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ONU alerta para risco de grande crise humanitária na fronteira entre Etiópia e Sudão

ONU alerta para risco de grande crise humanitária na fronteira entre Etiópia e Sudão - Dominick Reuter/AFP
ONU alerta para risco de grande crise humanitária na fronteira entre Etiópia e Sudão Imagem: Dominick Reuter/AFP

17/11/2020 19h36

Adis Abeba, 17 Nov 2020 (AFP) - A ONU alertou hoje para a "crise humanitária em larga escala" que está sendo gerada na fronteira entre Etiópia e Sudão, depois que milhares de pessoas fugiram de combates que acontecem na região dissidente de Tigré há duas semanas.

Preocupada com a ameaça à estabilidade naquela região, a comunidade internacional pressiona para que seja encerrada a operação militar lançada pelo premier etíope, Abiy Ahmed, que anunciou hoje a entrada da mesma em sua fase final muito em breve.

No último dia 4, Ahmed enviou o Exército àquela região dissidente da Etiópia, após meses de tensão com as autoridades regionais da Frente de Libertação dos Povos de Tigré (TPLF). Segundo um porta-voz da Agência da ONU para os Refugiados (Acnur), os combates levam cerca de 4 mil pessoas a cruzar diariamente a fronteira entre Etiópia e Sudão desde o último dia 10.

"É um fluxo de pessoas que não víamos nessa parte do país há duas décadas", assinalou Babar Baloch, porta-voz da Acnur em Genebra. O grande número de pessoas "está excedendo muito rapidamente a capacidade das organizações humanitárias locais", acrescentou. O bloqueio imposto àquela região e as restrições ao deslocamento de jornalistas dificultam que a situação seja avaliada em campo.

No campo de Um Raquba, reaberto às pressas no leste do Sudão, concentram-se milhares de refugiados etíopes do Tigré. "Eu vivia com minhas três filhas. Quando começou a chover obuses sobre nossa casa, elas fugiram no escuro e não consegui encontrá-las", contou Ganet Gazerdier, 75, que morava em Humera, oeste de Tigré.

Combate continua

Na última sexta-feira, Abiy Ahmed afirmou que as forças da TPLF "agonizavam" e pediu aos soldados do grupo que desertassem em favor do Exército federal em dois ou três dias. Na manhã de hoje, ele declarou no Facebook que o prazo dado há dias aos soldados da TPLF para que se retirassem em favor do Exército havia expirado, abrindo caminho para a "fase final" de sua operação militar.

À tarde, o governo etíope divulgou um comunicado afirmando que controlava várias cidades do sul do Tigré e que suas forças avançavam rumo a Mekele, capital regional. Antes, o Exército havia afirmado que controlava o oeste de Tigré, onde os combates se concentraram e causaram centenas de mortes, segundo Adis Abeba, bem como a localidade de Alamata.

O presidente do Tigré, Debretsion Gebremichael, declarou à AFP que "o governo e o povo da região permanecerão firmes", dando a entender que os combates devem prosseguir. "Esta campanha não pode acabar. Enquanto o exército dos invasores estiver em nossa terra, a luta continuará. Não podem nos calar pela força."

Propagação do conflito

Um dia depois que a TPLF lançou foguetes contra a capital da vizinha Eritreia, acusando-a de ajudar o Exército, a preocupação com as consequências regionais do conflito aumenta. "Estamos profundamente preocupados com essa tentativa flagrante da TPLF de causar uma instabilidade regional ao expandir seu conflito com as autoridades etíopes para os países vizinhos", indicou o secretário de Estado americano, Mike Pompeo. "Apreciamos a moderação da Eritreia, que ajudou a evitar uma propagação maior do conflito."

Ganhador do Nobel da Paz em 2019, Abiy Ahmed resiste aos apelos da comunidade internacional pelo fim dos combates e para que aceite uma mediação. Os presidentes de Uganda e Quênia, Yoweri Museveni e Uhuru Kenyatta, respectivamente, fizeram pedidos de paz e diálogo na segunda-feira, quando receberam em uma reunião o vice-primeiro-ministro etíope Demeke Mekonnen, que defendeu a ação do governo.

Para Adis Abeba, não haverá mediação até que os líderes do Tigré deixem as armas e sejam levados à Justiça. A tensão entre Abiy Ahmed e a TPLF, que controlou por 30 anos o aparelho político e de segurança do país, provocou a organização em Tigré de uma votação eleitoral em setembro, que o governo classificou de ilegítima.