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Número oficial de mortes por covid-19 na Índia gera dúvidas

08.mai.2021 - Profissionais de saúde transferem corpo de vítima da covid-19 do IML em Ahmedabad, na Índia - REUTERS/Amit Dave
08.mai.2021 - Profissionais de saúde transferem corpo de vítima da covid-19 do IML em Ahmedabad, na Índia Imagem: REUTERS/Amit Dave

12/05/2021 09h16Atualizada em 12/05/2021 09h54

A Índia ultrapassou oficialmente nesta quarta-feira (12) as 250.000 mortes por covid-19 desde o início da pandemia, mas os dados anunciados oficialmente neste país de 1,3 bilhão de pessoas apontam para um balanço muito maior.

De acordo com o ministério da Saúde indiano, 4.205 pessoas morreram nas últimas 24 horas, elevando o balanço total de mortos para 254.197. As infecções ultrapassam 23,3 milhões, depois de somar quase 350.000 a mais.

A nova onda sobrecarregou hospitais, crematórios e cemitérios. E embora a incidência do vírus pareça estar diminuindo nas grandes cidades, atinge duramente áreas rurais no interior, onde vivem dois terços da população.

"As mortes são muito mais numerosas do que revelam nossos dados oficiais", disse à AFP o pesquisador independente em Políticas de Saúde e Bioética Anant Bhan, para quem "mesmo um número três ou quatro vezes maior seria uma estimativa subestimada".

Os números não batem, especialmente em Gujarat (oeste), o estado natal do primeiro-ministro indiano, o nacionalista hindu Narendra Modi, e governado pelo Bharatiya Janata Party (BJP).

Em Rajkot, por exemplo, 154 mortes foram oficialmente reportadas entre 1º e 23 de abril, embora as autoridades de saúde da cidade tenham registrado 723.

No mesmo período, Bharuch declarou oficialmente 23 mortos, mas, de acordo com funcionários de crematórios e cemitérios, 600 funerais foram realizados no total.

Sem coveiros suficientes

O chefe de Governo regional de Gujarat, Vijay Rupani, garantiu que estavam seguindo as orientações do Conselho Indiano de Pesquisa Médica, estipulando que apenas mortes "diretamente provocadas" pela covid-19 podem ser registradas como tal.

Em contrapartida, os óbitos relacionados à coexistência de duas ou mais doenças no mesmo indivíduo (comorbidade) não são considerados.

Em Lucknow, capital do estado de Uttar Pradesh (norte), no cemitério muçulmano de Aishbagh, o coveiro Hafiz Abdul Matee lembra que, antes da pandemia, aconteciam entre quatro a cinco enterros por dia.

"Hoje, 45 corpos de vítimas da covid foram enterrados aqui", disse à AFP. "Aumentamos o número de coveiros, mas não é o suficiente, porque os homens se cansam e adoecem", explicou.

Os números oficiais em outros estados, como Haryana (norte), também não batem com o número de enterros. De acordo com a imprensa local, o mesmo ocorre em Nova Delhi.

"Batalha de dados"

"Nossa estimativa é que o governo não registra 50% das mortes por covid-19", disse à AFP Jitender Singh Shanty, chefe de um dos 26 crematórios da capital.

Contactado pela AFP, o porta-voz do partido de Modi, R.P. Singh, rejeita que os números sejam subestimados e atribui a diferença às manobras políticas. "Ninguém pode esconder cifras hoje em dia".

"Na Índia, não estamos apenas lutando contra uma pandemia, mas também uma séria batalha de dados, compartilhamento de dados e transparência", comentou à AFP Rijo M. John, economista e pesquisador em saúde pública.

Para Anant Bhan, dados imprecisos tornam difícil para a população e o governo entender a pandemia. "Se os dados não são bem conhecidos, não é possível lançar uma resposta eficaz", acrescenta.

Sonalika Sahay, uma estudante universitária de 22 anos, questiona os dados oficiais: "O governo diz que (...) a situação está melhorando. Como é possível então que os corpos sejam jogados aos rios às dezenas?"