamento anunciado de instituições estatais dedicadas aos direitos das mulheres e ao acesso à justiça e uma instrução do Ministério das Relações Exteriores para suspender a participação em todos os eventos no exterior relacionados à Agenda 2030", completou, numa referência às políticas de Javier Milei.

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