Europeus e americanos pedem que Irã cumpra 'totalmente' o acordo nuclear
Paris, 19 Fev 2021 (AFP) - Autoridades europeias e americanas pediram nesta quinta-feira (18) que o Irã cumpra "totalmente" o acordo nuclear de 2015, e afirmaram ser "perigoso" que Teerã limite o acesso dos inspetores internacionais a algumas instalações, como planeja fazer nos próximos dias.
O ministro francês das Relações Exteriores, Jean-Yves Le Drian, recebeu seus colegas alemão, Heiko Maas, e britânico, Dominic Raab, à tarde, em Paris, em uma reunião da qual participou por videoconferência o secretário de Estado americano, Antony Blinken.
As quatro potências ocidentais reafirmaram seu "objetivo comum de que o Irã mais uma vez cumpra integralmente seus compromissos" sob o acordo de 2015 relativo ao programa nuclear iraniano, de acordo com um comunicado conjunto divulgado após a reunião.
As autoridades destacaram seu interesse comum em "preservar o regime de não proliferação nuclear e garantir que o Irã nunca possa adquirir uma arma nuclear", segundo a nota.
Horas depois da reunião, os Estados Unidos afirmaram que estão dispostos a conversar com o Irã e que renunciaram às pretensões do ex-presidente Donald Trump de impôr novas sanções na ONU contra Teerã.
"Os Estados Unidos aceitariam um convite do Alto Representante da União Europeia para participar de uma reunião do P5 + 1 (EUA, Rússia, China, Reino Unido, França e Alemanha) e o Irã para discutir uma via diplomática para o programa nuclear iraniano", informou o porta-voz do Departamento de Estado, Ned Price.
Essas declarações acontecem dias antes de um prazo preocupante: por meio de uma lei aprovada pelo Parlamento iraniano, Teerã planeja restringir a partir de 21 de fevereiro o acesso de inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) a algumas instalações se os Estados Unidos não suspenderem seu sanções impostas desde 2018.
Os quatro chanceleres ressaltaram a natureza "perigosa" da decisão e instaram o Irã a "considerar as consequências de uma ação tão grave, especialmente neste momento de renovada oportunidade diplomática".
"Nossas medidas são uma resposta às violações americanas e europeias", reagiu o chanceler iraniano Mohamad Javad Zarif na noite de quinta-feira, pedindo "o fim do terrorismo econômico herdado" do governo do presidente Donald Trump. "Responderemos aos atos com atos", acrescentou.
França, Alemanha, Reino Unido e Estados Unidos também expressaram preocupação com a recente decisão do Irã de produzir urânio enriquecido em 20% e urânio metálico, o que é um "passo fundamental no desenvolvimento de uma arma nuclear".
"O secretário de Estado Blinken lembrou que, como disse o presidente (americano Joe) Biden, se o Irã voltar a cumprir estritamente seus compromissos (...), os Estados Unidos farão o mesmo, e estavam dispostos a iniciar negociações com o Irã para isso".
Desde a retirada dos Estados Unidos do acordo em 2018, decidida pelo então presidente Trump, e o retorno das sanções que sufocam a economia iraniana, Teerã vem se livrando de muitas das restrições que havia concordado impor ao seu programa nuclear.
A chegada de Joe Biden à Casa Branca em janeiro gerou esperanças de que o diálogo entre Washington e Teerã fosse retomado, após uma política de "pressão máxima" exercida por seu antecessor.
Mas Biden disse que os EUA pretendem retornar ao pacto quando o Irã retomar seus compromissos na totalidade.
- "Encontrar uma solução mutuamente aceitável" -O diretor-geral da AIEA, Rafael Grossi, deve viajar a Teerã no sábado para "encontrar uma solução mutuamente aceitável", de acordo com o órgão sediado em Viena, que está preocupado com o "grave impacto" dessas restrições.
Teerã deve garantir "cooperação plena e rápida" à AIEA, insistiu o porta-voz da diplomacia dos EUA, Ned Price, na quarta-feira.
"O Irã deve recuar e não tomar outras medidas que tenham impacto nas garantias da AIEA, com as quais contam não só os Estados Unidos, não só aliados ou parceiros na região, mas todo o mundo", acrescentou.
Por sua vez, o Irã rejeita os pedidos de ampliação dos termos do acordo.
"O que é necessário agora são gestos americanos concretos que realmente mostrem ao Irã que os EUA estão se afastando da política de pressão máxima do mandato de Trump", disse à AFP Ellie Geranmayeh, especialista em Irã do Conselho Europeu de Relações Exteriores (ECFR).
burs-meb/bl/jc/mvv/ic/am
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