Gritzbach: Advogado que enganou delator do PCC usou MP em outro golpe
O advogado Ramsés Benjamin Samuel Costa Gonçalves, 52, investigado por suspeita de ter utilizado os nomes de um delegado e de um deputado para tomar dois apartamentos e R$ 300 mil do empresário Vinícius Gritzbach, 38, também usou o nome do MP-SP (Ministério Público do Estado de São Paulo) em outro golpe.
Investigações da Polícia Civil mostram que, em 5 de novembro de 2012, Ramsés enviou pelo correio uma carta para um empresário, simulando tratar-se de uma ação movida contra ele pelo Ministério Público. Ramsés já defendia o cliente em outros processos e dessa vez cobrou R$ 60 mil pelos honorários.
O advogado se reuniu com o empresário e, na ocasião, chegou a fingir que falava com o representante do Ministério Público para propor um acordo em relação à ação penal. O cliente acreditou em Ramsés e pagou a quantia solicitada.
Dias depois, o empresário tomou conhecimento da inexistência da ação, entrou em contato com Ramsés e pediu o dinheiro de volta. O advogado mandou que ele procurasse a Justiça se quisesse o reembolso dos honorários pagos, e ainda deixou de defendê-lo nos demais processos.
A vítima prestou queixa no 1º DP (Sé). Ramsés foi acusado por estelionato e patrocínio infiel (trair a parte que o contratou, deixando de defender seus interesses). A Polícia Civil diz que o advogado registra 13 passagens por vários crimes, como extorsão, violência doméstica e ameaça.
Em setembro deste ano, durante delação a promotores de Justiça do Gaeco, (Grupo de Atuação Especial e de Combate ao Crime Organizado), Gritzbach contou que foi apresentado a Ramsés em março de 2022 e que o advogado lhe disse ser influente e resolveria todos os problemas dele com a polícia.
Na lista dos problemas estariam a devolução do passaporte de Gritzbach, apreendido por policiais com autorização judicial, o desbloqueio de todos os bens dele e, principalmente, poder responder em liberdade a todos os processos pendentes, inclusive os de lavagem de dinheiro.
Diretor do Deic foi afastado
Segundo Gritzbach, o advogado teria feito uma reunião com o deputado estadual Olim (PP), com o delegado Fábio Pinheiro Lopes, o Fábio Caipira, então diretor do Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais) e com outro delegado, à época lotado no 24º DP (Ermelino Matarazzo).
Na delação, o empresário diz que Ramsés cobrou R$ 5 milhões, sendo R$ 800 mil de honorários para ele e o restante para a propina. Gritzbach contou que, como forma de pagamento, deu dois apartamentos, diversos cheques e R$ 300 mil em transferências bancárias realizadas em 24 de junho de 2022.
O delator entregou aos promotores de Justiça um print de uma mensagem enviada por Ramsés por WhatsApp, na qual o advogado informa que estaria no departamento contando parte da propina em dinheiro, e também outro print de uma foto de Ramsés na Alesp (Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo).
Na última sexta-feira (20), o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos) anunciou o afastamento de Fábio Pinheiro do cargo de diretor do Deic e do delegado do 24º DP, justamente por conta das citações dos nomes de ambos na delação de Gritzbach.
O que disseram o delegado e o deputado
Em nota à imprensa, o delegado Fábio Pinheiro afirmou que "a investigação sobre lavagem de dinheiro contra Gritzbach foi realizada dentro da mais estrita legalidade e, dessa forma, ou o empresário faltou com a verdade para obter vantagens no acordo de delação ou foi enganado pelo advogado".
Fábio Pinheiro acrescentou que "o delator não teve nenhuma vantagem e os imóveis citados por ele, usados para pagar a suposta propina, estão em nome de Ramsés e de uma filha do próprio advogado".
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Quero receberA nota informa ainda que Gritzbach foi indiciado no inquérito de lavagem de dinheiro, teve a prisão pedida pelo Deic e também os bens bloqueados e continuou com o passaporte apreendido.
O deputado Olim informou por meio de nota que o nome dele foi usado, que a acusação é mentirosa e o advogado utilizou os nomes de várias autoridades para obter vantagens. O parlamentar acrescentou que tomará todas as medidas legais e cabíveis.
A reportagem não conseguiu contato com o advogado Ramsés Benjamin Samuel Costa Gonçalves. O espaço continua aberto para manifestação. O texto será atualizado se houver um posicionamento.
Antônio Vinícius Lopes Gritzbach foi assassinado em 8 de novembro no aeroporto internacional de Guarulhos. Oito dias antes, ele tinha feito outra delação à Corregedoria da Polícia Civil e denunciou cinco policiais civis envolvidos em corrupção. Todos eles estão presos.
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