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Estados Unidos e a ameaça crescente das milícias de extrema-direita

Apoiador do grupo extremista norte-americano Proud Boys, em Charlotte, Carolina do Norte - Getty Images
Apoiador do grupo extremista norte-americano Proud Boys, em Charlotte, Carolina do Norte Imagem: Getty Images

10/10/2020 11h18

Eles planejavam sequestrar a governadora do Michigan e iniciar "uma guerra civil": a prisão de 13 homens poucas semanas antes das eleições nos Estados Unidos lançou luz sobre a existência de grupos armados de extrema-direita que constituem, segundo a Polícia Federal, a principal ameaça terrorista sob o mandato de Donald Trump.

Grupos armados com ideologias de direita e várias motivações há muito fazem parte da paisagem americana.

Quando Donald Trump chegou ao poder, eles saíram do anonimato participando do comício de extrema-direita de Charlottesville, Virgínia, em 2017, em protestos contra as medidas de confinamento para combater o coronavírus na primavera, ou marcando presença nos contra-protestos contra a brutalidade policial desde este verão.

Os mais conhecidos - Three Percenters, Oath Keepers, Proud Boys, Boogaloos Bois ou Patriot Prayer - têm em comum a defesa do direito de possuir armas de fogo e a hostilidade ao governo, autoridade ou ideias esquerdistas.

Alguns são supremacistas brancos e têm ligações com movimentos neonazistas, ou veem as forças de ordem como agentes de um governo autoritário. Outros planejam uma revolução nacional ou guerra racial.

Às vezes aderem teses do movimento conspiratório de extrema-direita QAnon, que afirma que Donald Trump trava uma guerra secreta contra uma seita liberal global composta de pedófilos satanistas.

Segundo especialistas, essas milícias contam com vários milhares de apoiadores no país, que se comunicam por mensagens criptografadas nas redes sociais.

- Projeto de sequestro -A maioria dos 13 homens presos na quinta-feira em Michigan adere à ideologia "Boogaloo" e vários deles eram membros de um grupo local chamado "Wolverine Watchmen".

O movimento Boogaloo, que reúne neonazistas e anarquistas de extrema direita, quer derrubar o governo por meio de uma guerra civil.

Seus apoiadores podem ser reconhecidos pelas camisas havaianas que usam sobre os trajes militares.

Vários membros do Wolverine participaram dos protestos contra as restrições em Michigan decretadas pela governadora Gretchen Whitmer, alegando que violava seus direitos.

Eles treinavam regularmente no manuseio de armas "para preparar o 'boogaloo', em referência a uma violenta insurreição contra o governo ou a uma guerra civil de motivação política", segundo a Justiça de Michigan.

- "Ameaça terrorista" -O FBI acredita que os militantes de extrema direita, isolados ou dentro de pequenos grupos, têm sido a principal ameaça de terrorismo doméstico nos Estados Unidos desde 2019.

São acusados de serem responsáveis por dezenas de mortes nos últimos três anos, em comparação com um punhado de vítimas de extremistas islâmicos.

O diretor do FBI, Christopher Wray, afirmou em setembro que os supremacistas brancos eram a principal ameaça extremista, mas a maior parte da violência mortal foi realizada por militantes anti-autoridade e anti-governo, como o assassinato em maio de dois policiais californianos por um simpatizante do Boogaloo.

- Ameaça às eleições -Esses pequenos grupos representam uma ameaça potencial para a votação de 3 de novembro.

Donald Trump, que regularmente denuncia os riscos de fraude maciça orquestrada pelos democratas, pediu a seus apoiadores que fossem às seções eleitorais para "proteger" as cédulas.

"Peço aos meus apoiadores que vão aos colégios e assistam com atenção porque é isso que vai acontecer", disse o presidente republicano durante o debate com o democrata Joe Biden no final de setembro.

Ele também causou alvoroço ao pedir aos Proud Boys que "ficassem prontos" em vez de condená-los. "Estamos prontos", respondeu Joe Biggs, um dos líderes deste grupo acostumado a brigas com militantes de esquerda.

Nos estados que permitem o porte de armas no espaço público, é difícil evitar que milícias ou militantes armados se reúnam em frente às mesas eleitorais, desde que não façam ameaças diretas.

Mas eles podem ser uma ferramenta de intimidação. Christopher Wray afirmou recentemente que o FBI estava preocupado com o risco de confrontos violentos entre milícias de extrema direita e ativistas que se declaram "antifascistas" antes das eleições.

"Agora temos combustível adicional para um surto de violência", disse ele.

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